O silêncio foi a estratégia adotada pela maioria das antigas e atuais marcas parceiras do lateral-direito brasileiro Daniel Alves, que se encontra preso preventivamente na Espanha, acusado de praticar violência sexual contra uma mulher de 23 anos, em uma boate em Barcelona.
O possível estupro, que está sendo investigado pelas autoridades do país europeu, repercutiu nos principais veículos midiáticos do planeta. Até o momento, segundo o que já foi divulgado pela imprensa espanhola, são fortes os indícios que pesam contra o jogador. Nas tentativas de se defender das acusações, ele teria apresentado à polícia três versões diferentes sobre o episódio.
Nos últimos tempos, sobretudo a partir do movimento #MeToo, em que artistas e outras profissionais de Hollywood passaram a denunciar publicamente casos de abusos sexuais e assédio sofridos por elas na indústria cinematográfica, a reação das empresas a esse tipo de acusação tem sido rápida e incisiva, até porque as marcas tentam, cada vez mais, se associar a ideias como igualdade de gênero, inclusão e respeito à diversidade.
No caso de Daniel Alves, porém, as antigas e atuais patrocinadoras do jogador adotaram uma postura de muita cautela. Quem acessa o Twitter da Adidas, que patrocinou o atleta até o fim do ano passado, se deparará, volta e meia, com mensagens em favor do empoderamento e da participação feminina. Ou pelo menos posts tentando dialogar com as consumidoras, como este, que foi publicado no último dia 12 de janeiro.
Sobre seu ex-contratado, nenhuma linha foi dita pela fornecedora de material esportivo. Nos bastidores, pode-se argumentar que o silêncio neste caso se justifica, já que a marca não possui mais qualquer vínculo com o atleta. Este, aliás, é um contrato que chegou ao fim e dificilmente será substituído tão cedo, uma vez que nenhuma concorrente da Adidas desejará se associar às notícias negativas envolvendo o jogador, mesmo com ele possuindo 38,5 milhões de seguidores no Instagram e tendo conquistado 43 troféus ao longo da carreira.
Silêncio das atuais parceiras
Entre as instituições que ainda mantêm vínculo com Daniel Alves, a maioria evita tocar publicamente no caso. A empresa russa de apostas 1xBet, que, em dezembro do ano passado, anunciou o lateral-direito como seu embaixador, é uma das marcas que adotaram essa estratégia em relação ao atleta.
Quem acessa os perfis oficiais da marca nas redes verá alguns conteúdos relacionados a Daniel Alves, caso da postagem de 15 de novembro do ano passado, feita no Instagram, em que o brasileiro foi anunciado como embaixador da empresa. Mas nada relacionado às denúncias de agressão sexual.
“Família Ethika”
Sediada na Califórnia (EUA), a marca de roupas Ethika é outra que tem sido extremamente cautelosa em relação ao escândalo envolvendo o jogador. Em seu site oficial, existe uma aba denominada “The Ethika Familie”, com fotos de astros ligados à empresa, como o rapper Snoop Dogg, o ex-piloto de MotoGP Valentino Rossi e Daniel Alves.
Ao longo de dezembro, o jogador publicou no Instagram diversas postagens divulgando trajes da marca, que, por enquanto, preferiu não se pronunciar publicamente a respeito das acusações de violência sexual e manter no ar os conteúdos relacionados a ele.
Demissão no Pumas
Clube ligado à principal instituição de ensino superior do México (a Unam, universidade pública com quase 280 mil alunos), o Pumas anunciou, na última sexta-feira (20), a rescisão do contrato com o jogador brasileiro. A demissão foi por justa causa. Inicialmente, a equipe havia adotado a postura de aguardar o desenrolar do escândalo.
Com a repercussão que as acusações foram ganhando, porém, o presidente do time, Leopoldo Silva, optou por fazer um comunicado à imprensa, informando sobre o fim do vínculo com o lateral.
“Com esta decisão, o clube reitera seu compromisso de não tolerar atos de nenhum integrante da nossa instituição que atentem contra o espírito universitário e seus valores”, afirmou o dirigente.
Tomando-se por base as informações veiculadas na Espanha a respeito da investigação, essa rescisão deverá custar em torno de US$ 300 mil ao mês a Daniel Alves (quantia que o jogador receberia do Pumas). Na época em que ele foi contratado pelo clube mexicano, os valores divulgados eram de US$ 2 milhões anuais em salários, além de US$ 3 milhões em luvas.
Manifestações de apoio
“O juízo precipitado das multidões é a mãe de todas as injustiças”.
Com esta citação atribuída a um autor desconhecido, a Brillacom, holding do mercado financeiro e de cripto, inicia seu post em apoio a Daniel Alves. A empresa é sócia do lateral na moeda virtual Light DeFi, que tem relação com projetos de energia solar e atualmente está cotada em US$ 0,000069.
Na nota, a Brillacom alega que Daniel Alves tem uma reputação impecável, manifesta completo apoio ao jogador e sua família e afirma acreditar “firmemente em sua inocência”. Posts em português, espanhol e inglês, com a foto do lateral-direito e uma frase sobre sustentabilidade, foram fixados no alto do perfil da Light DeFi.
Mantido pelo atleta, o Instituto Daniel Alves, na Bahia, também saiu em defesa do jogador, elencando ações sociais que teriam sido realizadas por ele ao longo do tempo. Por outro lado, a postagem feita pela entidade não chega sequer a tocar no mérito das denúncias feitas contra seu presidente.
O detalhe curioso é que as postagens do Instituto Daniel Alves atualmente estão fechadas para comentários, diferentemente da Light DeFi, cujas publicações em favor do atleta têm atraído diversos questionamentos e críticas feitas por seguidores e demais usuários do Instagram.
Esse tipo de reação do público está longe de ser um movimento isolado. Outros que insistem em manter no ar conteúdos positivos recentes relacionados ao jogador também têm enfrentado muitas cobranças dos seguidores, caso do grupo espanhol de pop rock PostCode, que publicou vídeos e fotos ao lado de Daniel Alves no dia 9 deste mês, ou da marca de roupas Dust of Gods, que teve peças divulgadas pelo lateral no Instagram no último dia 12, pouco mais de uma semana antes de o escândalo explodir.