Era uma vez, em uma época não tão distante, o videogame. Aquele objeto inicialmente estranho e misterioso, que fazia com que muitos pais franzissem a testa, achando que não passava de uma distração tola que isolava os seus filhos do mundo. Na visão deles, aquelas telas brilhantes, cheias de pixels coloridos e sons eletrônicos, pareciam apenas afastar as crianças da realidade, criando um universo paralelo onde os desafios eram fictícios e as conquistas, irreais.
Mas o tempo, como sempre, tratou de mostrar que as coisas não eram bem assim. Aquela simples diversão evoluiu. Do “Pong” ao “Pac-Man”, do “Mario” ao “Zelda”, a indústria dos jogos foi se transformando de maneira impressionante. As histórias ficaram mais complexas, os gráficos mais realistas, os mundos mais imersivos. O videogame, antes visto como um brinquedo, começou a ser encarado como arte. Com isso, deixou de ser apenas uma diversão infantil e passou a ser uma experiência capaz de emocionar, desafiar e unir pessoas de todas as idades. A tecnologia virou uma forma poderosa de entretenimento.
E não parou por aí. Os e-Sports surgiram e, com eles, o que antes era uma simples brincadeira entre amigos se transformou em um espetáculo global. Arenas lotadas, transmissões ao vivo para milhões de espectadores, prêmios que fariam qualquer um arregalar os olhos. Aquele passatempo solitário virou esporte de verdade, com estratégias, treinos e torcidas apaixonadas. O mundo teve que aceitar que, sim, videogame também é esporte, também é competição séria.
Mas o videogame não se contentou em ficar apenas no mundo dos consoles e computadores. Ele abriu portas para uma nova era de inclusão e diversidade. Os personagens, antes tão parecidos e estereotipados, começaram a ganhar novas cores, gêneros, histórias. De repente, o videogame se tornou um espelho, refletindo as diferentes culturas, identidades e realidades do nosso mundo. E para muitos foi ali, na tela, que encontraram uma representação de si mesmos que nunca tinham visto antes. O videogame passou a ser um canal de comunicação poderoso, com uma comunidade vibrante e engajada.
Hoje, essa revolução não se limita às grandes telas. O videogame cabe na palma da mão, no bolso, no tempo entre uma tarefa e outra. Quem poderia imaginar que aquele passatempo, um dia visto como algo menor, se tornaria uma das principais formas de diversão para tantas pessoas? Segundo a Pesquisa Game Brasil (PGB) 2024, 85,4% dos brasileiros que jogam dizem que os jogos eletrônicos são uma das suas principais formas de entretenimento. E não é difícil entender o porquê. Com gráficos cada vez mais sofisticados, narrativas envolventes, desafios e a possibilidade de jogar com amigos de qualquer lugar do mundo, os jogos se tornaram um refúgio para o agito do dia a dia.
E o impacto do videogame vai além do entretenimento. Ele começou a moldar outras áreas da nossa vida, chegando à saúde, à educação e até ao trânsito. A gamificação, esse conceito que utiliza elementos de design de jogos em contextos que não são de jogo, transformou a maneira como realizamos tarefas do dia a dia. Na escola, os jogos ajudam a motivar os estudantes, tornando o aprendizado mais interativo e divertido. Na saúde, são usados para reabilitação, ajudando pacientes a recuperarem movimentos de forma mais leve e menos dolorosa. E aplicativos de saúde transformam o cuidado com o corpo em um desafio estimulante, com metas, recompensas e até competições amigáveis.
E assim, o tal do videogame, que começou como um simples pixel piscando na tela, tornou-se parte essencial da nossa cultura e do nosso cotidiano. Ele nos ensinou a competir, a cooperar, a respeitar as diferenças, a contar e viver histórias. E, acima de tudo, nos mostrou que, independentemente da geração, sempre há algo novo para aprender e se encantar nesse universo.
Hoje, o videogame está em toda parte: nas mãos de uma criança na fila do supermercado, na tela de um executivo na hora do almoço, nos treinamentos das empresas e nos encontros on-line entre amigos. Ele não é só entretenimento, mas também arte, cultura, conexão e desenvolvimento. Não sabemos até onde o videogame ainda nos levará, mas uma coisa é certa: nunca será “game over”.
Roberta Coelho é CEO da equipe de e-Sports MIBR e escreve mensalmente na Máquina do Esporte