Lembro quando passei três meses em Montreal, no começo dos anos 1990, e me impressionei e me diverti em uma partida de basquete entre a Universidade McGill e uma equipe visitante da qual não me recordo o nome. A gente entrava no ginásio e recebia uma folha de “bingo”, com possíveis acontecimentos no decorrer do jogo. Coisas mais ou menos prováveis de acontecerem. Tipo uma enterrada do pivô ou um toco do armador. Era uma forma de prender a atenção do torcedor e incentivar a participação das arquibancadas. O que batizamos hoje, quase 30 anos depois, de “fan engagement”.
Há um sem número de startups pensando nisso atualmente. Como melhorar a experiência do público e conectá-lo com o espetáculo? Inovação é o tema da vez no esporte.
São muitas as lacunas a serem preenchidas nesse ecossistema cada vez mais complexo, o ecossistema esportivo. Mulher no esporte, saúde do atleta, captação de jovens para a prática esportiva, engajamento de torcedores, gestão, captação e ativação de patrocínio, acompanhamento da performance no alto rendimento, formação de novos profissionais…
Em segundos, com certeza você será capaz de nomear outras tantas “dores” cujo remedinho passará, em maior ou menor dose, pela inovação. E olha que nem falei em NFT, fan token e e-Sports.
Não por acaso um sem número de incubadoras e aceleradoras de startups vem polvilhando o mundo. Uma centena dessas startups já está trazendo provocações ao mercado brasileiro, e milhares delas atuam em centros como Estados Unidos, França, Inglaterra, Israel e tantos outros países na Europa e na América Latina.
O próprio Comitê Olímpico Internacional (COI) está atento a esse movimento de transformação tecnológica em sua Agenda 2020+5, um compilado de premissas a serem observadas pelo Movimento Olímpico. “Mude ou seremos mudados” é o racional por trás das reflexões (algumas até certo ponto ousadas) do COI, ciente de que os millenials são a base do consumo da sociedade hoje. E a geração Z está vindo aí.
Pensar como vai ser o mundo do esporte nos Jogos Olímpicos de Paris 2024, Los Angeles 2028 e Brisbane 2032 é mais ou menos o exercício de futurologia que William Hanna e Joseph Barbera, a dupla Hanna-Barbera, fizeram (ludicamente, nesse caso) com “Os Jetsons“ nos anos 1960.
Com a diferença de que o futuro já começou.
Manoela Penna é ex-diretora de marketing do Comitê Olímpico do Brasil (COB), vive um período sabático em Paris até 2024 e escreve mensalmente na Máquina do Esporte