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A tecnologia e os negócios estão moldando o futuro dos esportes

Esporte está deixando de ser apenas um espetáculo para se tornar uma plataforma global de conexão humana e inovação; o atleta é o novo influenciador, o fã é o novo protagonista, e o esporte é o novo hub de inovação cultural e tecnológica

Estudo do Ticket Sports revelou que a Geração Z enxerga a prática esportiva como estilo de vida - Arte / Ticket Sports

Por décadas, o esporte foi sinônimo de performance, rivalidade e paixão coletiva. Hoje, ele se reinventa como um dos mais poderosos vetores de transformação social, tecnológica e econômica do planeta. O que antes era um campo restrito a atletas de elite transformou-se em uma arena conectada, digital e experiencial, impulsionada por novos modelos de investimento e por uma geração que consome esporte de forma completamente diferente.

Este novo panorama é marcado por um boom de investimentos institucionais, que ultrapassaram a marca de US$ 70 bilhões nos últimos anos, segundo a Bain & Company. Fundos de private equity e conglomerados de mídia passaram a enxergar ligas, clubes e eventos não mais como um entretenimento intangível, mas como ativos de alto valor estratégico, sustentados por dados, propriedade intelectual e uma fidelidade de público inigualável.

A consolidação desse movimento é visível em casos de sucesso como o da Fórmula 1, que dobrou sua base global de fãs após a aquisição por parte da Liberty Media, e na criação de veículos híbridos como o Volleyball World, fruto da parceria entre a Federação Internacional de Vôlei (FIVB) e a CVC Capital Partners. O esporte, assim, se profissionaliza não apenas nas pistas e nas quadras, mas também na gestão e nos negócios.

Digital

No cerne dessa transformação está a revolução digital. O novo atleta, seja profissional ou amador, é digital por natureza. O uso de wearables e aplicativos de monitoramento já faz parte da rotina: globalmente, mais de 345 milhões de pessoas interagem com apps de treino, movimentando um mercado de US$ 18 bilhões. Essa democratização dos dados de performance transformou a relação das pessoas com o esporte, tornando o treino mensurável, gamificado e compartilhável. Plataformas que unem tecnologia e comunidade, como Strava, Zwift e Apple Fitness+, tornaram-se novas arenas de engajamento, onde o atleta é também criador de conteúdo.

Como aponta o estudo Deloitte 2023 Sports Fan Insights, 44% dos fãs buscam estatísticas de atletas durante eventos ao vivo, e o uso de dados em tempo real nas transmissões amplia o envolvimento emocional e social, transformando o torcedor de espectador em coprodutor da experiência.

Mudança de papel do fã

Essa mudança de papel do fã é fundamental. O esporte tornou-se palco da chamada “economia da imersão”: um modelo que privilegia a experiência ativa e sensorial sobre o consumo passivo. Fãs de diferentes gerações, especialmente os jovens da Geração Z, estão 60% mais motivados a praticar esportes do que há três anos. Eles querem participar, interagir e sentir-se parte do espetáculo.

As organizações mais inovadoras respondem a isso com estratégias de engajamento de fãs (fan engagement), que combinam mídias sociais, experiências presenciais e ambientes virtuais. Mais do que “assistir”, o fã quer pertencer, e esse pertencimento é construído por meio de experiências que integram perfeitamente o físico e o digital.

Por trás dessa mudança de formato, há uma mudança de valores. A pandemia acentuou uma transição fundamental, e o esporte deixou de ser apenas entretenimento e passou a ser propósito e bem-estar. A geração mais jovem busca atividades que expressem seus valores: saúde, superação, comunidade e impacto ambiental. Eventos de todas as escalas incorporam práticas sustentáveis e de inclusão, pois o crescimento futuro depende de formatos mais acessíveis e diversificados que eliminem barreiras de custo e logística. Marcas e organizadores perceberam que o futuro está em alinhar propósito e experiência, e quem não comunica valores, perde relevância.

Conclusão

No fim, as fronteiras entre esporte, entretenimento e tecnologia estão se dissolvendo. O que surge é um ecossistema integrado, onde atletas, fãs, investidores e marcas compartilham valor e conteúdo em tempo real. O esporte está deixando de ser apenas um espetáculo para se tornar uma plataforma global de conexão humana e inovação, e a mensagem que emerge de todos os estudos é clara: o esporte do futuro não será definido apenas pelo desempenho físico, mas pela capacidade de gerar experiências, dados e comunidades. Em outras palavras, o atleta é o novo influenciador, o fã é o novo protagonista, e o esporte é o novo hub de inovação cultural e tecnológica.

Para os clubes e esportes tradicionais, o recado é claro: evoluir ou ficar para trás. Não basta a tradição e a paixão. A sobrevivência no cenário global exige gestão profissionalizada como uma empresa, adoção urgente de tecnologia e criação de experiências digitais imersivas para a torcida.

Quem não se transformar em um negócio digital, com propósito claro e gestão moderna, verá sua relevância desaparecer em uma indústria em ebulição onde a nostalgia já não conta mais.

O artigo acima reflete a opinião do colunista e não necessariamente a da Máquina do Esporte

Romulo Macedo é mestre em Gestão da Experiência do Consumidor e especialista em Gestão Esportiva, com papéis relevantes em diversos eventos esportivos mundiais

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