O presidente do Corinthians, Augusto Melo, segue determinado em cumprir a promessa de contratar um CEO para o clube. O escolhido da vez para ocupar o cargo e ajudar a aplacar a crise que assola o time alvinegro (em uma polêmica que teve como ápice a saída da patrocinadora máster VaideBet) é Fred Luz, que comanda a área de esporte e entretenimento da consultoria Alvarez & Marsal.
A notícia do acerto entre o clube e o executivo foi divulgada no último fim de semana, mas ainda não foi oficializada. Conforme a Máquina do Esporte apurou, as bases do acordo já estão encaminhadas, mas o contrato entre as partes ainda não foi assinado.
Formado em Engenharia de Produção pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), nos anos 1970, Fred Luz passou no concurso da Petrobras, onde desempenhou funções como engenheiro de equipamentos e coordenador da área de pesquisa da estatal.
Em 1980, sua carreira teve uma guinada rumo ao setor do varejo. Trabalhou por 15 anos nas Lojas Americanas, onde diz ter aprendido muito sobre gestão, chegando a se tornar diretor comercial da empresa.
Depois, foi para a Makeasy como sócio-diretor e, em seguida, tornou-se sócio da Richards, empresa carioca do setor de vestuário, hoje pertencente à InBrands. Luz permaneceu por 13 anos nesse empreendimento, até 2012, ano em que seria realizada a eleição que alterou os rumos do Flamengo, transformando o clube na potência continental dos dias atuais.
Flamengo
Em 2012, um grupo de empresários torcedores do Flamengo resolveu se organizar para tentar derrotar a então presidente Patrícia Amorim na eleição do clube.
Inicialmente, o candidato da chamada “Chapa Azul” seria Wallim Vasconcelos, mas ele acabou sendo impugnado pelos adversários. Coube então a Eduardo Bandeira de Mello a missão de encabeçar o grupo, que tinha apoio declarado de Zico, maior ídolo da história do clube carioca.
Bandeira de Mello foi eleito com 1.414 votos, contra 914 de Patrícia Amorim. E foi dessa forma que Fred Luz teve sua primeira experiência no futebol, assumindo, em 2013, o cargo de diretor de marketing do time rubro-negro.
No ano seguinte, Luz foi promovido por Bandeira de Mello ao posto de CEO. O período não ficou marcado por muitos títulos, mas hoje é considerado essencial na história do Flamengo, porque pavimentou o caminho para a retomada do clube, depois de passar vários anos afundado no caos financeiro.
O caminho escolhido pela gestão de Bandeira de Mello foi o equacionamento das dívidas e o corte drástico de despesas, decisão que, em um momento inicial, acabou por sacrificar a competitividade da equipe.
Em 2013, o Flamengo chegou a ganhar a Copa do Brasil, derrotando o Atlético-PR (que ainda não havia mudado o nome para Athletico-PR) na final. Em 2014, o clube conquistou o Campeonato Carioca. Já na Série A do Brasileirão, o clube não deslanchou.
Foi assim até 2017, quando o Flamengo venceu o Estadual de forma invicta e ainda alcançou as finais da Copa do Brasil e da Copa Sul-Americana, perdendo, respectivamente, para Cruzeiro e Independiente, da Argentina.
No Brasileirão, o clube carioca terminou em sexto lugar na classificação geral, garantindo vaga na fase de grupos da Copa Libertadores do ano seguinte. A partir daí, já com as finanças equilibradas, o Flamengo disparou e tornou-se um dos principais protagonistas do futebol brasileiro, ao lado do Palmeiras.
Enquanto isso, em 2017, o Corinthians levantava sua sétima taça do Brasileirão, mas que também seria a sua última. Atualmente, o time alvinegro paga a conta amarga das glórias alcançadas na década passada, obtidas às custas de gastos elevados. Em 2024, o clube está na zona de rebaixamento para a Série B, com apenas 8 pontos em 11 jogos, enquanto o Flamengo é líder isolado, com 24 pontos.
