Brasil perde de goleada da Argentina na internacionalização dos clubes

Quando o assunto é a rivalidade entre Brasil e Argentina no quesito internacionalização dos clubes, o Brasil perde de goleada - Reprodução

Recentemente, tive o privilégio de permanecer grandes períodos em diferentes países das Américas e, com isso, deparei com uma realidade triste para o nosso futebol: como o Campeonato Brasileiro é desinteressante fora do nosso país. Mesmo em países vizinhos, da América do Sul, o que acontece nos gramados brasileiros passa quase despercebido, com pouquíssimo interesse do grande público.

Os jogos do Brasileirão para a América Latina, que até o ano passado estavam presentes no Star+ (atualmente Disney+), não estão mais disponíveis. E as partidas de sábado no final do dia que passavam na ESPN também não fazem mais parte da grade. Até os brasileiros que vivem no exterior são obrigados, às vezes, a buscar maneiras não tão ortodoxas para conseguir ver os jogos ao vivo. 

Adquirir camisas e produtos oficiais também é uma grande dificuldade. Nem nas lojas oficiais das marcas, como Adidas, Puma e Nike, é possível encontrar camisas dos grandes clubes brasileiros patrocinados por elas. A exceção é a camisa da seleção brasileira, que ainda possui prestígio no mercado internacional e não é tão difícil de ser encontrada. 

O problema fica ainda mais gritante quando vemos que o mesmo não acontece com o Campeonato Argentino e com os maiores clubes do nosso vizinho. Na TV, todas as rodadas do Campeonato Argentino têm pelo menos um jogo ao vivo para toda a América Latina. Nas lojas, camisas de Boca Juniors e River Plate são encontradas com bastante facilidade, seja nas lojas oficiais das marcas ou até mesmo em estabelecimentos de rua especializados em artigos esportivos. Também não é raro que os principais programas esportivos dediquem uma parte significativa do seu tempo para falar dos resultados da liga argentina.

Os clubes brasileiros conseguem um pouco de espaço somente devido aos torneios internacionais, estes, sim, transmitidos ao vivo para diversos países e acompanhados com bastante interesse, principalmente na América do Sul. Hoje, podemos afirmar que o clube brasileiro que não se classifica para a Conmebol Libertadores ou Conmebol Sul-Americana praticamente sai do noticiário esportivo da América Latina. Longos períodos sem disputar uma dessas competições pode significar o esquecimento total de um clube. 

A aura do futebol brasileiro, maior campeão mundial, e o sucesso recente dos brasileiros na Libertadores evidentemente despertam o interesse dos fanáticos por futebol sul-americanos em querer acompanhar mais de perto os nossos clubes, no entanto a falta de conteúdo em espanhol, a quase inexistência de transmissão internacional dos campeonatos nacionais e a gigantesca dificuldade de se comprar produtos oficiais fora do país dificultam muito qualquer tentativa de engajamento internacional das marcas dos clubes brasileiros mesmo na América do Sul.

Estratégias digitais em outras línguas precisam ser muito bem elaboradas e implementadas, as transmissões de jogos ao vivo devem voltar para as TVs de outros países, produtos oficiais têm que ter distribuições globais para que os fanáticos estrangeiros possam se engajar pelos clubes brasileiros da mesma maneira que já fazem pelos gigantes argentinos. Os grandes clubes do Brasil são marcas globais, com um poder de engajamento incrível e, como tais, devem estar abertos aos mercados latinos.

Romulo Macedo é mestre em Gestão da Experiência do Consumidor, especialista em Gestão Esportiva com papéis relevantes em diversos eventos esportivos mundiais e escreve mensalmente na Máquina do Esporte

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