A violência crescente no futebol brasileiro, com atentados a ônibus de jogadores provocados por torcedores de times rivais e brigas entre torcedores dentro, fora e longe dos estádios parece refletir cada vez mais o estresse provocado pela pandemia nas nossas vidas.
Nossa sociedade está mais violenta nos últimos tempos. Briga-se muito mais por muito menos, tolera-se muito menos o erro do outro, impõe-se cada vez mais uma “lei do mais forte” em que pode mais quem briga mais.
Vivemos, há dois anos, no limite. Em casa, no trabalho, em família, com amigos. Ligamos um modo “instinto de sobrevivência” durante aqueles primeiros meses trancados dentro de casa e, desde então, temos nos preocupado muito mais em estarmos vivos do que em aproveitar a vida. E isso tem trazido reflexos devastadores para a vida em sociedade.
Uma guerra na Europa talvez seja o exemplo mais concreto dessa situação-limite que passamos, mas no ambiente do futebol essa combinação de estresse e violência começa a dar claros sinais de que é preciso encontrar uma solução para acabar com esse clima antes que ele cause mais uma vez uma profunda ferida na forma como consumimos o futebol no Brasil.
A violência entre torcedores não é um problema de polícia. Ela é um enorme problema para o futebol resolver. É fácil apontar o dedo para arruaceiros organizados e policiais despreparados. Mas o que faz quem trabalha no futebol para interromper esse tipo de situação?
Dirigentes, atletas, mídia e patrocinadores têm feito o que para acabar com a violência? De que forma promovemos a rivalidade entre torcedores dentro e fora de campo? Como tem sido nosso comportamento para promover uma maneira mais saudável de consumir o futebol? Nossas atitudes não são, de uma forma ou de outra, tão agressivas quanto aquelas que vemos traduzida em violência contra um semelhante, mas que torce para o time “errado” ou, pior, que torce até para o mesmo time que o meu, mas apenas tem uma opinião diferente da minha?
Ou todos nos unimos para dar um basta na violência, ou ela acabará com o sentido do futebol. Não podemos achar que a solução para brigas de torcedores esteja em policiamento mais rígido ou punições mais severas. Algumas regras foram criadas, mas pouquíssimo respeitadas.
Hoje, temos de nos reeducar para olhar o futebol sob outro prisma. Nunca foi tão importante entender o que significa o entretenimento no esporte. É preciso atuar de forma a promover o esporte como uma brincadeira entre as pessoas.
O problema da violência precisa ser abraçado pela indústria do futebol, e não deve ser terceirizado para as “páginas policiais”. Mais ou menos como foi feito no passado para conscientizar as pessoas sobre o risco do fumo para a saúde, chegou a hora de uma ampla mobilização, de todos os segmentos, para mudar o panorama do futebol. Não dá mais para terceirizar a solução para a violência.