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777 Partners tenta leiloar ações do Vasco e de outros clubes em Nova York

Entenda como a possível venda dos ativos da empresa poderá afetar a SAF vascaína e os demais clubes em que a companhia investia

Torcida do Vasco lota o Estádio de São Januário, no Rio de Janeiro (RJ) - Matheus Lima / Vasco

Afundada em dívidas e envolta em disputas judiciais bilionárias nos Estados Unidos e em outros mercados, a 777 Partners tenta leiloar as ações que afirma ainda deter em clubes de futebol de diferentes países do mundo, entre eles o Vasco.

A informação foi divulgada pelo site norueguês Josimar Football e confirmada pela Máquina do Esporte.

O leilão está marcado para ocorrer nesta sexta-feira (6), a partir das 10h (horário do leste dos Estados Unidos), nos escritórios da Cadwalader, Wickersham & Taft LLP, em Nova York.

O aviso do leilão foi publicado na quinta-feira passada (29 de maio). De acordo com o comunicado, a venda pública será disponível “para licitantes qualificados”, que poderão participar pessoalmente ou por videoconferência, via Zoom.

Aviso do leilão de ações que a 777 Partners pretende promover nos Estados Unidos – Reprodução / dailydac.com

As ações que serão vendidas pertencem (em tese) à Nutmeg Acquisition, uma subsidiária da 777 Partners que está sediada no estado norte-americano de Delaware.

A Nutmeg é o braço do grupo que responde pelos investimentos em clubes de futebol, como Standard Liège (Bélgica), Genoa (Itália), Red Star (França) e Hertha Berlin (Alemanha).

A Máquina do Esporte apurou que a empresa controlava, ainda que de maneira indireta, a 777 Carioca, que se tornou investidora do Vasco no Brasil.

Ao mesmo tempo em que a 777 Partners multiplicava seus investimentos em futebol pelo mundo afora, a Nutmeg passou a contrair empréstimos junto à A-CAP, empresa sediada no estado norte-americano de Utah e que se tornou a principal credora do grupo, passando a controlar seus ativos.

A dívida inicial da 777 com a A-CAP era de US$ 23 milhões, mas a operação passou por uma série de alterações de prazos, taxas de juros e valores, resultando em um saldo devedor que girava em torno de US$ 350 milhões em dezembro do ano passado.

O leilão serviria, portanto, para saldar esta e outras dívidas da 777 Partners. Mas a situação é ainda mais complexa do que aparenta.

Outros devedores

A venda que a 777 Partners tenta promover pode nem mesmo se concretizar, pois está sendo contestada judicialmente por outros credores da empresa.

Ao tomar conhecimento do leilão, a Leadenhall Capital Partners, com sede em Londres (Reino Unido), ingressou com uma ação de desacato contra a A-CAP na Justiça de Nova York.

A companhia britânica alega que tem a receber US$ 650 milhões da 777 Partners. Segundo o site Josimar Football, a Leadenhall também acusa o presidente da A-CAP, Kenny King, de estar secretamente administrando as duas empresas e desviando ativos que poderiam ser usados para liquidar essa dívida. 

O tribunal nova-iorquino concedeu uma liminar à empresa britânica para proibir a A-CAP de negociar os ativos da 777 Partners. A Leadenhall afirma que essa decisão já teria sido desrespeitada duas vezes e que o leilão desta sexta-feira (6) seria uma nova violação à sentença.

A companhia britânica pede que a Justiça de Nova York aplique “sanções coercitivas e compensatórias” à A-CAP, no valor de US$ 11,8 milhões.

Afinal, o que a 777 Partners leiloará?

Além do impasse com os outros credores, o leilão que a 777 Partners pretende promover esbarra em disputas judiciais que ocorrem nos países em que ela vinha atuando.

Na Itália, por exemplo, os acionistas do Genoa aprovaram, no fim do ano passado, o aumento do capital do clube em cerca de € 45 milhões.

Com isso, a 777 passou a ser acionista minoritária e foi removida da administração da equipe. O controle foi para as mãos do empresário romeno Dan Șucu, que agora detém 77% do capital do clube.

Hoje, portanto, as ações que a 777 possui no Genoa valem o equivalente a um quarto do preço original.

A A-CAP ainda tentar questionar essa venda na Justiça. À época em que a mudança no controle acionário da equipe foi aprovada, a empresa norte-americana referiu-se ao negócio como sendo uma “operação clandestina”.

A situação enfrentada pela 777 Partners em outros países também é complicada. No Brasil, especificamente, a tendência é de que o leilão não produza qualquer efeito prático na rotina do Vasco.

Procurada pela Máquina do Esporte, a diretoria do clube carioca admitiu que tem acompanhado notícias sobre o leilão de ações, mas considera que esse fato não afetará o Gigante da Colina.

Atualmente, está em vigor uma liminar concedida pelo Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJ-RJ) em maio do ano passado, que suspendeu os contratos e todos os direitos patrimoniais e políticos da 777 Partners sobre ações da Sociedade Anônima do Futebol (SAF) do Vasco. Na semana passada, essa decisão, obtida pela gestão do presidente Pedrinho, foi confirmada pela Corte por 3 votos a 0.

Com isso, embora detenha oficialmente 31% das ações da SAF cruz-maltina, a 777 Partners não pode vendê-las sem antes obter autorização do clube e da Justiça brasileira.

“Se esse leilão for legítimo e alguém, de fato, adquirir as ações da Vasco SAF, ainda que de forma indireta, por meio da compra da sociedade que controlava os ativos do futebol, essa pessoa não levará nada. Vai comprar, mas não levará as ações. E ainda se tornará cúmplice de uma clara tentativa de descumprimento de uma decisão do Poder Judiciário brasileiro”, analisou Felipe Carregal, vice-presidente jurídico do clube.