Na última sexta-feira (3), a Federação Internacional de Automobilismo (FIA) anunciou as fornecedoras de motores para a F1 a partir de 2026. A lista é ampliada das quatro marcas atuais para seis, com a já esperada inclusão da Audi (no marco de seu negócio com a Sauber) e a surpreendente aparição da Ford, associada à Red Bull.
Ainda que ausente do campeonato há décadas, a montadora norte-americana tem história na categoria máxima. O motor Ford-Cosworth aparece em terceiro lugar no ranking histórico de propulsores com mais vitórias da F1, levando troféus de primeiro lugar com Lotus, Tyrrell, McLaren e Williams, além do primeiro campeonato do mundo conquistado por Michael Schumacher na Benetton.
Ainda no componente emocional na história do retorno à categoria, a associação à Red Bull significa uma “volta para casa”, uma vez que a equipe rubro-taurina ingressou no circo da F1 justamente comprando a Jaguar Racing do conglomerado Ford no fim de 2004.
A plataforma técnica é outro apelo importante, uma vez que, após o anúncio do fim de sua cooperação com a Honda, a Red Bull investiu pesado em uma unidade de desenvolvimento de motores, de modo que, quando ingressar na F1 em três anos, os americanos da Ford não começarão do zero. O ponto de partida, aliás, é formidável, com a equipe sendo dominante no último ano.
Objeto de farta cobertura no site oficial da F1, em contraste com o silêncio sobre as intenções da Andretti ingressar na categoria com motores Cadillac, marca da família General Motors (GM), o retorno da Ford teve seu pontapé inicial justamente em conversas iniciadas no Brasil em 2022.
É impossível não comparar o retorno da Ford com o projeto 100% Made in USA da Andretti com a Cadillac, abordado neste mesmo espaço no mês passado.
Por diversos motivos, a Ford aplicou uma senhora ultrapassagem na GM, sua concorrente direta. Está associada não apenas a uma, mas a duas equipes de F1 (a AlphaTauri também será equipada com seus motores), que já existem estruturadas e fazem parte do clube da F1.
O interesse da Andretti com a Cadillac, embora positivo para ampliar o número de vagas no grid e proporcionar mais patrocinadores associados à F1, é um projeto embrionário e complexo. Além de todo o esforço para competir no maior palco do esporte a motor do mundo, o pleito dos americanos precisa ser aceito pelos dez times hoje presentes no grid. E eles obviamente não estão muito interessados em dividir por onze equipes a receita que hoje é repartida por dez, ainda que a FIA pressione nesse sentido.
Independentemente da disputa em torno do eventual ingresso da 11ª equipe no grid, merece ser enaltecido o movimento da F1 no sentido de atrair novas montadoras a partir de 2026.
É claro que o sopro de inovação na promoção do campeonato pela Liberty Media e o rejuvenescimento da base de fãs é um fator primordial. Mas o regulamento técnico proposto para os motores em três anos foi um golaço da F1.
Em sintonia com as demandas dos mercados mais maduros e alinhada com seu compromisso F1 Net Zero 2030, lançado em 2019, a categoria reforçou a eletrificação dos motores e estipulou que as unidades a combustão corram com 100% de combustíveis sustentáveis.
Assim, mais uma vez, atingiu um dos pilares do automobilismo, o conceito “from track to road”. A indústria usa a competição como laboratório para pesquisa e desenvolvimento de novas soluções, que posteriormente serão transferidas dos carros de competição para os veículos de rua. A lista de peças de carro nascidas nas corridas é gigantesca, indo do espelho retrovisor à suspensão ativa, freios ABS e uma longa lista de etc.
Não por acaso, há seis montadoras comprometidas com a F1 a partir de 2026. As já citadas Audi e Ford, além de Alpine (Renault), Ferrari, Mercedes e Honda, esta ainda sem uma equipe anunciada para fornecimento.
Luis Ferrari é CEO da Ferrari Promo e escreve mensalmente na Máquina do Esporte sobre esporte a motor