Carta aberta ao Neymar

Neymar precisa entender que só ele pode mudar a atual situação da seleção brasileira - Lucas Figueiredo / CBF

Fala, Juninho.

(Já começo assim para mostrar uma intimidade que não tenho, mas quero quebrar o gelo, pois preciso de cinco minutos da sua atenção)

Eu poderia escrever esse texto e fazê-lo chegar até você de diversas formas. O que não falta são amigos em comum. Inclusive, tenho um carinho enorme por todos que te cercam.

Do seu pai, passando pela Gabi, Alex, até os amigos que fazem parte do seu dia a dia. 

Pensei em mandar para o Joãozinho, o Cris, o Jota, até mesmo pelo direct do Negrete que tenho acesso aqui no meu celular. Esses dias mesmo fiz uma reunião com o Cris sobre a parceria da Furia com o Negrete.

Mas não. Essa vai publicamente para fazer com que muita gente leia e te mande. E assim, quem sabe, se tiver algum fundamento no que vou escrever, fazer você pensar sobre o caso. 

Agora que você já entendeu que somos “íntimos” e expus minha estratégia, senta aqui que preciso falar com você. 

Cara, tá muito ruim. 

Nossa camisa virou chacota. A camisa que fez você se apaixonar por futebol. A camisa que representa o que sempre tivemos orgulho na história desse país. 

Um futebol leve, bonito, para frente e vencedor. Favorito em qualquer campo que entrava. Fomos nascidos e criados tendo a seleção brasileira sempre como a maior de todas, e as outras vinham depois. Mas isso acabou.

Os brasileiros estão se distanciando da seleção e isso é consequência de diversos fatores. 

Enfim, não vou me aprofundar na parte negativa, porque essa com certeza você sabe. 

Sempre que tenho um problema, tenho como característica focar na solução. Olhar para frente. E é aí que começa a mensagem para você. 

Você tem noção do seu tamanho? 

Você tem noção do poder e da força que seu nome tem? 

Já parou para pensar que se tem uma pessoa capaz de mudar esse cenário, essa pessoa é Neymar da Silva Santos Júnior? 

E não estou falando com a bola no pé. Porque isso ninguém dúvida. Só os haters.

Estou falando de mobilização. Da marca NJr entrar em ação. Desenvolver um plano de marketing em que você será o líder desse processo de resgate da identidade e do pertencimento da seleção. 

Óbvio que não estou falando para você parar de focar no futebol e virar o diretor de marketing da seleção. Não. Jamais.

Só estou falando que, com a influência e idolatria que tem, você pode liderar um movimento jamais visto na história da seleção. 

E não é difícil. Aliás, é difícil sim, mas basta você querer, entender o seu papel de liderança nesse ecossistema e colocar a máquina para funcionar. 

Tenho lido e estudado muito sobre ídolos como Senna, Guga, que são caras que carregavam um DNA e uma brasilidade rara de se ver. 

Você não precisa ser nenhum deles. Assim como acho que boa parte dos ídolos que temos que jogassem na era digital e com esses haters de plantão, não teriam a percepção que possuem hoje. 

Por isso, meu pedido é que você faça essa reflexão e entenda que só você pode mudar esse jogo. Não é nem o presidente da CBF. É você!

São várias pequenas ações que, juntas, formarão um grande quebra-cabeça. Ações isoladas não surtirão efeito algum.

Vamos lá…

Primeiro de tudo, você como líder e possível capitão do hexacampeonato mundial, precisa juntar os principais nomes desse grupo de atletas da seleção e mostrar para eles que cada um é uma peça dessa engrenagem. Vou chamá-los de maneira figurativa de “Tropa do Hexa”.

Vini Jr., Ederson, Marquinhos, Lucas Paquetá etc. Aqueles que você tem mais intimidade e sabe que estarão com você em 2026. 

Qual é o papel deles? Minimamente replicar e propagar as iniciativas que você desenhará. Sem eles, a ação morre de largada.  

Primeira delas

Listar os 30 amigos brasileiros mais famosos que você conhece. Meu palpite aqui é que essa lista terá nomes como Luciano Huck, Anitta, Gabriel Medina, Virgínia, Thiaguinho, Cazé etc.

Você convocará esses 30 pra fazer parte de um “squad” da seleção, uma espécie de “os parças da seleção”.

