A França tem um objetivo, até certo ponto óbvio, mas não por isso menos ambicioso: usar a força dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos de Paris 2024 para fortalecer o papel do esporte dentro da sociedade.
Para tanto, na visão do presidente do Comitê Organizador de Paris 2024, Tony Estanguet, o diferencial será o quanto as pequenas cidades, clubes e centros comunitários conseguirão se engajar com o megaevento. O selo Terra dos Jogos (Terre de Jeux 2024, em francês) foi criado justamente para isso. E acaba sendo uma baita ativação da marca Paris 2024 em todo o território francês, incluindo as nações além-mar e as embaixadas ao redor do mundo.
Ao ter sua candidatura aprovada para integrar o Terre de Jeux 2024, as instituições – de mínimas a gigantes – têm acesso ao pacote de identidade visual do programa. Elas recebem a chance de participar de ações como celebrações de Dia Olímpico e Olimpíadas Culturais, e podem até sonhar em fazer parte do Revezamento da Tocha.
Além disso, estão liberadas a buscar seus próprios parceiros comerciais para sustentar suas ações. Desde novembro de 2019, já foram chanceladas mais de 2.800 instalações, cidades, departamentos ou regiões. Nada menos que 950 delas são os chamados “Centros de Preparação para os Jogos (CPJ)”, postulantes a receber delegações dos países participantes de Paris 2024.
Uma corrida acirrada está em andamento para conquistar seu lugar no olimpo. Estados Unidos (Eaubonne) e Grã-Bretanha (Saint Germain em Laye) foram os primeiros países a anunciar suas bases de preparação na França, seguidos do Brasil, que no mês passado assinou contrato com Saint-Ouen-sur-Seine, conhecida também como Saint-Ouen, para receber toda a operação do Time Brasil em um investimento de R$ 2,4 milhões divididos entre a prefeitura e o Comitê Olímpico do Brasil (COB).
Estima-se que 20% dos CPJs receberão equipes em Paris 2004, sejam Comitês Olímpicos ou modalidades isoladamente, como o judô de Kosovo, que já escolheu Orleans como seu tatame pré-Jogos.
Orleans talvez seja uma das cidades mais entusiasmadas e preparadas para tirar positivamente uma “casquinha” dos Jogos. Planeja fazer uma minicerimônia de abertura local para apresentar à sua população as bandeiras que estão fincadas em seu território. Uma bela sacada de marketing. Mais do que uma potencial vantagem financeira (impulsionada por obras de infraestrutura, turismo e patrocinadores) e de imagem, o que obviamente já são ganhos fantásticos, as cidades que querem atrair as delegações olímpicas e paralímpicas desejam também impactar o dia a dia dos cidadãos com a prática esportiva.
Nas palavras do diretor responsável pelo Terre de Jeux 2024, Maxime Duchêne, o compromisso de Paris 2024 é com o “equilíbrio da política esportiva” na França. É fazer com que o esporte como lazer se inspire no alto rendimento. É, em última instância, a criação e o fortalecimento da tal cultura esportiva que movimenta toda a cadeia do esporte: fãs, atletas, organizações esportivas, empresas, negócios. Essa seria a Terra (prometida) dos Jogos 2024 para a França.
Manoela Penna é ex-diretora de comunicação e marketing do Comitê Olímpico do Brasil (COB) e escreve mensalmente na Máquina do Esporte