A NFL estreou, nesta quinta-feira (4), sua nova temporada que, no Brasil, tem tudo para ser ainda mais nova. A transmissão do jogo de abertura entre Philadelphia Eagles e Dallas Cowboys pelo Sportv marcou o início de uma nova era para a liga de futebol americano. Ou, pelo menos, o início do que a NFL pretende transformar em uma nova era no Brasil.
O acordo de mídia fechado pela liga de futebol americano com o Grupo Globo deu para a empresa brasileira o melhor pacote de transmissão de jogos para a temporada. Isso representa uma mudança radical na parceria que a NFL tinha no Brasil, com o fim do protagonismo do Grupo Disney nas transmissões.
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Nos últimos 25 anos pelo menos, a ESPN foi a grande parceira da NFL por aqui. Agora, a liga tenta traçar um novo caminho. E, nesse trajeto, dois cases de ligas esportivas estrangeiras no mercado brasileiro precisam ser levados em consideração.
Nos últimos dias, aqui na Máquina do Esporte, Evandro Figueira, Fernando Fleury e Ivan Martinho abordaram com maestria o tema. Na visão deles, de um modo geral, a NFL acertou o caminho para se tornar ainda mais popular no mercado brasileiro.
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O grande ponto é saber se a liga está mais para UFC ou mais para NBA no Brasil. É árduo o trabalho para ganhar mais terreno em um segmento em que há uma enorme concentração de mídia e uma monocultura de consumo de esporte.
E os cases dessas duas ligas no Brasil podem indicar os caminhos para a NFL.
O case UFC
O Brasil do futebol com os pés se tornar também o Brasil do futebol com as mãos precisa passar, necessariamente, por uma parceria com o Grupo Globo?
A história do UFC diz que sim.
Quando a liga de lutas acertou com a Globo, assistiu a um crescimento inimaginável. O roteiro para isso consistiu em levar o UFC com lutas em reprise na TV aberta, enquanto todas as mídias da Globo (inclusive a novela) falavam sobre o maravilhoso mundo do MMA.
Agora, a NFL reescreve basicamente a mesma história. Colocará, em compacto, alguns dos jogos da liga na TV aberta, e usará Sportv, GeTV e Ge para dar mais popularidade ao futebol americano.
Mas o que aconteceu com o UFC?
Em um primeiro momento, o aumento do interesse foi tanto a ponto de Vitor Belfort profetizar que a liga de lutas desbancaria o futebol como esporte mais popular do país em questão de tempo.
Com espaço na TV aberta, programa semanal na Rede Globo e mais todo o canhão de produção de conteúdo, o UFC conseguiu, de fato, elevar a marca da liga, atrair muitos patrocinadores e surfar uma grande onda no Brasil.
A questão é que essa onda passou. E onde foi parar o UFC? A liga, hoje, está restrita a um nicho. Que é maior do que já foi, mas que não serve para colocar o esporte entre os cinco maiores do país.
A queda de popularidade do UFC coincide, também, com o fim do protagonismo brasileiro dentro da liga. Com atletas do país disputando e conquistando títulos, ficou fácil para o UFC cair no gosto das pessoas.
Esse ingrediente não existe no futebol americano. Praticamente não há atletas brasileiros no esporte, muito menos como protagonistas. Para piorar, o esporte não tem nenhuma familiaridade para o grande público brasileiro.
Antes de tudo, o jogo precisa ser ensinado ao torcedor no Brasil. Foi o que fez a ESPN, dentro de um nicho, nos últimos 20 anos. É algo que toma tempo e precisa de investimento. Será que o Grupo Globo está disposto a pagar esse preço?
E a NBA?
Lá nos anos 1980/1990, a NBA foi a primeira liga esportiva a querer se expandir globalmente. Mas era um momento completamente diferente de mídia, em que existia apenas a TV aberta, com a TV a cabo começando a engrenar. Não existia internet e muito menos esse tsunami de opções para a gente consumir conteúdo.
Além disso, havia o poder midiático e inspirador de Michael Jordan, que encurtou o “trabalho” da NBA em popularizar-se mundialmente.
Mas a NBA só foi realmente chegar e desembarcar no Brasil quase 30 anos depois, quando a liga decidiu montar um escritório por aqui e começar um processo para achar mais parceiros de transmissão. Naquele momento, o cenário era parecido com o da NFL, com a liga praticamente restrita à ESPN.
Sem fazer um jogo de temporada no país, a liga de basquete encontrou um caminho para ganhar mais adeptos no Brasil. A NBA tem lojas espalhadas pelo país e cria vários pontos de contato há mais de 20 anos com o mercado brasileiro.
Não é só ter um jogo no país e presença na TV aberta que fazem a NBA ser popular. É estar, das mais diferentes formas, conversando com o fã. Só assim a liga consegue transformar interesse em consumo, perpetuando sua marca e mantendo-se interessante para a mídia, o público e, naturalmente, as marcas.
O caminho da NFL
Se não quiser passar de um projeto com começo, meio e fim no Brasil, a NFL precisará mudar a forma como é vista por aqui. O esporte ainda não saiu de um público muito específico, formado na esmagadora maioria de gente com alto poder aquisitivo e em uma idade em que há alto interesse de consumo. Exatamente como era o público do UFC quando iniciou sua trajetória com a Globo.
Por isso, esse parece ser o caminho natural para popularizar o futebol americano por aqui. Mas pode ser um tiro de canhão mais forte do que a NFL estava preparada para dar nesse momento.
Ainda existem muitas jardas a serem percorridas nessa partida. O alento, para a NFL, é que outras ligas já viveram suas experiências no mercado brasileiro.
Resta ao futebol americano decidir se ele estará mais para UFC ou mais para NBA por aqui.
Erich Beting é fundador e CEO da Máquina do Esporte, além de consultor, professor e palestrante sobre marketing esportivo
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