Quando penso na minha relação com o futebol, vejo o quanto tudo mudou. Antes, o engajamento era simples: ir ao estádio, assistir pela TV ou ouvir o jogo no rádio. Com o tempo, novos elementos chegaram. Primeiro, a TV a cabo, com mais jogos ao vivo. Depois, os videogames, que nos deixaram jogar com nossos times do coração.
Mas foi a revolução digital que realmente transformou tudo. Hoje, temos acesso a informações em tempo real, melhores momentos, bastidores e até ao dia a dia dos clubes. E o mais importante: podemos interagir com nossos ídolos como nunca antes.
Nos dias atuais, estamos vivendo uma nova fase dessa transformação. O torcedor não quer apenas assistir e curtir. Ele quer participar. Quer se sentir parte do clube, como se estivesse lá dentro.
O conteúdo esportivo já não gira apenas em torno dos 90 minutos de jogo. Os torcedores querem ver o que acontece fora do campo: rituais antes das partidas, reações genuínas depois dos jogos e a ação nos bastidores. Querem ter acesso ao que antes era exclusividade de poucos.
As reações espontâneas possuem um valor incalculável. A visita da cantora Ludmilla ao vestiário de um time da Kings League Brasil, com todos cantando juntos, seguramente foi muito mais impactante do que muitas campanhas planejadas.
As estrelas do futebol continuam com muito poder. Muitos torcedores jovens se conectam mais aos jogadores do que ao próprio clube. Isso fica claro quando vemos milhões de seguidores mudando de time junto de um craque. Mostrar o dia a dia dos atletas humaniza o clube e aumenta seu alcance.
Nesse cenário, ser ágil é essencial. As redes sociais mudam rápido. Os clubes precisam se adaptar constantemente, testar novas plataformas e abraçar as tendências. As estratégias de mídia social nunca podem ficar paradas.
A tecnologia também é uma aliada poderosa. É possível criar experiências únicas para cada torcedor, como estatísticas personalizadas, replays exclusivos, realidade aumentada e realidade virtual. Inovação gera conexão emocional e memórias marcantes.
“Conteúdo é rei” foi uma frase dita por Bill Gates em 1996, mas que continua extremamente atual. Conteúdos inéditos e exclusivos oferecidos nas plataformas do time aproximam o torcedor do clube e geram uma sensação real de pertencimento.
Tratar toda a sua base de torcedores como se fossem a mesma pessoa é outro erro comum que não pode continuar sendo cometido. Um jovem da torcida organizada, uma mãe com filhos e um executivo em um camarote querem coisas bem diferentes. Entender essas diferenças é essencial para criar boas experiências.
Os dados são o verdadeiro camisa 10 dos clubes. Com uma boa análise de dados, é possível entender o comportamento de cada torcedor e criar ações e experiências mais relevantes, personalizadas e eficientes.
Torcer por um time é mais do que gostar de futebol. É fazer parte de algo maior, é criar identidade. Os clubes devem incentivar esse sentimento e oferecer experiências que vão além do jogo, envolvendo música, comida, cultura e muito mais.
O futebol tem um impacto enorme na sociedade. E os clubes devem ter um propósito claro, que vá além de vencer partidas. O torcedor precisa saber qual é a verdadeira missão do seu time. Hoje, as pessoas valorizam marcas com propósito, e no futebol não é diferente. Um clube que trabalha para melhorar a sociedade ganha respeito e orgulho dos seus torcedores.
Por fim, mesmo com tanta tecnologia, duas coisas continuam essenciais: conexão e pertencimento. O futuro do engajamento do torcedor (fan engagement) não está só em criar bons conteúdos ou experiências incríveis. Está em entender que o torcedor quer fazer parte da comunidade. Quer se sentir tão importante quanto os jogadores. Essa é a nova revolução no futebol.
Romulo Macedo é mestre em Gestão da Experiência do Consumidor e especialista em Gestão Esportiva, com papéis relevantes em diversos eventos esportivos mundiais