“Foi sem querer querendo”. A clássica frase do personagem Chaves serve para resumir o movimento que começa a tomar forma nos bastidores do futebol brasileiro e que deixa, cada vez mais próximo, o empurrão que falta para que de fato haja apenas uma liga representando os clubes.
A debandada do Atlético Mineiro para a Liga Forte União (LFU), anunciada na manhã desta terça-feira (28), representa uma mudança importante no jogo de forças dos bastidores da bola. Após o Flamengo implodir a Libra na Justiça, a saída do Galo mostra o caminho que naturalmente outros devem seguir.
A motivação, porém, não é política, mas financeira. Com dificuldades no caixa, o Vitória já havia decidido “trocar de lado” em setembro. Em troca, fornecerá parte de seus direitos de mídia para o Sports Media Entertainment, fundo de investimento liderado por Carlos Gamboa, que amarrou boa parte dos clubes da LFU com esse negócio.
O Galo, agora, adota a mesma estratégia. Em nota, o clube já avisou que fará o acordo com o fundo de investimentos. O dinheiro entra em boa hora para não precisar de mais aporte dos sócios da Sociedade Anônima do Futebol (SAF) do clube.
Não é difícil de imaginar que Santos e São Paulo sejam os próximos da lista. Ambos precisam, desesperadamente, de um ajuste de caixa, e o modelo de negócios oferecido pela LFU é tentador. Paga-se, à vista, uma verba milionária. Sem qualquer carimbo no dinheiro.
E, assim, o futebol brasileiro segue tapando o sol com a peneira, sem resolver seus problemas, mas encontrando meios de entregar, a preço de banana, um diamante bruto.
A única notícia menos ruim nessa história é que a necessidade parece fazer com que tudo se encaminhe para uma liga única representando todos os clubes.
Siga o dinheiro
Ainda mais com a debandada do BTG para o lado da LFU, atuando como um “conselheiro” dos clubes, de olho nos frutos que podem ser gerados de um futebol minimamente unido e preocupado em melhorar o produto.
Sim, o Flamengo estará em breve nessa liga única. Por uma questão de necessidade. Não se faz o futebol sozinho, apesar de as cartolas furadas do futebol brasileiro terem detonado o pino da granada ao acabarem com a lei que exigia que mandante e visitante negociassem juntos seus direitos de mídia.
Até 2029 a LFU deve se consolidar como única representante comercial dos clubes, mesmo com muitas forças trabalhando para bagunçar mais do que organizar o tabuleiro do jogo. Sem querer querendo, o Brasil começa a achar uma via única que os represente. Poderia ser com muito menos sofrimento. Mas, no final, é o dinheiro que manda. E, agora, o capital claramente mostrou que estará do lado da LFU.
Não há política que vá em direção oposta àquela em que corre a grana.
Erich Beting é fundador e CEO da Máquina do Esporte, além de consultor, professor e palestrante sobre marketing esportivo
Conheça nossos colunistas