Esse time terá direitos e deveres. 

Alguns dos deveres: 

Alguns dos direitos: 

“Ah, mas a Anitta cobra pra fazer esses posts”. Sim, concordo. Trabalho com isso. Mas, se você pedir, tenho convicção de que ela não cobrará. Até porque será uma forma de contaminação do bem. Uma onda positiva. Muitos farão de graça, e quem não fizer em um primeiro momento, fará no segundo. 

Ninguém tem coragem de negar um pedido seu. 

Sobre os amigos, queria falar sobre dois deles.

Luciano Huck e Thiaguinho. 

Um dos grandes problemas que temos é a falta de identificação do torcedor com a CBF. 

Certamente você conhece o Movimento Verde e Amarelo, uma tentativa de apaixonados pela seleção de gerar esse engajamento. Mas está muito aquém do ideal.

Será que, estruturando-o, não conseguiríamos pensar em uma campanha, mesmo que para a internet, para escolher as musicais oficias da torcida brasileira? 

Thiaguinho ajuda na melodia. Luciano ajuda na divulgação. Eu sou amigo do Tiago Leifert. Esse será um grande entusiasta.

A gente cria um site, a galera escreve as músicas, você vai compartilhando no seu perfil. Imagina a “Tropa do Hexa” em peso ajudando a escolher a música?

Daria para montar um júri técnico e um júri popular. 

Pronto. Essa iniciativa fará com que tenhamos a música que servirá para embalar a caminhada para o Hexa. 

Se o Luciano virar um embaixador ao seu lado nessa mobilização, há um grande potencial de trazer uma Cimed, por exemplo, para envelopar isso. 

Ainda sobre a “Tropa do Hexa”: você teria como pedir para eles pelo menos tentarem publicar stories assistindo aos jogos aqui do Campeonato Brasileiro, ou saindo em fotos despretensiosamente com camisas de clubes aqui do Brasil? 

Um exemplo

Marquinhos está na França e jogou em um sábado. No domingo, o Corinthians estará em campo. Ele posta um stories com “Vai Corinthians” e marca o perfil do Corinthians. Ele é Nike, então não terá problema com a questão das marcas.

Isso fará com que o Corinthians crie uma empatia com ele. Repostará o Marquinhos, e os corintianos perceberão que ele está antenado com o Brasil e com os brasileiros, mesmo que sejam só os corintianos.

Quer um bom exemplo? Thiago Silva sempre fez isso com o Fluminense. Philippe Coutinho com o Vasco. Você mesmo com o Santos.

Nós, brasileiros, precisamos criar empatia com os atletas da seleção.

No grupo do WhatsApp da “Tropa do Hexa”, posso dar várias dicas para você compartilhar com eles. 

Várias pequenas ações farão com que as pessoas criem mais empatia por cada um deles. 

Outro exemplo: Jogos das Eliminatórias

Você solicitará à CBF que pelo menos 5% ou 10% da carga de ingressos dos jogos da seleção no Brasil não sejam comercializados. 

Vamos combinar que, na fase em que estamos, a CBF não precisa se preocupar com parte da renda de um jogo do Brasil. Até porque isso voltará três vezes maior lá na frente. 

Essas cortesias serão fundamentais para uma série de ações que você pode cobrar o marketing da CBF a desenvolver. Campanhas de engajamento para despertar a vontade do torcedor de estar lá. 

E aí você criará um rodízio entre os atletas do “Grupo da Tropa” em que, a cada cidade que a seleção jogar, dois deles obrigatoriamente terão que visitar um colégio público pra interagir com as crianças e distribuir ingressos para os melhores alunos. 

Cidade 1: Neymar e Marquinhos (você precisa ser o primeiro para dar exemplo);
Cidade 2: Ederson e Eder Militão;
Cidade 3: Bruno Guimarães e Estêvão 

E por aí vai… 

Sabe outra coisa que podemos pensar mais para frente, talvez em uma “Fase 2”? Como conectar os ídolos do passado com o grupo atual.

