Quem hoje vê o sucesso que está sendo o novo formato da Copa do Mundo de Clubes criado pela Fifa, não imagina as dificuldades que a entidade máxima do futebol teve para fazer o evento acontecer.
Para colocar um evento desta magnitude em pé, a receita financeira é a prioridade número um. As expectativas iniciais do presidente da Fifa, Gianni Infantino, eram de que as receitas com o torneio ultrapassassem os US$ 4 bilhões apenas com direitos de mídia.
Por ser a primeira edição do evento, o desafio era enorme, já que sem histórico fica difícil defender qualquer número, ainda mais deste tamanho. Informações de mercado dizem que o foco inicial foi nas plataformas globais e “big techs” como Apple, Netflix e Amazon, mas que a conta não fechava nos números que a Fifa pretendia. A pressão aumentou quando Infantino decidiu anunciar a data do evento, mesmo sem ainda qualquer parceiro de mídia ou patrocinador que ajudasse a pagar a conta, que só de premiação prometia US$ 1 bilhão aos clubes participantes.
Até outubro do ano passado, ou seja, pouco mais de 8 meses para o início do torneio, a Fifa não tinha nenhum patrocinador e nenhum contrato de mídia fechado.
Aos poucos, no entanto, as coisas mudaram.
No final daquele mês, houve o acerto com a primeira marca, a chinesa Hisense. E logo depois, em dezembro, veio o anúncio que parece ter sido o pontapé que precisava para que o evento ocorresse: o acordo de direitos de transmissão globais com a plataforma de streaming DAZN, mas ainda por um valor (US$ 1 bilhão) bem inferior ao pretendido pela Fifa. O acordo previa que a transmissão seria aberta para todo o mundo, ou seja, sem nenhum tipo de pagamento para assistir aos jogos, o que inicialmente pareceu estranho, pois o modelo de negócio do DAZN é justamente a cobrança de mensalidades.
A visibilidade do torneio era importante para que a Fifa pudesse garantir aos patrocinadores que a marca de cada um estaria exposta para um grande número de pessoas. Com o tempo, o mercado de mídia reagiu, e, em mercados onde o DAZN tinha um alcance limitado, começamos a ouvir acordos de sublicenciamento do conteúdo, que garantiram de alguma forma esta exposição mais ampla.
Nos Estados Unidos, país-sede da competição, o parceiro foi a TNT Sports (transmissões em inglês) e a Televisa/Univision (transmissões em espanhol), que também comprou os direitos para o México; a Directv comprou os direitos para a América do Sul (exceto o Brasil); e, por aqui, os direitos ficaram com o Grupo Globo (TV Globo, Sportv e GE) e com a CazéTV. No mundo todo, grandes plataformas de mídia tradicionais garantiram a visibilidade pretendida.
Aos poucos também, algumas marcas, como Adidas, Coca-Cola e Visa, que já eram parceiras da Fifa para outras competições, como as Copas do Mundo Masculina e Feminina, a agora chamada Copa Intercontinental (o antigo Mundial de Clubes no final de cada ano) e o Mundial Sub-20, entre outras, também embarcaram no novo torneio.
Apesar de não ter conseguido atingir o objetivo inicial de receita, a Fifa conseguiu gerar visibilidade e interesse pelo novo Mundial de Clubes, mesmo com a resistência de algumas ligas, clubes e executivos, que diziam que o evento não caberia no calendário já superapertado do futebol mundial.
Agora, com dados de audiência, repercussão nas mídias sociais e todo o retorno que a competição está dando a parceiros de mídia e patrocinadores, não creio que haja nenhuma dúvida sobre a continuidade deste torneio para uma próxima edição em 2029. Ou alguém continua duvidando da Fifa?
Evandro Figueira é vice-presidente de mídia da IMG na América Latina