Terminei a coluna justamente levantando a questão desta consolidação para que de alguma forma o cliente possa ter uma experiência mais suave e tranquila no consumo e, principalmente, na busca e “troca de canal” entre uma plataforma e outra.
O consumidor passou a ter tantas opções que acabou reduzindo o foco para coisas que realmente chamam muito a sua atenção e não necessariamente busca coisas novas. Com, isso os conteúdos mais populares ficam cada vez mais importantes e relevantes na aquisição e retenção do assinante, e os conteúdos menos populares vão perdendo seu espaço. E é isso que acaba fazendo com que os direitos de transmissão de eventos esportivos continuem crescendo, pois os conteúdos imprescindíveis são cada vez mais disputados pelos principais players. Mas, em compensação, os conteúdos não tão relevantes, que captam uma audiência menor, acabam tendo seu valor reduzido pela falta de interesse.
As plataformas de streaming chegaram para resolver esse problema, pois, anteriormente, com os canais lineares, havia um limitador. Cada canal só tem 24 horas de programação, o que gera conflitos. Ou seja, quem vencia a batalha era sempre o conteúdo de maior relevância, e não precisamos nem dizer que, no Brasil, esse conteúdo é quase sempre o futebol, seja ele nacional ou internacional.
Em movimentos recentes, pudemos também perceber que, do lado dos promotores de eventos, há uma certa tendência nessa consolidação. Em junho deste ano, duas das principais marcas do universo do golfe, PGA e LIV Golf, anunciaram a fusão com o intuito de reduzir os custos e ampliar a receita, encerrando uma disputa que havia dividido o golfe profissional masculino nos últimos anos.
Em abril, o Grupo Endeavor anunciou a fusão de um de seus principais produtos, o UFC, com o WWE, criando, em setembro, uma nova empresa, a TKO, avaliada em mais de US$ 21 bilhões. Aqui no Brasil, a marca UFC é muito mais forte do que o WWE, mas em outros mercados, como a Índia, por exemplo, a realidade é exatamente oposta. Portanto, a ideia aqui é justamente que as marcas se beneficiem da popularidade uma da outra em diferentes mercados para que ambas possam crescer juntas. Ou seja, usando o Brasil como exemplo, a ideia é que o UFC ajude a popularizar o WWE. Lá na Índia, é o inverso.
Em agosto, a franquia de MMA chamada Professional Fighters League (PFL), que estava com dificuldades financeiras, foi comprada por um fundo saudita com a ideia de ampliar e acelerar o desenvolvimento da liga. E o apetite e vontade de crescimento são tão grandes que, em novembro, foi anunciada a compra do Bellator, que é a segunda franquia mais popular de MMA, pela própria PFL.
O mercado da luta percebeu que não há espaço para tantas marcas de eventos distintos e que a concorrência é muito acirrada, o que inviabiliza a sobrevivência de marcas menores contra marcas gigantes como o UFC. Tanto é que a própria PFL anunciou que a aquisição do Bellator visa a colocar o evento como colíder do segmento ao lado do UFC.
Estes são alguns exemplos de esportes de nicho que têm o seu público fiel, mas que não necessariamente atingem uma grande massa. No caso do futebol, um exemplo é a discussão entre a Liga Belga e a Liga Holandesa para a fusão das duas, com oito equipes belgas e dez holandesas na formação de uma liga única. O objetivo disso é entender se, com clubes maiores, mais populares e uma audiência potencial maior, a possível nova liga poderia gerar mais receita aos clubes.
Cada vez mais o interesse será pelas propriedades imprescindíveis que geram grandes audiências e, consequentemente, assinaturas. Se para garantir uma fatia maior desse bolo, a solução for a consolidação, estamos diante de alguns exemplos que já demonstram essa tendência.
Resta saber se o tempo confirmará que esse é, de fato, o caminho correto.
Evandro Figueira é vice-presidente da IMG Media no Brasil e escreve mensalmente na Máquina do Esporte