Política
Em um post feito no Instagram em 2020, Fred Luz comentou que, ao assumir como CEO do Flamengo, em 2014, o diretor financeiro era botafoguense, enquanto o gerente de redes sociais era corintiano.
“Também tínhamos tricolores e é claro, muitos flamenguistas. O que importava eram os resultados que eles geravam”, afirmou o executivo.
Esse ecumenismo clubístico focado nos resultados e na competência dos gestores aparentemente também se manifestava quando o assunto era ideologia.
Bandeira de Mello, por exemplo, sempre adotou posicionamentos mais de centro-esquerda. Tanto que, em 2022, elegeu-se deputado federal pelo PSB, com sua ficha de filiação abonada por Marcelo Freixo.
Fred Luz, por seu turno, possui uma visão mais à direita. Ele deixou o Flamengo em maio de 2018 (antes, portanto, do clube entrar em sua fase mais gloriosa, com as conquistas do Brasileirão e da Copa Libertadores em 2019) para ingressar na política.
Naquele ano, ele se filiou ao Partido Novo e se tornou coordenador da campanha de João Amoêdo, candidato a presidente da República, que terminou o primeiro turno em quinto lugar, com quase 2,7 milhões de votos.
Fred Luz, então, passou a acompanhar a campanha de Romeu Zema no segundo turno, pelo governo de Minas Gerais. Depois, também participou da equipe de transição do candidato vitorioso.
De novembro de 2018 a junho de 2019, foi diretor-geral do Partido Novo. No ano seguinte, foi candidato a prefeito do Rio de Janeiro pela mesma legenda.
Na eleição, obteve 46.246 votos, terminando em nono lugar no primeiro turno, em um pleito que acabou sendo vencido pelo vascaíno Eduardo Paes, hoje responsável por desapropriar o terreno onde deverá ser construído o novo estádio do Flamengo.
Por coincidência ou ironia da vida, Fred Luz teve como adversário no primeiro turno ninguém menos que Bandeira de Mello, que era filiado à Rede Sustentabilidade, de Marina Silva. O ex-presidente do Flamengo terminou justamente uma posição acima, em oitavo lugar, com 65.296 votos.
Cenário desafiador
Quando a “Chapa Azul” assumiu o poder no Flamengo, em 2013, também enfrentava, a exemplo de Augusto Melo no Corinthians, forte oposição do grupo derrotado nas urnas.
Porém, aquela diretoria do clube carioca era mais coesa, tanto que conseguiu se sustentar sem grandes contratempos, mesmo adotando medidas iniciais pouco populares entre os torcedores, como priorizar o equilíbrio financeiro, em detrimento da montagem de elencos caros para disputar títulos.
Já Augusto Melo enfrentou não apenas atritos com os adversários, mas também com os próprios aliados, em especial com Rubens Gomes, o Rubão, que havia sido seu principal apoiador na campanha eleitoral, mas acabou deixando o cargo de diretor de futebol em meio a um forte tiroteio verbal.
A saída do diretor (que segue como conselheiro vitalício), aliada à perda de apoios internos e ao rompimento do contrato com a VaideBet (considerado, até então, o maior da história do futebol brasileiro), chegou a colocar em xeque a própria permanência de Melo no poder. Mas em entrevista coletiva concedida no último dia 10 de junho, o presidente corintiano afastou qualquer possibilidade de renunciar ou mesmo de ser derrubado do cargo.
À ocasião, ele declarou que estava em busca de um CEO para o clube. O primeiro nome a ser convidado foi Marcelo Paz, que hoje está no Fortaleza. Mas o executivo optou por recusar a oferta.
Fred Luz passou a ser, então, o nome escolhido para tentar resgatar a estabilidade política na gestão de Augusto Melo. Não está claro ainda, porém, se a diretoria corintiana estará disposta a seguir à risca a fórmula de austeridade aplicada pelo CEO em seus tempos de Flamengo e também defendida por ele em suas campanhas eleitorais.