Criar conteúdo e histórias que reforcem o vínculo do Yan Couto com o Cafu, do Paquetá com o Ronaldinho Gaúcho, do Rodrygo com o Zico. Ou seja, “usarmos” a imagem dos grandes ídolos da história da seleção como conexão para quem está vindo agora. Isso fará com que valorizemos a importância deles nessa caminhada. Talvez nem todos topem participar, mas o que não falta é ídolo para convocarmos.

Mudando de assunto

Você percebeu que ninguém comentou o fato de você ter ido para os EUA acompanhar in loco os jogos da seleção? Sem perder nenhum dia de fisioterapia e recuperação? 

Se você não fosse, a crítica viria. Mas você foi, e ninguém elogiou.

Eu conheço muita gente que te conhece, mas conhece de verdade, e nunca ouvi ninguém falar mal de você. Quem fala mal é quem não conhece. 

O fato é que você é uma celebridade. Cada vez mais tenho convicção de que as pessoas precisam conhecer mais o “Juninho” na Pessoa Física, e isso passa por uma estratégia grande de relações públicas. Mas aí deixo para outra hora, porque você precisa querer e estar aberto.

Mas você precisará se abrir para a grande mídia. Ceder entrevistas, falar do seu momento, de tudo que está acontecendo. Entrevistas que imagino que você, nos últimos anos, tenha negado bastante.

Porém, você negociará com o veículo, que a contrapartida dessa entrevista é um mínimo de pautas que retratem a história de pessoas que ainda são apaixonadas pela seleção.

Outra coisa que você pode ajudar cobrando a CBF

Os patrocinadores da seleção precisam fazer parte desse processo, cada um com a sua área de atuação. De nada adianta eles colocarem milhões na seleção e não maximizarem esse ativo. Colocar campanha no ar só em 2026 vai ser tiro na água. Tem que começar de forma mais modesta, mas agora mesmo. Tem muita marca grande ali com capacidade de criar ativações criativas e emotivas com o DNA do futebol brasileiro. Basta querer e entender o tom, e não usar um dos grandes nomes do futebol brasileiro em uma campanha “fake”.

Por falar nessa relação com as marcas, você poderia criar um Comitê de Gestão com grandes nomes do mercado corporativo. Nomes que são apaixonados pela seleção e participariam desse Comitê para desenvolver as iniciativas até 2026. Tiago Leifert, João Adibe, Nizan Guanaes etc. Eles também não negarão um convite seu. Confia em mim!

Missão do grupo: uma agenda por mês para falar sobre essa estratégia da relação entre o Brasil e seus torcedores.

O último fator é o mais importante

Costumo dizer que “o futebol é maravilhoso, o que atrapalha é o jogo”, ou seja, não adianta desenvolvermos ações criativas, mas o rendimento dentro de campo não corresponder. Então, a única coisa é reforçar o que você já faz, exercer o papel de liderança dentro do grupo para que os atletas deem a vida dentro de campo. Ter brio e paixão por essa camisa. E não um pensamento de “nós poderíamos estar de férias”. Seu Dorival tem um papel-chave nesse processo, hein!

Percebeu que você terá mais trabalho fora de campo do que dentro, né?

Esse meu texto obviamente é uma obra fictícia com algumas ideias que poderiam contribuir para melhorar a percepção dos brasileiros com a seleção. É claro que seu foco é dentro de campo e seria impossível que conseguisse manobrar essas iniciativas entre jogos e treinos.

Até porque fazer o que todo mundo espera de você dentro de campo e desenvolver uma iniciativa desse tamanho seria trabalho para praticamente um super-herói.

Esse texto é apenas uma reflexão importante da participação de cada peça dentro desse ecossistema chamado seleção brasileira. CBF, atletas, ídolos, imprensa…

Fica aqui o meu desejo de um dia conseguirmos ver aquele envolvimento dos brasileiros com a seleção de pintar a rua, reunir as pessoas nos “Alzirão” por todo o Brasil. Literalmente parar para ver a seleção. O Brasil precisa chegar como favorito dentro de campo, mas, ao mesmo tempo, muita coisa precisa ser feita fora dele.

Bernardo Pontes, executivo de marketing com passagens por clubes como Fluminense, Vasco, Cruzeiro, Corinthians e Flamengo, é sócio da Alob Sports, agência de marketing esportivo especializada em intermediação e ativação no esporte, que conecta atletas e personalidades esportivas a marcas, e escreve mensalmente na Máquina do Esporte

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