Pela segunda vez em menos de 45 dias, os fãs brasileiros de esportes ficaram a ver navios quando esperavam por uma transmissão de um evento esportivo pelo sistema Amazon Prime Video. Na última quinta-feira (20) à noite, a Amazon anunciou que “problemas técnicos” impediriam a empresa de transmitir os jogos da NBA que estavam programados para aquele dia.
O caso gerou uma série de reclamações contra a Amazon, que já havia “falhado” na transmissão de Corinthians x Fluminense, pela Copa do Brasil, no dia 15 de setembro, também em uma noite de quinta-feira.
Curiosamente, as “falhas técnicas” só apareceram quando, nos Estados Unidos, começou a transmissão do Thursday Night Football. Os jogos de quinta-feira à noite da NFL são a principal aposta quando o assunto é a compra de direitos de transmissão da Amazon no mundo, e qualquer possibilidade de queda no sistema é proibida internamente.
É perfeitamente compreensível que a Amazon priorize a transmissão de um direito pelo qual paga mais de US$ 2 bilhões por temporada. Só que é absolutamente desprezível a atitude que a empresa tem com seus outros mercados. É, inclusive, um atentado contra a própria história da Amazon, de prestação de serviço de excelência para o consumidor.
A empresa não age com clareza com seu consumidor ao argumentar que tem falhas técnicas, algo que simplesmente não aconteceu em julho, quando Palmeiras x São Paulo foi exibido em uma quinta-feira à noite com exclusividade na plataforma sem qualquer risco ao fã. Além disso, não entrega o produto pelo qual muitos dos fãs decidiram assinar o serviço da empresa para poder ter acesso.
Ao agir dessa maneira, a Amazon cria um problema para o mercado que pode causar um dano de difícil reparação. Em um momento em que se discute cada vez mais o streaming como novo meio para consumo do esporte, a dificuldade de acesso ao modelo de transmissão cria mais uma barreira.
Neste ano, o Paulistão já foi vítima dessa mudança brusca de transmissão, saindo da TV aberta, fechada e pay-per-view para o modelo de TV aberta, YouTube e streaming. O torcedor ficou confuso, e o alcance do campeonato caiu drasticamente.
Aqui na Máquina do Esporte defendemos a adoção de um modelo híbrido de transmissão. É impossível, no Brasil, abrir mão da TV como principal meio de transmissão de eventos esportivos. Ao adotar apenas o streaming como meio de exibição de uma competição, mesmo que apenas para alguns jogos, reduzimos o potencial de alcance do evento, reduzindo a base de fãs no médio prazo.
Ao não entregar a transmissão de jogos para os torcedores, a Amazon dá um tiro contra o próprio pé. O mercado brasileiro ainda não está pronto para ter grandes eventos apenas no streaming. E ver a maior plataforma de streaming do mundo não conseguir atender o fã de esporte é a prova de que ainda temos um longo caminho a percorrer.
Erich Beting é fundador e CEO da Máquina do Esporte