A CrossFit, empresa de fitness que popularizou uma nova forma de treinamento de alto impacto nos anos 2000, foi colocada à venda de novo. A marca está à disposição do mercado após anos tumultuados e também por conta da queda significativa no número de praticantes.
No ano passado, o CrossFit Games, evento anual que reúne os atletas de todo o mundo, teve queda exponencial de inscrições, mostrando a crise financeira da companhia. A empresa pretende “analisar uma ampla gama de compradores”, de acordo com mensagem enviada aos donos de academias CrossFit na última quarta-feira (12).
“Este momento de transição vem com uma oportunidade significativa. Estou animado com o potencial que isso representa para o futuro do nosso negócio de afiliados e da CrossFit em geral”, afirmou Don Faul, CEO da CrossFit, na mensagem.
O método CrossFit foi criado na década de 1990 por Greg Glassman, um ex-ginasta e personal trainer, como um programa de treinamento focado em exercícios variados e de alta intensidade. O método de preparação explodiu em popularidade nos anos 2000, chegando a somar mais de 14 mil academias no mundo. Atualmente, são 10 mil estabelecimentos, o que representa uma queda de mais de 28%.
Racismo
Os números diminuíram após uma série de escândalos e à medida que outras modas do mundo fitness ganharam popularidade. Em junho de 2020, Glassman gerou uma crise de imagem na empresa após ser criticado por um comentário racista no Twitter (atual X) sobre o assassinato de George Floyd pela polícia de Minneapolis, nos EUA.
A tragédia gerou grandes manifestações do movimento Black Lives Matter (Vidas Negras Importam, em tradução livre) por todo o país.
Em um tuíte do Instituto de Métricas e Avaliação em Saúde (HME, na sigla em inglês), que dizia que o racismo era um problema de saúde pública nos EUA, Glassman ironizou: “Isso é a Floyd-19”, em referência à pandemia de Covid-19, que naquele momento já havia matado mais de 400 mil pessoas em 185 países. Diante da péssima repercussão, a CrossFit ainda tentou negar a manifestação racista de seu CEO.
“Eu, a sede da CrossFit e a comunidade CrossFit não apoiamos o racismo. Cometi um erro com as palavras que escolhi ontem. Meu coração está profundamente triste com a dor que causou. Cometi um erro, não fui racista, mas errei”, afirmou o executivo na conta oficial da empresa.
Como resultado da crise de reputação, várias academias decidiram romper o vínculo com a CrossFit. Já a Reebok, fornecedora de material esportivo da empresa, deu fim a uma parceria de dez anos.
Não bastasse isso, Glassman também enfrentou acusações de assédio sexual, que sempre negou.
Novo dono e mais crise
Com a reputação em queda livre, o executivo vendeu a CrossFit apenas 18 dias após o tuíte racista. Os compradores foram a Berkshire Partners, empresa de investimentos de Boston, e Eric Roza, empreendedor de tecnologia, que já era dono de uma academia de CrossFit.
Desde então, a empresa passou por uma série de mudanças na liderança. Mas nada que melhorasse a sua imagem.
As crises de imagem tiveram um novo ápice em 2024, quando Lazar Dukic, atleta sérvio de 28 anos, se afogou durante a parte de natação de um treino antes dos CrossFit Games, competição internacional que atrai alguns dos principais atletas da modalidade no planeta. Como se nada tivesse acontecido, o evento teve início no dia seguinte.
O crossfit, que se tornou popular entre militares e policiais, também chegou a fazer parceria com a patrulha da fronteira dos EUA para os CrossFit Games, atraindo novas críticas. A relação chamou novamente atenção neste ano, após o Governo Trump implantar políticas mais rígidas contra a imigração.
Muitos antigos filiados à CrossFit buscaram se distanciar da má reputação da empresa nos últimos anos, mantendo o método de treinamento, mas retirando o nome da empresa dos negócios.
As inscrições para o CrossFit Open, no qual atletas realizam o mesmo treino por três semanas, caíram 33% neste ano. Em 2024, 350 mil praticantes se inscreveram. Em 2025, o número desabou para 234 mil.
Perdas
O auge da CrossFit aconteceu em 2018. À ocasião, a empresa obteve US$ 100 milhões de faturamento, com Ebitda (lucros antes de juros, impostos, depreciação e amortização, na sigla em inglês) de US$ 15 milhões.
Desde a morte de Dukic, mais de 1.400 academias CrossFit cancelaram sua filiação à empresa, embora boa parte delas ainda mantenha o mesmo programa de preparação física.
As perdas financeiras fizeram a Berkshire aumentar a taxa de filiação de US$ 3 mil para US$ 4.500 no ano passado. A empresa também cobra pelo treinamento de técnicos para a certificação da metodologia de crossfit. Essa parcela responde por mais de um terço dos ganhos financeiros da empresa.
Comprador
A BeSport é a favorita para adquirir o negócio, de acordo com uma informação do jornal The New York Times. A holding suíça possui várias marcas de esportes e fitness que já são parceiras da CrossFit, como a Northern Spirit (material esportivo) e a Hustle Up (aplicativo de assinatura de academia).
“É muito cedo para falar sobre isso”, desconversou Florian Jullien, CEO da BeSport, que não negou o interesse.