Mesmo tendo passado seis meses do ano de 2023, acredito que ainda há tempo de compartilhar algumas tendências no mundo do esporte apontadas por entidades, organizações, veículos de comunicação e profissionais especializados. Seguem abaixo partes de alguns relatórios ou artigos referenciais dos quais extraí pedaços originais dos textos ou resumos interpretados dos conteúdos acessados, todos com as devidas fontes indicativas.
- Direitos de distribuição disruptivos: um dos principais dilemas do negócio de esportes é saber se a receita dos direitos de mídia se manterá à medida que o negócio tradicional de TV for interrompido, mas ainda não há modelo que seja tão lucrativo para o esporte quanto a TV por assinatura (principalmente nos mercados desenvolvidos). Outros efeitos da disrupção incluem a consolidação entre as empresas de mídia tradicionais, a busca por uma maior escala para competir com os gigantes da tecnologia e o lançamento de produtos Direct-to-Consumer (D2C);
- e-Sports: o poder de engajamento do público está se intensificando, e o setor está preparado para novas ondas de crescimento. Os editores de jogos também estão desempenhando um papel mais ativo na construção de negócios em torno das cenas de e-Sports relacionadas aos seus títulos;
- Conteúdos: o esporte ao vivo continua sendo o produto principal da mídia esportiva, mas a batalha pela atenção do público está ocorrendo em outro lugar, as microtendências, listadas acima, que sustentam a macrotendência da crescente importância desse outro conteúdo: os jogos são a refeição especial e pouco frequente, e a miríade de conteúdo disponível nas mídias sociais e digitais compõe o restante da grande dieta dos fãs;
- Patrocínios e parcerias: os patrocínios continuam a evoluir para relacionamentos bidirecionais mais ricos. Os detentores de direitos devem ter um conjunto de habilidades mais amplo do que nunca para ter sucesso no mercado atual, entre eles compreender as estratégias de marketing das marcas e ser capaz de alinhar sua oferta de patrocínio com elas, ter conhecimento profundo e baseado em dados de sua base de fãs, ser flexível com os requisitos das marcas para ativos de patrocínio e ajudar os parceiros a produzir conteúdo de destaque;
- Esporte na sociedade: a relação entre esporte e sociedade está mudando mais rápido e estar na liderança dessa transformação tornou-se ainda mais importante. Igualdade, diversidade, gênero, raça, sexualidade e meio ambiente, entre outras questões, estão dominando a mídia e tendo um impacto em todas as partes do negócio esportivo. As marcas estão exigindo ética impecável dos esportes e precisam comunicar seu propósito aos consumidores. Apesar de todos os problemas, o esporte ainda pode fornecer uma ótima solução para as marcas comunicarem essas mensagens.
Euromonitor Internacional (Alan Rownan é gerente industrial da Euromonitor International com foco em esporte e entretenimento, e lidera a estratégia editorial para todas as análises de esporte e entretenimento, cobrindo desde o cenário de patrocínio até eventos ao vivo das maiores ligas e eventos esportivos do mundo.)
- Legado versus novidade, a batalha pela atenção dos fãs: três características potenciais: novo, original ou incomum. Os esportes viram formatos, ligas e eventos que capturam a imaginação dos fãs. Os formatos inovadores fazem parte de uma tendência ao valor de entretenimento para segmentos específicos de fãs. Os mais tradicionais podem hesitar, no entanto o ano passado mostrou que o apetite por novidades veio para ficar;
- Exposição versus propósito: as marcas exigirão mais impacto do patrocínio. A ascensão do marketing orientado a propósitos não é nova, mas a frequência com que a responsabilidade social corporativa é inserida destaca a indústria com uma visão mais holística do retorno sobre o investimento. Aproveitar essas parcerias para aumentar a sinergia do consumidor e destacar os valores da empresa deixará uma marca na forma das estratégias de patrocínio;
- Real versus virtual: os avanços tecnológicos estão oferecendo novas soluções para a forma como os fãs consomem os esportes. Para os torcedores que acompanham além dos limites físicos do estádio, há muita discussão em torno do metaverso. A crescente inclinação da Geração Z para explorar mundos virtuais terá grandes implicações para detentores de direitos, patrocinadores e emissoras.
