O futebol brasileiro atravessa um momento estratégico raro. Em meio a conquistas esportivas, expansão digital e atenção midiática, a edição inaugural da nova Copa do Mundo de Clubes da Fifa colocou Botafogo, Flamengo, Fluminense e Palmeiras lado a lado com as maiores potências do planeta. Para além da bola rolando, o torneio virou uma vitrine concreta para algo ainda mais duradouro: a internacionalização de marca.
Sabíamos que o torcedor brasileiro cruzaria continentes para acompanhar o clube do coração. A novidade é ver os próprios clubes brasileiros assumindo o desafio de construir conexões fora do país, com torcedores locais, com comunidades já existentes no exterior e com novos públicos apaixonados por futebol.
De acordo com um relatório da Nielsen Sports, os direitos globais de mídia esportiva ultrapassaram US$ 60 bilhões em 2024, refletindo o apetite do mercado por conteúdos esportivos relevantes. A pesquisa Fan Insights 2024, também da Nielsen, mostrou que o futebol segue como o esporte mais popular do planeta, com 86,4 milhões de fãs brasileiros e 62,2 milhões nos Estados Unidos. Não por acaso, o mercado norte-americano tem se tornado o centro de quem deseja crescer globalmente, especialmente diante do calendário recheado de megaeventos até 2026 e da capacidade do país de integrar esporte, mídia e entretenimento como poucos.
Nesse cenário, os clubes brasileiros não perderam tempo. Botafogo, Flamengo, Fluminense e Palmeiras levaram ao Mundial estratégias semelhantes: presença institucional em múltiplas cidades, colaborações com criadores de conteúdo e programações paralelas para ativar suas torcidas. Foram às ruas com “casas temáticas”, eventos culturais e encontros com fãs, e apostaram no digital para suprir a ausência de imagens oficiais dos jogos, já que não detêm os direitos de transmissão das partidas, priorizando bastidores, emoção, cotidiano dos jogadores e experiências exclusivas com os torcedores.
Mais do que presença física, o foco foi transformar vivências em narrativas. E, a partir delas, fidelizar o torcedor que já existe fora do Brasil, além de conquistar novos simpatizantes.
Com o encerramento do torneio se aproximando, inicia-se a fase mais complexa: manter o engajamento e a relevância internacional após o pico de visibilidade. O pós-Mundial não será mais sobre a viagem dos torcedores, mas sobre a permanência simbólica dos clubes nos “feeds”, nas conversas e nas preferências.
De acordo com um relatório da We Are Social de fevereiro deste ano, 5,24 bilhões de usuários estão ativos nas redes sociais, gastando em média 2h20 por dia conectados. Nesse ecossistema, não basta mais estar presente. É preciso se destacar com conteúdo multiplataforma, culturalmente sensível, emocionalmente engajante e estrategicamente integrado. Os clubes que conseguirem produzir com consistência, adaptar formatos e respeitar os códigos locais têm mais chances de se tornarem marcas de fato globais.
Durante o Mundial, os brasileiros mostraram que podem competir não só com a bola nos pés, mas também no jogo de marca. O verdadeiro teste, no entanto, virá nos meses seguintes. A pergunta é: como manter acessível essa presença internacional? Como alimentar de forma recorrente essas audiências? E como transformar ações pontuais em estratégias sustentáveis?
O desafio pós-torneio será transformar essa exposição temporária em presença perene, ativar projetos que construam o senso de pertencimento, e trocar experiências com outras culturas do futebol. Marcas fortes se constroem com constância, e a internacionalização não é um projeto pontual, mas um reposicionamento institucional contínuo.
Não é preciso montar uma operação global de uma só vez. Mas é fundamental estar presente, visível e alinhado com o que o mundo espera de um clube moderno. O futebol já é global. Agora, os clubes brasileiros precisam pensar como marcas globais, em expansão, com identidade própria.
A Copa do Mundo de Clubes da Fifa 2025 não definirá apenas quem é o melhor time do mundo. O torneio pode mostrar também quem está pronto para ser reconhecido como marca internacional e para permanecer nesse jogo muito depois do apito final.
Raiana Monteiro é jornalista e atual coordenadora de conteúdo do Fifa+, a plataforma de streaming da Fifa. Na carreira, já atuou como coordenadora de comunicação de esportes olímpicos do Flamengo, diretora de relações públicas do Vasco e ainda teve passagens pelo Grupo Globo e pela agência In Press Media Guide