Quando falamos de investimentos de altas cifras em direitos de transmissão aqui no Brasil, em sua maior parte, a referência é o futebol. Com exceção dos Jogos Olímpicos, os direitos do futebol dominam a lista dos maiores acordos. Isso falando de direitos domésticos (Brasileirão, Copa do Brasil, Conmebol Libertadores e Conmebol Sul-Americana) e também de direitos de propriedades internacionais vendidos por aqui, como Champions League, Premier League e LaLiga, entre tantos outros.
Quando ampliamos essa observação para mercados multiesportivos, o futebol continua dominando, mas outros esportes, como tênis, alguns tipos de lutas (predominantemente o MMA), basquete e vôlei, acabam atingindo também cifras bem robustas.
Obviamente, a exceção, como todos sabemos, são os Estados Unidos, onde a Champions League e a Premier League alcançam números milionários, com mais de US$ 250 milhões por ano no caso da competição continental e mais de US$ 330 milhões anuais para a principal liga nacional de futebol. Os números, no entanto, parecem irrisórios quando comparados aos da NFL que alcança mais de US$ 11 bilhões por ano em direitos de transmissão e da própria NBA, que busca, em seus novos acordos, chegar a US$ 5 bilhões anuais.
Mas a curiosidade que eu gostaria de apresentar é justamente para esportes com nenhum ou pouco apelo aqui no Brasil, mas que, mesmo assim, possuem cifras gigantes por direitos de transmissão em outros países.
Ainda falando de Estados Unidos, a World Wrestling Entertainment (WWE) acaba de fechar um acordo de cinco anos com a USA Network, de propriedade da NBC Universal, que vale ao todo cerca de US$ 1,4 bilhão, ou seja, uma média de US$ 287 milhões por ano. E esta venda é de apenas um de seus principais programas, o Smackdown, pois o Raw, que é o outro programa semanal, ainda está à venda e, de acordo com a organização, com várias plataformas interessadas. Estamos falando de um salto de cerca de 40% se compararmos ao acordo atual, que vencerá em setembro de 2024.
Vale lembrar que o Grupo Endeavor, do qual a IMG faz parte, comprou recentemente o WWE para que, junto do UFC, ambos pudessem se beneficiar em mercados onde um é mais popular que o outro e assim buscar incremento de receita dos dois lados. O acordo avalia o WWE em mais de US$ 9 bilhões.
Ainda falando de WWE, mas em um mercado um pouco mais longínquo, a liga também é uma das propriedades mais populares e caras na Índia. No país asiático, o valor do ciclo de três anos é de cerca de US$ 216 milhões (US$ 72 milhões anuais) e vale muito mais do que a Premier League e a Champions League, que valem “apenas” US$ 18,3 milhões e US$ 6,6 milhões por ano, respectivamente.
Como falei, o WWE é um dos mais caros, mas o mais caro mesmo é justamente um esporte que não tem nenhuma exposição e interesse aqui no Brasil: o críquete. Trata-se do esporte mais popular e o que melhor monetiza os seus direitos de transmissão. O ciclo de cinco anos da Indian Premier League (IPL) vale mais de US$ 6 bilhões e a coloca como uma das três propriedades mais caras do mundo, ao lado da NFL nos EUA e da Premier League na Inglaterra, quando falamos em custo por jogo. As Copas do Mundo de Críquete chegam a valer mais de US$ 3 bilhões para um ciclo de três anos que engloba duas edições.
Os números são enormes e mostram a força da pluralidade esportiva em outras partes do mundo. Por aqui, como disse anteriormente, o futebol continua dominando o mercado e deixa pouco espaço e dinheiro para as demais modalidades. Antigamente (mas não tão antigamente assim), os canais lineares tinham espaço limitado para atender os chamados nichos. Agora, com a diversidade de plataformas e espaço sem fim em cada uma delas, já conseguimos assistir a eventos esportivos que antes nem sabíamos que existiam.
Vale a pena focar na diversidade. Hoje, alguns esportes são pequenos nichos, mas, com mais visibilidade e investimento, podem crescer e tentar, quem sabe um dia, desafiar o domínio absoluto do futebol quando se fala em exposição de mídia e valor de direitos de transmissão.
Evandro Figueira é vice-presidente da IMG Media no Brasil e escreve mensalmente na Máquina do Esporte