Ao longo da história, o esporte tem sido uma ferramenta poderosa de expressão e identidade, especialmente em culturas ricas e diversificadas como a brasileira. Desde os jogos indígenas até o futebol, que se tornou uma paixão nacional, o esporte tem sido uma janela para a alma coletiva do país. Porém, vale ressaltar que a identidade esportiva não é estática. Ela evolui, refletindo as mudanças socioeconômicas, políticas e culturais que ocorrem na sociedade.
Nesse sentido, apesar da tendência de se falar de esporte como forma de entretenimento, ele é mais do que apenas uma forma de entretenimento. É também um poderoso veículo de identidade e expressão. Por isso é tão importante conhecer a identidade esportiva dos fãs de uma entidade, pois ela influencia nossas decisões de compra, nossos valores e até mesmo nossa maneira de ver o mundo.
No passado, o comportamento do consumidor era influenciado principalmente por fatores demográficos, como idade, gênero e renda. No entanto, nos últimos anos, o comportamento do consumidor tem sido cada vez mais influenciado por fatores psicográficos, como valores, crenças e, de maneira profunda, por essa identidade esportiva.
A identidade esportiva é mais do que apenas uma paixão ou hobby. É uma extensão de quem somos.
Ela nos permite inserir-nos em grupos sociais específicos, expressar valores e buscar inspiração. Quando alguém veste a camisa de seu time, está fazendo uma declaração sobre sua identidade, suas crenças e a comunidade a que sente pertencer. Usar a camisa de um time de futebol não é apenas uma declaração de apoio a esse time, mas também uma expressão de pertencimento a uma comunidade e um conjunto de valores associados a ela.
O poder desse conhecimento se torna fundamental para que os clubes, times, etc. possam engajar cada vez mais fãs e consumidores. Nesse contexto, a inteligência artificial (IA) tem o potencial de revolucionar a forma como entendemos e nos engajamos com o esporte e nossa identidade esportiva. Com a capacidade de processar e analisar informações em uma escala que os humanos não podem igualar, a IA está redefinindo a experiência esportiva. Por meio da análise de grandes volumes de dados, ela pode identificar padrões e tendências no comportamento do consumidor relacionados ao esporte, permitindo que empresas e organizações esportivas ofereçam experiências mais personalizadas e envolventes.
As plataformas de streaming esportivo, por exemplo, alimentadas por IA, podem recomendar conteúdo específico com base nas preferências e no histórico de visualização de um usuário. Imagine ligar sua TV e, automaticamente, ser apresentado a um jogo do seu time favorito ou a um evento esportivo que se alinhe perfeitamente com seus interesses. Isso não apenas melhora a experiência do usuário, mas também fortalece sua conexão e identificação com certos esportes ou atletas.
Além disso, a IA pode ser usada para prever tendências emergentes no mundo esportivo. Isso pode ser desde identificar o próximo grande talento no futebol até prever quais esportes ganharão popularidade nos próximos anos. Para a área de marketing, estamos falando de possibilidades quase infinitas para se criar novos modelos de negócios para marcas e patrocinadores que desejam se alinhar com esportes ou atletas, permitindo capitalizar sobre novas oportunidades de mercado.
As fronteiras que definem as regras do jogo estão mudando em alta velocidade. Nas minhas andanças por aí, venho mostrando como a IA pode identificar tendências e padrões, mas também compreender, não completamente, a paixão, emoção, conexão cultural e outros fatores que impulsionam a identidade esportiva. Insights preditivos, que possam auxiliar as áreas de marketing, vendas e comunicação, estarão, brevemente, nas mãos de todos, permitindo um nivelamento bastante interessante entre os mais variados esportes.
Por fim, à medida que avançamos nesta intersecção de esporte, comportamento do consumidor e IA, devemos fazê-lo com cuidado, respeito e uma compreensão profunda da rica tapeçaria cultural que define nossa relação com o esporte. Afinal, o esporte é mais do que apenas números e estatísticas. É sobre paixão, comunidade e, também, sobre consumo.
Fernando Fleury é CEO da Armatore Market+Science, PhD em Comportamento do Consumo e trabalha com inovação e tecnologia para criar novos modelos de negócios para a indústria com a construção de soluções avançadas e modelos preditivos usando inteligência artificial, aprendizado de máquina e ciência de dados para entender o ciclo de vida dos produtos, criar novos produtos, identificar e rastrear clusters a fim de aumentar a receita, o público e o envolvimento dos fãs, entre outros. Ele escreve mensalmente na Máquina do Esporte