“Deus me livre de mulher CEO”.
Essa frase, por si só, soa como absurda. No atual contexto em que as mulheres dominam cada vez mais diversos segmentos do mercado de trabalho, inclusive no esporte, é ainda mais. Vinda do CEO de uma empresa cujo objetivo é “impactar o cenário brasileiro de negócios e gestão através da educação corporativa”, então, nem se fala.
Se você não sabe do que estamos falando, aqui vai um contexto rápido. O dono da frase que abre este editorial é Tallis Gomes, CEO da G4 Educação, da Easy Taxi e da Singu.
A “pérola” foi escrita na noite da última quarta-feira (18), como uma resposta à pergunta de um seguidor, no perfil de Tallis no Instagram, onde ele conta com mais de 800 mil seguidores. A pergunta foi se o empresário estaria noivo da sua mulher, caso ela exercesse o cargo de CEO em uma grande companhia.
Eis a resposta completa: “Deus me livre de mulher CEO. Salvo raras exceções, (eu particularmente só conheço 2); essa mulher vai passar por um processo de masculinização que invariavelmente vai colocar meu lar em quarto plano, eu em terceiro plano e os meus filhos em segundo plano”, disse o empresário.
Em outras postagens, ainda afirmou que “na média, esse [ser CEO] não é o melhor uso da energia feminina. A mulher tem o monopólio do poder de construir um lar e ser base de uma família”.
E arrematou destacando que um dos principais responsáveis por esse processo é o movimento feminista, que “começou a obrigar a mulher a fazer papel de homem”.
Nem é preciso dizer que as falas geraram uma polêmica gigantesca nas redes sociais. Em pouco tempo, diversas mulheres, incluindo empresárias e profissionais de inúmeras áreas, se manifestaram. No geral, além de criticarem profundamente o que Tallis disse, também defenderam o protagonismo feminino e o poder de escolha das mulheres.
Na quinta-feira (19), ele até tentou se defender, mas o estrago já estava feito.
Protagonismo delas no comando do esporte
Este é, obviamente, um assunto que daria para escrever páginas, livros, enciclopédias, se pegássemos a sociedade como um todo. Mas, como principal plataforma de conteúdo e mídia especializada em negócios do esporte no Brasil, decidimos ficar apenas na área com a qual lidamos no dia a dia.
No universo esportivo, um meio que, historicamente, sempre foi dominado por homens, as mulheres estão cada vez mais atingindo cargos de liderança, seja em clubes, confederações, veículos de mídia, ou mesmo empreendendo em agências que gerenciam carreiras de atletas.
Com estudo, inteligência, conhecimento, competência, resiliência, determinação e tantos outros atributos, as mulheres conquistaram um espaço que tende, inclusive, a crescer cada vez mais. E o que é mais louvável: tudo isso foi na base da luta, pois tiveram que vencer todo tipo de preconceito e uma série de barreiras sociais e culturais impostas desde sempre.
Na Máquina do Esporte, temos sempre procurado balancear ainda mais o espaço entre homens e mulheres. Nossa área digital, hoje, é composta, em sua maioria, por mulheres. No esporte brasileiro, de um modo geral, o número de exemplos é enorme e não para de crescer. Em questão de poucos minutos, em um exercício no grupo de WhatsApp da nossa equipe, fizemos uma lista que está sendo atualizada sempre que um de nós se lembra de mais alguém.
Pedimos, aliás, que você, que leu esse editorial até aqui, nos ajude. A lista será colocada no fim do texto e, caso se lembre de alguém que ainda não está lá, nos mande em qualquer um dos nossos canais digitais. Nosso time estará a postos para acrescentar nome a nome para que a lista fique cada vez maior.
E se você, um dia, tiver a chance de se casar com uma mulher CEO, sinta-se alguém de sorte. Provavelmente, para chegar lá, ela teve que lutar contra forças visíveis e invisíveis que você, às vezes, nem faz ideia, e se mostrou uma mulher forte, batalhadora, inteligente, resiliente e determinada para isso.
Abaixo, começamos a lista com os nomes de mulheres que ajudam a comandar o esporte no Brasil. Lembrando que ela é “só” com aquelas que estão em cargos de CEO, presidência e/ou donas do próprio negócio:
– Leila Pereira, presidente do Palmeiras
– Mirian Monte, presidente do CSA
– Maria Luciene Cacho Resende, presidente da Confederação Brasileira de Ginástica (CBG)
– Magali Moreira, presidente da Confederação Brasileira de Remo (CBR)
– Cristiane Kajiwara, presidente da Confederação Brasileira de Futebol Americano (CBFA)
– Mariana Miné, CEO da Confederação Brasileira de Rugby (CBRu)
– Michelle Ramalho, presidente da Federação Paraibana de Futebol
– Leonora Guedes, CEO do Sertões
– Ana Teresa Ratti, cofundadora da Vesta Gestão Esportiva
– Dani Schneider, empresária, CEO da Agência de Atletas (Rebeca Andrade, Bia Souza e Duda Lisboa, entre outras)
– Tatiana Braga, CEO da TB Sports (Rayssa Leal, entre outros)
– Alessandra Menga, CEO da AMMA (Bruninho e Bernardinho, entre outros)
– Roberta Coelho, CEO do MIBR
– Júlia Vergueiro, CEO da Nossa Arena
– Fernanda Dias Coelho, fundadora e CEO da Deixa Ela Treinar
– Camila Estefano, CEO do Em Busca de Uma Estrela
– Roberta “Nina” Cardoso, Angélica Souza e Renata Mendonça, fundadoras do Dibradoras
– Rosana Fortes, diretora-geral do Strava no Brasil
– Viviane Senna, presidente do Instituto Ayrton Senna
– Bianca Senna, CEO da Senna Brands
– Maria Teresa Publio Dias, CEO da Soul Esportes
– Carolina Pohl, sócia da Sow Sports
– Verônica Hipólito, CEO da Nauru
– Fabiana Bentes, CEO da Sou do Esporte