Nos últimos meses, o telespectador brasileiro passou a ouvir muito o termo Fast TV. Vários canais lançaram versões nessa plataforma, dando mais uma opção de consumo de diversos conteúdos, incluindo competições esportivas ao vivo. Mas do que se trata a Fast TV?
O termo “fast” não remete à rapidez. Embora seja uma plataforma que entrega boa qualidade de áudio e vídeo, as transmissões enfrentam os mesmos problemas de delay (atraso) de exibições similares no streaming.
Fast é a sigla para “Free, ad-supported television” (“Televisão gratuita com suporte de anúncios”, em tradução livre) e já está presente na maioria das Smart TVs à venda no mercado brasileiro, como as da Samsung, TCL e LG.
Fast TV x YouTube
Por fazer transmissões gratuitas, os canais Fast TV são muitas vezes confundidos com os do YouTube.
“As duas plataformas têm propostas semelhantes, gratuitas, de suportar a publicidade, fazer transmissão via streaming, com abundância de dados”, explicou Felipe Gagliardi, gerente sênior de conteúdo do Samsung TV Plus.
“A diferença se dá que o YouTube é uma plataforma aberta. Todo mundo pode subir um vídeo lá. Ao passo que na plataforma da Samsung, o Samsung TV Plus, temos uma curadoria interna de canais. Não é qualquer pessoa que pode subir um canal”, acrescentou o executivo.
No caso do Samsung TV Plus, há a oferta de alguns canais lineares, como CNN Brasil, Jovem Pan News e Record News (notícias); MasterChef Brasil, Shark Tank Brasil e Canal UOL (entretenimento); A Culpa é do Cabral e Mr. Bean (humor); e A Lista Negra e Smithsonian Channel Pluto TV (séries); entre outros.
Notícias
Segundo Gagliardi, no momento, o grande chamariz da Fast TV na Samsung são as emissoras “all news”.
“Com a queda da Pay TV [TV por assinatura] e a migração para os serviços de streaming, criou-se uma lacuna para os canais de notícia. Essa demanda tem sido suprida na Fast TV”, apontou.
Esse movimento é mais recente nas plataformas de esporte. O Samsung TV Plus, por exemplo, já conta com canais como Fifa+, CazéTV, GE Fast e Goat em seu portfólio.
“Tem menos de um mês que estreamos. Está sendo uma experiência muito boa. Já pensávamos em chegar a essa plataforma no ano passado”, contou Luciana Festi, diretora de operações do canal Goat.
“Está dentro dos nossos objetivos de oferecer conteúdo de qualidade de graça”, acrescentou a executiva, cuja empresa detém, atualmente, os direitos de transmissão de competições como Campeonato Carioca, Cearense e Pernambucano.

Aposta
Para Luciana, a Fast TV representa, no momento, um investimento do Goat no futuro. A direção do canal acredita que será uma plataforma de informação e entretenimento com aumento contínuo de público e interesse dos anunciantes.
“Enxergo como uma tendência emergente. Não temos expectativa no momento de superar a monetização do YouTube e outras vias. Mas tenho certeza de que é algo que está crescendo e que vai ocupar cada vez mais o mercado”, analisou.
“A Fast TV é uma sementinha que estamos plantando e que vamos colher frutos lá na frente”
Luciana Festi, diretora de operações do canal Goat
Visão semelhante tem Victor Martins, diretor-executivo do Grande Prêmio, canal especializado em esporte a motor.
A empresa de mídia lançou seu canal na Fast TV no último dia 23 de janeiro, com a transmissão das 24 Horas de Daytona, que marcou o início da temporada da IMSA Sports Car. Por enquanto, a GPTV está na TCL, LG, Claro TV+ e SóPlay, mas ainda não está no Samsung TV Plus.
“O dinheiro reservado pelas agências de publicidade e pelas marcas ainda é muito pequeno para fazer com que a gente tenha uma grande movimentação financeira no canal Fast”, revelou Martins.
Publicidade
Sem anunciantes, é comum que os intervalos comerciais sejam acompanhados apenas de uma tela com a informação de que a programação voltará em breve, sem a inserção de nenhum filme publicitário.
O executivo do Grande Prêmio lembra que essa realidade é vivida por outros canais consagrados, seja na TV a cabo ou no mundo digital, como Manual do Mundo e Nickleodeon.
“O modelo Fast ainda não é sustentável justamente porque você ainda não tem um inventário suficiente para compor aquela grade de propagandas dentro do intervalo comercial”
Victor Martins, diretor-executivo do Grande Prêmio
“Mas a Fast será um modelo escalado muito mais rapidamente do que aquele de quando começou a internet, que ficou a dúvida se o digital teria investimento financeiro”, enfatizou o executivo do Grande Prêmio.
A vantagem da Fast TV é que a venda dos espaços comerciais pode ser feita tanto pelo canal parceiro como pela marca do televisor que abriga a plataforma.
“O modelo de negócio é dividir a receita com os canais. Tem canais que não têm equipe comercial. Outros têm. Varia muito”, comentou Felipe Gagliardi, da Samsung, que conta com uma equipe para negociar esses espaços de publicidade.
Há ainda a necessidade de ser cuidadoso com os parceiros comerciais. Uma transmissão da CazéTV, por exemplo, pode ter um parceiro de apostas. Daí, nos intervalos comerciais, é vetada a entrada de anúncio de algum concorrente.
“Já aconteceu de bloquear determinado segmento. Pela programática do modo como é feito [a Fast TV], é fácil bloquear categorias. Nós mesmos bloqueamos marcas concorrentes diretas da Samsung”, exemplificou o executivo.