A Confederação Brasileira de Futebol (CBF) usou o argumento de que acabaram “o champanhe e o caviar” para responder à reportagem que a Máquina do Esporte fez sobre os bastidores da negociação dos direitos de mídia da Copa do Brasil para o período entre 2023 e 2026.
Na visão da entidade, o maior mérito que ela teve ao fechar um pacote exclusivo com o Grupo Globo, tal qual sempre foi feito, foi o de aumentar de R$ 400 milhões para quase R$ 600 milhões o que recebe pelos direitos de mídia do torneio, sem entregar esse negócio para um terceiro.
A valorização era óbvia. Ela segue a tendência mundial de aumento de receita com a venda de mídia que o esporte tem tido nos últimos 20 anos. A diferença é que, mundialmente, a arrecadação tem chegado a dobrar de um ciclo para o outro.
Por aqui, os números seguem abaixo do potencial máximo que pode ser alcançado, exatamente por termos dentro das entidades esportivas um absoluto desconhecimento do que é o negócio da mídia. E a resposta dada pela CBF à reportagem feita pela Máquina mostra exatamente isso.
A entidade máxima do futebol brasileiro tenta colocar, no mesmo balaio, os contratos minimamente esdrúxulos de intermediação de patrocínio que eram praxe em seus corredores com uma concorrência para a negociação de direitos de mídia, algo que nunca foi feito no mercado brasileiro.
Uma coisa é você ter intermediários para fechar acordos que são básicos, como um patrocínio ou o licenciamento de um produto. A outra é você ir ao mercado negociar a venda do seu principal ativo, que são os direitos de transmissão do segundo maior torneio de clubes do país.
A CBF não tem, hoje, um executivo que conheça o mercado de mídia para entender o diamante que precisa ser lapidado. E isso provoca absurdos como uma negociação arrastada que não foi a todas as empresas de mídia para tentar extrair o melhor negócio para a CBF e para os clubes.
A Copa do Brasil é o maior ativo que a CBF tem para negociar, além da seleção brasileira. Potencialmente, a competição pode render para a entidade por volta de R$ 700 milhões por temporada. Mas, para isso acontecer, é preciso trabalhar muito e, obrigatoriamente, conhecer o mercado de mídia.
Entregar para a Globo o seu maior produto comercial não é “acabar com o champanhe e o caviar”. Pelo contrário. A entidade continua a terceirizar a produção de conteúdo para a mídia, que mais uma vez volta a ser fim, e não meio de promover o torneio.
A CBF começa a se colocar em uma encruzilhada. Ou ela aprende o que é o negócio da mídia, ou será rapidamente engolida pelos clubes. Será assim no Brasileirão e, a julgar pela maneira como está sendo conduzida a competição, muito provavelmente em mais cinco anos chegará a vez de a Copa do Brasil ser tirada das mãos dela.
Erich Beting é fundador e CEO da Máquina do Esporte