Se eu abrir o Instagram agora, certamente verei dezenas de postagens sobre estilo de vida saudável, muitas delas com a corrida de rua como protagonista.
Moda, alimentação, música e comportamento… Tudo isso caiu nas graças das novas gerações, e todo mundo acha ótimo. Afinal, em oito anos atuando nesse mercado, nunca vi tanta gente querendo fazer parte de um grupo que inspira saúde, movimento e bem-estar. Ponto pra gente (e pra todo mundo que acredita no poder do esporte).
É como o Daniel Krutman, CEO do Ticket Sports, sempre diz: a corrida de rua não é um “hype”; é um novo estilo de vida que deve crescer pelos próximos 100 anos. Eu acredito nisso, mas também sei que esse crescimento não será linear, ou seja, ele passará por transformações profundas, adaptações e, quem sabe, até rupturas.
Comecei esse texto com otimismo, é verdade. Mas aqui vai a minha análise provocativa: o estilo de vida do corredor pode não estar ligado à participação em eventos esportivos.
Correr continuará em alta. Como disse no começo, basta abrir as redes sociais para ver as pessoas postando seus treinos, compartilhando seus tempos no Strava, ou fazendo os famosos “reviews” de tênis tecnológicos. Mas tudo isso pode acontecer sem nunca passar pelo pórtico de largada de uma prova, seja ela profissional ou amadora.
Na nossa última pesquisa, observamos que quase 30% dos Baby Boomers (entre 61 e 79 anos) participaram de mais de 12 eventos no último ano. Enquanto isso, 28% da Geração Z (entre 13 e 28 anos) participaram de até 3 eventos no mesmo período. Isso pode indicar muitas coisas, mas é inevitável pensar que a nova geração talvez prefira adotar o estilo de vida do corredor, sem, necessariamente, se envolver com um evento.
Outro ponto importante é que quase 40% dos jovens apontam o preço como principal fator de decisão na hora de se inscrever em um evento esportivo.
É aí que está o desafio: eventos esportivos têm potencial para serem tratados como produtos de recorrência, mas grande parte deles são posicionados como experiências únicas e pontuais.
Se um evento for tratado como um investimento único, como saltar de paraquedas, corremos o risco de perder muitos atletas pelo caminho.
Sim, eventos esportivos são experiências incríveis. Mas não podem ser experiências isoladas. O valor precisa ser entregue repetidamente, com base no estudo do comportamento do atleta ao longo do ano.
E, para isso, é essencial abandonar a ideia de que todos os participantes são iguais. Não dá para colocar todos no mesmo saco.
É preciso identificar “personas”, mapear jornadas e responder a perguntas fundamentais:
- Quais são os eventos de entrada?
- Quais são os eventos premium?
- Há opções intermediárias?
- Existe uma jornada de fidelização real e estruturada?
Se organizadores e marcas começarem a enxergar os eventos como um negócio com ciclo de vida, estarão muito mais preparados para atender novas e velhas gerações.
O segredo está em sustentar o crescimento do mercado a longo prazo e, quem sabe, transformar a nova geração, engajada com o estilo de vida saudável, em participantes frequentes dos eventos esportivos.
Gabriela Donatello é formada em Comunicação Social e pós-graduada em Gestão de Marketing. Atualmente, é gerente de marketing do Ticket Sports, com uma trajetória de oito anos dedicada ao universo dos eventos esportivos, atuando em diversas frentes do setor
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