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Com calma e sem estresse, o interior pede passagem na corrida de rua

Com o número de corredores crescendo cada vez mais no país, é claro que não haverá vaga para todo mundo nas provas maiores e muitas vezes mais conhecidas; olhar para o interior e todos os seus atrativos, dentro e fora das provas, é uma grande sacada

Mar de gente à espera da largada da prova de 5k da 40ª Corrida Integração - Rogério Capella / Divulgação

Há quase duas semanas, mais precisamente em uma quinta-feira (25 de setembro), o universo da corrida de rua no Brasil “se digladiou” virtualmente em busca da tão sonhada inscrição para a 100ª edição da São Silvestre, a prova mais tradicional do país. Como já era de se esperar, o estresse foi generalizado.

Decidi não comentar sobre qualquer coisa relacionada ao processo das inscrições porque elogiar ou criticar não vem ao caso nesta coluna. Com relação a isso, posso dizer apenas que conheço o trabalho e a equipe do Ticket Sports e sei o quanto eles costumam ser corretos e coerentes no que fazem. Se as decisões tomadas foram as melhores ou não, é papo para outro momento.

A questão que quero abordar, na verdade, veio-me à cabeça no dia seguinte, sexta-feira (26), quando viajei a Campinas para participar da 40ª Corrida Integração, uma das maiores e mais tradicionais provas do interior paulista e que tem o apelido carinhoso de “São Silvestre do Interior”.

Ao todo, foram mais de 15 mil pessoas no evento, dividido em dois dias, com Corrida Kids, Caminhada e Corrida de 5k no sábado (27) e Corrida de 10k e Meia-Maratona no domingo (28).

O tempo ajudou na animação, com dois dias de sol e calor intensos. E a cereja do bolo para este ano foi a presença de Vanderlei Cordeiro de Lima, único brasileiro medalhista olímpico na maratona, que participou de todo o evento como embaixador da Olympikus, patrocinadora da prova (a Integração foi escolhida como uma das 50 corridas patrocinadas para comemorar os 50 anos de história da marca), e embaixador da própria prova.

Vanderlei esteve na Expo (sim, uma bela Expo, que não deixou nada a desejar para a Maratona de São Paulo, por exemplo) na sexta-feira (26), quando participou de um programa de rádio, deu palestra e ainda teve um momento de interação com os corredores; correu a prova de 5k no sábado (27); e ainda fez parte da equipe de transmissão da meia-maratona no domingo (28). Sim, a prova foi transmitida ao vivo pela EPTV, filiada da Globo, para todo o estado de São Paulo.

Vanderlei Cordeiro de Lima foi o embaixador da 40ª Corrida Integração – Rogério Capella / Divulgação

Enfim, foi uma verdadeira celebração da corrida de rua. E, sim, no interior, que costuma ser bem mais tranquilo e menos estressante. Bem longe da capital, que recebe a São Silvestre e a Maratona de São Paulo. E mais longe ainda de outras capitais, que recebem provas gigantes como Maratona do Rio (RJ) e Maratona de Porto Alegre (RS), entre tantas outras por aí.

É aqui que quero colocar meu ponto. É claro que é legal correr qualquer uma dessas provas maiores. É claro que é legal ter a honra de contar “corri a 100ª São Silvestre”, a mais tradicional de todas, ainda mais em uma edição especial. É claro que é legal falar “já corri a Maratona do Rio”, prova que caminha, passo a passo, na tentativa de se tornar a primeira Major da América do Sul.

Mas será que o universo da corrida de rua não deveria estar olhando mais para o interior? Falo aqui do estado de São Paulo, que é onde moro e conheço mais, mas acredito que valha para muitos outros estados espalhados pelo país.

Organizada pela Noblu Sports, a Corrida Integração foi uma baita prova. E é só um exemplo. A Pepper Sports faz provas sensacionais em Sorocaba, bem como a Chelso Sports em Piracicaba e em diversas outras cidades próximas, como Americana, Itu, Limeira, Mogi Guaçu, Nova Odessa e Valinhos.

Cidade, aliás, é o que não falta. Tem pra todo lado e pra todo gosto: Araraquara, Atibaia, Bauru, Bragança Paulista, Campos do Jordão, Catanduva, Franca, Indaiatuba, Itatiba, Jacareí, Jundiaí, Mogi das Cruzes, Ribeirão Preto, Santa Bárbara d’Oeste, São Carlos, São José do Rio Preto, São José dos Campos, São Roque, Taubaté, Vinhedo e por aí vai. A lista é infindável.

Em resumo, tem muito exemplo legal. São provas muito bem-organizadas; com um número cada vez maior de patrocinadores (muitas vezes com vários comércios locais envolvidos); inscrições normalmente mais baratas que as provas maiores ou mesmo médias da capital; diversos tipos de distâncias, inclusive as maiores; percursos diferentes para quem está acostumado a correr sempre nos mesmos lugares na capital; e ainda, quase sempre, com kits bem recheados para aqueles que reclamam e dizem que só água e banana é muito pouco (essa discussão também fica para um outro momento).

Parque Taquaral, em Campinas (SP), recebeu a 40ª Corrida Integração – Rogério Capella / Divulgação

Obviamente que o deslocamento acaba tendo um custo. Não basta se inscrever. Acaba-se gastando com transporte (com direito a pedágio, se for de carro), alimentação e estadia. Mas, ao mesmo tempo, é um universo novo e cheio de possibilidades, com inúmeras questões positivas, sem contar o “fora da prova”: o fato de conhecer uma cidade nova, passar um fim de semana diferente e por que não em família, aproveitando uma viagem que ficará para sempre na lembrança.

Para fechar: é um mercado que tende a crescer cada vez mais e, para cada cidade especificamente, faz uma diferença grande, pois acaba havendo um impacto econômico muitas vezes significativo. Estabelecimentos comerciais faturam em finais de semana em que não haveria tanto movimento. E todo mundo fica feliz.

Em um segmento que já tem mais de 14 milhões de adeptos e que não para de crescer, é claro que não haverá vaga para todo mundo nas provas maiores e muitas vezes mais conhecidas, seja lá qual for o processo utilizado para as inscrições. Olhar para o interior e todos os seus atrativos, dentro e fora das provas, é uma grande sacada.

Wagner Giannella é praticante de corrida de rua desde 2007 e editor-chefe da Máquina do Esporte

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