Por que os Jogos Pan-Americanos não estão na TV? No dia em que começou a edição de Santiago da competição, foi com essa pergunta que abrimos o vídeo semanal do Máquina Explica. Em cerca de 10 dias, mais de 41 mil pessoas visualizaram o conteúdo no nosso canal no YouTube, mostrando que o público, afinal, se interessa pelo Pan.
Ao longo desse tempo, aqui mesmo na Máquina do Esporte, noticiamos os relativamente expressivos números que tanto o Canal Olímpico do Brasil quanto a Cazé TV alcançaram com a exibição exclusiva das competições do Pan-Americano de Santiago.
Apesar disso, o Pan tem deixado uma parcela importante de pessoas órfãs. Pelo menos isso é o que indica uma análise da audiência que nós obtivemos no nosso Máquina Explica. O quadro, que tem sido um sucesso de público ao longo de mais de um ano, costuma atrair espectadores na faixa de 35 a 43 anos em sua maioria, seguido pelo público entre 25 e 34 anos de idade, segundo dados fornecidos pelo YouTube.
Pois bem. No vídeo sobre a ausência do Pan na TV, os números mostram uma mudança curiosa. A maior parcela de pessoas assistindo à explicação é aquela entre 55 e 64 anos de idade (22,1%). Na sequência, estão os espectadores de 45 a 54 anos (19,6%) e, logo depois, aqueles que são os mais recorrentes no nosso canal, que estão entre 35 e 44 anos (19,3%). Em quarto lugar, estão pessoas acima de 65 anos de idade (18,2%), seguidas, finalmente, pelo público entre 25 e 34 anos (15,6%).
Os números chamaram a atenção. Afinal, pela primeira vez nosso conteúdo chegou a um pessoal mais velho. A ligação dos pontos para essa explicação, porém, veio na última sexta-feira (27), quando recebi uma mensagem de um grande amigo “agradecendo” que meu vídeo tinha conseguido fazer seus pais, na faixa dos 70 anos de idade, entenderem o que havia se passado com o Pan.
Isso indica, claramente, que o streaming é uma ferramenta poderosa de comunicação e que ajuda a aumentar a audiência dos eventos esportivos. O problema é que a migração da exibição de um evento ao vivo apenas para essa plataforma deixa um público órfão.
O Pan de 2023 será marcado por ter sido um dos que teve a menor audiência no Brasil. Apesar da estratégia inteligente do Comitê Olímpico do Brasil (COB) de “resolver” o desinteresse da TV em comprar os direitos com a migração para o streaming, o alcance da plataforma ainda é pelo menos dez vezes menor que o da televisão tradicional.
Não é por acaso que a NFL começou a migrar, só agora, a transmissão de seus jogos para o streaming. Mas decidiu fazer isso sem abandonar a TV. As emissoras compraram os direitos tanto para o digital quanto para o cabo. Com isso, os diferentes tipos de público foram abraçados, ampliando ao máximo o alcance do futebol americano. Mais do que isso, foi só em 2023 que começou a existir uma partida por rodada sendo transmitida com exclusividade no streaming. O maior receio dos americanos é ter gente órfã de seu produto.
É esse o conceito que parece não entrar na cabeça do brasileiro. Não apenas no esporte. Por mais que muita gente já tenha mudado de hábito e “trocado” a TV pelo streaming, tem muito mais gente que não tomou essa atitude.
Não fosse isso, não teria durado apenas um ano a estratégia da Brahma de abandonar a TV nas transmissões esportivas, focando a comunicação apenas nos meios digitais.
O streaming, por mais que seja gratuito, ainda tem o alcance de nicho. Os números fornecidos pelas plataformas até dão a impressão de que a audiência é grande, mas ela não chega nem a 10% do que pode ser o alcance de uma transmissão na televisão.
Os órfãos do Pan mostram que a TV ainda precisa fazer parte da estratégia de massificação do esporte.
Erich Beting é fundador e CEO da Máquina do Esporte, além de consultor, professor e palestrante sobre marketing esportivo