Afundado em dívidas que ultrapassam a soma de R$ 2,3 bilhões, o Corinthians vive uma crise política que parece não ter fim. No fim de maio, o clube viveu a experiência traumática do impeachment do presidente Augusto Melo, que estava há menos de um ano e meio no poder.
O afastamento do mandatário foi motivado pelas denúncias envolvendo a intermediação no contrato com ex-patrocinadora máster VaideBet.
O acordo com a casa de apostas virou caso de polícia, e Augusto foi denunciado pelo Ministério Público, situação que tem servido de combustível na já incendiária disputa política interna do clube.
A situação parecia ser uma oportunidade e tanto para o grupo “Renovação e Transparência”, que tem como principal expoente o ex-presidente e ex-deputado federal Andrés Sanchez. O bloco político comandou o Corinthians por 16 anos, após vencer 6 eleições consecutivas.
Augusto chegou ao poder apoiado por uma ampla coalização (que, depois da posse, acabou ruindo), derrotando justamente a “Renovação e Transparência”. O último presidente do eleito pelo grupo foi Duilio Monteiro Alves, que deixou o cargo no fim de 2023.
Mas nas últimas semanas, enquanto o Corinthians faz os preparativos para a realização da Assembleia Geral em 9 de agosto, que selará o destino de Augusto Melo, os dois expoentes da “Renovação e Transparência” viram seus nomes envolvidos em denúncias sobre supostos gastos envolvendo cartões corporativos do clube.
Vale lembrar que, se a Assembleia Geral decidir pela cassação de Augusto, será agendada uma eleição, na qual poderão votar apenas os membros do Conselho Deliberativo. Nesse cenário marcado por denúncias, ficam cada vez mais improváveis as chances da “Renovação e Transparência” retornar ao poder no clube.
O que dizem as denúncias
O “tiroteio” envolvendo os gastos das últimas gestões corintianas teve início no mês passado, depois que um perfil denominado “Mala Oficial da Fiel” (@Prmalaoficial) passou a divulgar no X imagens da fatura do cartão de crédito corporativo, que foi usado por Andrés em benefício pessoal.
Os documentos apontam gastos de R$ 9.416, durante viagem feita pelo dirigente ao município de Tibau do Sul (RN), na virada de 2020 para 2021.
Andrés não negou os gastos, mas atribuiu o ocorrido a uma confusão entre cartões, já que tanto o corporativo fornecido pelo clube quanto o seu pessoal seriam do mesmo banco, o Santander. Ele disse ter ressarcido o Corinthians em R$ 15 mil.
A partir do último dia 14 de julho, o Conselho Deliberativo do Corinthians, presidido por Romeu Tuma Jr., passou a receber ofícios com pedidos de análise do uso do cartão corporativo do clube no ano de 2020, período em que Andrés era presidente.
“Nenhum ofício foi recusado. Todos foram recebidos e protocolados ao serem entregues presencialmente na secretaria do Conselho Deliberativo, no Parque São Jorge”, diz o comunicado do órgão.
A nota informa que Tuma Jr. solicitou à diretoria que preservasse todos os documentos correspondentes e de suporte dos últimos sete anos.
O presidente do Conselho diz ter sido informado “de que houve subtração de documentos de controle de despesas de dentro do clube, durante incidente em 31 de maio, com o consequente registro do devido boletim de ocorrências sendo lavrado pela atual diretoria. O Conselho Deliberativo permanece em contato com a presidência a respeito da extensão do furto e do avanço das investigações junto à Polícia Civil”.
Na data em questão, Augusto Melo tentou uma manobra para retornar à presidência, fato que ocasionou confusão nas dependências do clube.
Tuma Jr. ainda informou que está analisando todos os pedidos de análise do cartão corporativo de Andrés Sanchez, “para verificar a viabilidade de unificação em um só processo, evitando-se decisões contraditórias e buscando-se maior agilidade nas apurações – que deverão ser amplas para analisar também se houve imperícia na fiscalização”.
Duilio
O tiroteio referente aos gastos corporativos das últimas gestões do Corinthians atingiu também o ex-presidente Duilio Monteiro Alves.
Reportagem publicada pelo GE, nesta terça-feira (22), mostra uma série de produtos e serviços para uso pessoal, que teriam sido adquiridos com recursos do clube, durante o mandato do ex-dirigente.
Entre os itens adquiridos estariam bebidas alcoólicas, cigarros e medicamentos para disfunção erétil. Os recibos, que são relativos a gastos feitos durante 26 dias, entre setembro e outubro de 2023, são acompanhados de notas fiscais. O GE afirma ter atestado a veracidade dos documentos junto à Secretaria da Fazenda.
A prestações de conta traz 176 compras declaradas, que trazem nome e Cadastro de Pessoa Física (CPF) de Duilio e de Denilson Grillo, seu motorista à época.
Essas movimentações somariam R$ 86.524,62, dos quais R$ 80 mil foram adiantados à presidência, em três repasses em espécie feitos em outubro daquele ano, sendo dois de R$ 30 mil e um de R$ 20 mil.
O que diz o ex-presidente
Em nota publicada em sua conta no Instagram, Duilio afirma ter apresentado “notícia-crime na Delegacia de Repressão aos Delitos de Intolerância Esportiva (Drade/Dope) para ser incluída na investigação em andamento (Inquérito Policial nº 2326769-37.2024.010315 – Processo Digital n°: 1542744-43.2024.8.26.0050 – 2025/001214), denunciando a circulação de documentos falsificados e manipulados”, que estão sendo atribuídos à sua gestão.
“Numa rápida averiguação já detectamos uma fatura de cartão de crédito falsa e 2 documentos incluídos na suposta planilha identificados como inexistentes em apuração realizada pelo clube junto a diretoria financeira da gestão Augusto Melo, em denúncia anterior”, diz o ex-mandatário.
Ele diz ter solicitado ao Conselho Deliberativo do clube que apure o caso. “É evidente que essas ações possuem motivações políticas claras, visando comprometer minha imagem, reputação e a própria estabilidade do Sport Club Corinthians Paulista”, afirma.
Quanto à matéria do GE, Duilio alega que não reconhece a veracidade da planilha. “Nunca tive acesso direto a esse documento, apenas o vi através de imagens compartilhadas em redes sociais e por terceiros. Durante minha gestão, jamais recebi ou aprovei pagamentos naquele formato, muito menos fui informado sobre os supostos pagamentos que agora tentam vincular a mim”, diz.
O argumento usado pelo ex-presidente para refutar as denúncias é de que as notas e recibos não trazem assinatura dele.
“O próprio Corinthians, como já foi noticiado, registrou um Boletim de Ocorrência relatando o desaparecimento de faturas e documentos fiscais. Isso reforça a possibilidade de adulterações e uso indevido de informações internas. Cumpre registrar que sou o maior interessado na apuração completa e transparente dos fatos. Solicitei formalmente ao clube acesso aos documentos originais e adotarei as medidas judiciais cabíveis contra os responsáveis pela criação e disseminação desse material falso”, afirma Duilio.