Desde a Copa de 2014, o Brasil não tinha um psicólogo em sua delegação. Para os jogos desta Data Fifa, a psicóloga Marisa Lúcia Santiago, do Bahia, foi a escolhida pelo novo técnico da seleção, Dorival Júnior, para acompanhar o elenco brasileiro em seus próximos desafios.
Nos últimos anos, o debate sobre a importância do cuidado com a saúde mental no esporte vem ganhando cada vez mais espaço, graças ao aumento das cobranças, da exposição e da pressão enfrentada por esses profissionais. Se você considera o imenso poder destrutivo e de influência em massa das mídias digitais, consegue entender o motivo do assunto ser tão falado e a necessidade que os clubes, instituições e seleções têm de oferecer suporte psicológico adequado aos seus atletas e funcionários.
Eu acredito que a seleção brasileira tenha ficado 10 anos sem um profissional da área de psicologia pelo fato de que os próprios atletas não estavam dispostos a aceitar o tratamento. Isso se dá por conta dos diversos estigmas que rondam o tema.
Eu mesmo demorei a reconhecer a importância desse trabalho. Meu primeiro contato com um psicólogo esportivo foi na minha passagem pelo Werder Bremen, em 2006. O clube tinha um psicólogo que ficava disponível para fazer o acompanhamento de toda a delegação, mas o atendimento era opcional. E eu era um dos atletas que não fazia o acompanhamento, porque, à época, acreditava que aquilo era um sinal de fraqueza e despreparo da minha parte. Já no Flamengo, com muito mais maturidade, eu fiz acompanhamento psicológico com o Fernando, que era o psicólogo do time, e reconheço o quanto isso me fez mais forte.
É fundamental reconhecer que o preparo físico e técnico está intrinsecamente ligado ao suporte emocional. Tanto atletas quanto treinadores necessitam de fortalecimento mental e preservação do bem-estar para alcançarem um desempenho ótimo em suas funções, obterem resultados positivos nas competições e cultivarem um ambiente esportivo saudável.
E foi por reconhecer isso que, acertadamente, o Dorival solicitou o retorno de um profissional da área de saúde mental ao plantel da seleção brasileira. Rapidamente, os impactos da chegada da psicóloga já estão sendo sentidos e comemorados pelos atletas. O atacante Richarlison afirmou, recentemente, ter tido sua vida salva pela terapia.
Agora, consigo enxergar uma consciência maior por parte dos atletas, principalmente após casos de colapso mental envolvendo grandes nomes do esporte mundial, como a ginasta norte-americana Simone Biles e o surfista brasileiro Gabriel Medina, que acabou desistindo da etapa de Pipeline para cuidar do seu estado emocional.
Brené Brown, pesquisadora e professora norte-americana, fala muito em suas palestras sobre a necessidade de demonstrar as vulnerabilidades e como, na verdade, isso representa um ato de força e coragem. Mas, muitas vezes, a imagem de super-herói atrelada à figura dos jogadores gera nos atletas uma cobrança excessiva, de que eles têm que corresponder às expectativas a todo momento e não podem demonstrar sinais de fraqueza.
Hoje, a minha forma de contribuir com o combate às doenças mentais é a minha escola de desenvolvimento de atletas: O Grande Time. É onde, ao lado de outros profissionais, trabalho todos os principais pilares da vida de um atleta, como preparação física, nutrição, gestão financeira e liderança. Tudo com a saúde mental como carro-chefe.
O intuito do Grande Time é formar uma nova geração de atletas mais conscientes, confiantes e preparados para lidar com todos os pontos altos e baixos da vida de um atleta de alto rendimento. Assim, cresce o número de pessoas que compreende a importância do acompanhamento psicológico, ampliando e fortificando cada vez mais a necessidade da terapia para todos.
Diego Ribas é ex-jogador de futebol, com passagens por Santos, Flamengo, diversos clubes europeus e seleção brasileira. Atualmente, é palestrante, comentarista, apresentador do PodCast 10 & Faixa, garoto-propaganda de empresas como Genial Investimentos, Adidas, Colgate e Solides, e escreve mensalmente na Máquina do Esporte