- Inteligência artificial (IA): dados e conexão rápida com a internet serão fundamentais para acelerar e ampliar o uso da IA no esporte. Uma forma de IA empolgante para o marketing esportivo são os chatbots, com o mais recente gratuito sendo o ChatGPT, lançado pela empresa americana Open AI em novembro de 2022;
- Realidade Virtual: “os desenvolvimentos são impressionantes e o foco está nos benefícios”. Dois exemplos: os produtos das lojas on-line podem ser experimentados virtualmente com antecedência, reduzindo custos e devoluções, e o tenista alemão Alexander Zverev treina com óculos de realidade virtual para otimizar seu desempenho;
- Wearables: as vendas globais devem ultrapassar US$ 95 bilhões, de acordo com estudos;
- e-Sports: os videogames estão cada vez mais populares e com mais jogadores. Algumas previsões indicam que o número de interessados pode ultrapassar 500 milhões de pessoas até 2024;
- Sustentabilidade: o marketing esportivo dá aos fãs a sensação de algo positivo. A tendência de proteção ambiental está chegando nos eventos com a coleta de lixo, a economia circular e o upcycling. Cuidado, porém, com o greenwashing;
- Diversidade: o esporte é para todos, independentemente das condições físicas e mentais. Produtos adaptados para atletas com necessidades especiais e movimentos relacionados com causas sociais são acontecimentos de marcas e atletas. “No espírito de inclusão, os atletas transexuais também estão cada vez mais incluídos.”
Sportico
Segundo o colunista Alex Michael (diretor da LionTree, um banco de investimento que assessora e investe em empresas que atuam em negócios de mídia e tecnologia, incluindo esportes e mídia digital, que escreveu um artigo no site Sportico sobre tendências no esporte), os negócios esportivos se aproximam do pico de uma década de grande valorização das franquias e dos direitos de mídia para times e ligas esportivas de primeira linha. Para ele, para continuar o crescimento da indústria, será importante criar novas maneiras de capitalizar ativos e monetizar a experiência do consumidor em um espectro esportivo cada vez mais amplo e diversificado.
As principais tendências apontadas por Michael são:
- Fracionamento da propriedade e monetização dos ativos para obter mais liquidez e acessibilidade aos direitos esportivos. Existem 152 times profissionais nas ligas profissionais americanas (NBA, NFL, NHL, MLB e MLS) e aproximadamente 3.300 bilionários no mundo interessados em ter uma parte desses ativos que se abriram para negociações fracionadas atraindo uma nova gama de investidores institucionais;
- O conteúdo esportivo ao vivo ainda é a base da transmissão e da TV a cabo, mas é cada vez mais um pilar do futuro do streaming. Portanto, as receitas da liga e da equipe também apoiarão os aumentos de avaliação no futuro previsível;
- As ligas e os times “centrais” competirão com os próprios atletas por negócios em esportes emergentes, incluindo corridas de drones, surfe, futebol feminino, lacrosse, MMA, esportes eletrônicos, cornhole e pickleball. Um ponto curioso é que esses esportes têm um público mais jovem e diversificado, uma nova geração de fãs;
- O interesse financeiro e a mídia de esportes em geral podem consolidar atividades secundárias, tais como: fitness conectado, dados e apostas esportivas, mídia esportiva digital e esportes juvenis.
Deloitte: Perspectivas da indústria esportiva para 2023
“O crescimento e a transformação da indústria esportiva estão forçando as organizações a adotar uma abordagem mais sofisticada, uma que torne a indústria mais atraente para os investidores, mais envolvente para os torcedores e mais favorável aos atletas. Para garantir que isso aconteça, é importante que as organizações esportivas olhem para possíveis eventos e ações que possam mudar a forma como o futuro se desenrola.”
- A mistura de experiências físicas e digitais entrará na fase de criação de novas funcionalidades e melhores experiências;
- As novas restrições de apostas esportivas demandarão maior atenção à gestão de risco e responsabilidade, pois a indústria busca mais crescimento e lucratividade;
- O capital privado continuará com seu interesse de investir nos esportes, porém as organizações esportivas precisarão se ajustar aos novos tipos de investidores e suas expectativas;
- Os esportes profissionais femininos estão em uma posição forte para avançar mais, porém é necessário aprimorar a conscientização, ampliar o patrocínio e aprofundar as avaliações e os investimentos em direitos de mídia;
- O atletismo universitário nos Estados Unidos está passando por mudanças profundas e inéditas, impondo um desafio no equilíbrio da oportunidade e da responsabilidade para alunos-atletas, escolas, torcedores, parceiros e ex-alunos.
Alvaro Cotta é diretor de marketing da Liga Nacional de Basquete (LNB) e escreve mensalmente na Máquina do Esporte