Caitlin Clark é a maior estrela que o esporte feminino dos EUA já teve. Ela tem apenas 22 anos e nunca jogou profissionalmente. Também não foi aos Jogos Olímpicos. Aliás, em 2021, enquanto o time americano de basquete ganhava mais um ouro em Tóquio, Clark era ainda a estrela do time Sub-19 do país, quando ganhou o Mundial e foi a melhor jogadora do torneio.
Alguém pode argumentar que Serena Williams no tênis, Simone Biles na ginástica artística, Sue Bird no basquete ou Mia Hamm no futebol foram estrelas de um nível maior, que ganharam mais dinheiro, mais títulos ou medalhas olímpicas. Só para citar algumas.
Mas é um conjunto de fatores que faz de Caitlin Clark o maior nome do esporte feminino americano. Se tudo correr conforme o esperado, é bem provável que, em 10 ou 15 anos, ela tenha títulos, dinheiro e medalhas olímpicas para se comparar a todas essas atletas incríveis. Mas é na popularidade que ninguém ganha dela.
Clark é uma menina tímida que nasceu e cresceu. Foi para duas finais universitárias jogando por uma universidade do estado que é a 32ª economia entre os 50 estados americanos. Além de jogar um absurdo, ela tem um estilo de jogo que se encaixa ao basquete atual, com uma visão de jogo incrível e um arremesso certeiro de longa distância.
Mas há alguns fatores que não dependem de Clark e que estão perfeitamente alinhados nesse momento. Se ela fosse a melhor jogadora jovem de vôlei do mundo ou a melhor atleta jovem de esgrima, a atenção seria muito menor. O basquete é um dos esportes mais populares do país, especialmente entre os jovens de grandes cidades.
O esporte feminino vem crescendo há décadas nos EUA. Um dos principais motivos é uma legislação chamada “Title IX” (“Título Nove”), aprovada nos anos 1970, que não permite discriminação com base em gênero por parte das universidades e garante um dinheiro muito maior para o esporte feminino do que nas décadas anteriores. Com isso, os resultados apareceram aos montes. Das 113 medalhas de ouro da delegação americana nos Jogos Olímpicos de Tóquio, 66 foram da equipe feminina.
E um dos aspectos principais é o fato de esse ser um momento em que mais gente está aberta ao esporte feminino. Algumas pessoas até se sentem na obrigação para que os hábitos se alinhem com o discurso de quem defende a igualdade de oportunidades.
Com tudo isso e uma liga como a WNBA, que vem crescendo e se estruturando cada vez mais, muita gente estranhou que o salário de caloura de Caitlin Clark seja tão baixo em comparação com os jovens talentos da liga masculina, a NBA. A diferença ainda está no que as duas ligas faturam. Enquanto a WNBA fatura US$ 200 milhões por temporada, a NBA fatura US$ 10 bilhões.
Muito disso passa pelas transmissões de televisão, e Clark já mostrou que tem um potencial enorme para mudar as coisas. Nas finais do basquete universitário deste ano, a final feminina entre South Carolina e Iowa (o time de Clark) teve uma audiência média de 18 milhões de espectadores, contra 14 milhões da final masculina entre UConn e Purdue.
Pelo menos nesses primeiros anos, Clark ganhará a maior parte do seu dinheiro com publicidade. Mas ela tem tudo para dar à WNBA o impulso necessário para ver a liga estourar. Se todo mundo que se indignou com o salário de Caitlin Clark e pede igualdade de oportunidades no esporte efetivamente passar a consumir a WNBA, o sucesso está garantido.
Sergio Patrick é especializado em comunicação corporativa e escreve mensalmente na Máquina do Esporte