Em janeiro deste ano, quando a World Surf League (WSL) anunciou a equipe de transmissão em português para a temporada 2024, pode ter causado surpresa. Com as transmissões ao vivo já disponíveis no Sportv, parecia que seria apenas mais uma linha de custo para a operação no Brasil. Agora, 10 meses depois, com o fim da temporada, é possível ver o impacto significativo que a produção de conteúdo teve para os patrocinadores e na expansão do público.
A WSL já realizava um trabalho competente transmitindo as competições em seu site e no YouTube para todos os países em inglês, uma decisão, acredito, motivada pela imprevisibilidade das condições das ondas, que afetam o cronograma das baterias. Essa mesma imprevisibilidade, inclusive, é o que dificulta a transmissão do conteúdo em canais de TV aberta.
A estratégia foi buscar um alcance maior, ampliando o público das transmissões. Embora a TV paga ofereça alta qualidade e um bom público, as assinaturas limitam o alcance de fãs e, consequentemente, a visibilidade dos patrocinadores. O fácil acesso ao conteúdo on-line permite que novas gerações de consumidores descubram o surfe, aumentando a base de fãs e potenciais praticantes do esporte.
Para mim, no entanto, o maior impacto está na visibilidade ampliada para os patrocinadores. O sinal aberto no site da WSL e no YouTube cria oportunidades de monetização e valorização do conteúdo. Diferentemente da transmissão tradicional, onde o canal detém os direitos comerciais, a WSL controla diretamente as inserções publicitárias, vinhetas e vídeos promocionais. Na última etapa no Brasil, Banco do Brasil, Corona e Kaiak (Natura) ganharam excelente exposição com comerciais de 30 segundos em formatos de alta qualidade.
Um exemplo de integração eficaz é o alerta de 2 minutos para o fim da bateria, patrocinado pelo Banco do Brasil. Além disso, a presença do logotipo da Corona, que assina a publicação dos resultados, agrega valor e cria uma conexão direta entre as marcas e os apaixonados pelo esporte. As transmissões da WSL oferecem todos os formatos tradicionais de uma emissora de televisão, mas abrem possibilidades de ampliação das ativações diretas, como o uso de QR Codes.
Quem, como eu, trabalha vendendo ideias e patrocínios, sabe que estamos sempre em busca de números expressivos para atrair grandes marcas. Os anunciantes que investem nesse esporte buscam um público verdadeiramente engajado e conectado ao universo do surfe, não o consumidor comum. E, às vezes, a busca por grandes massas nos faz esquecer o valor de um público segmentado e altamente interessado.
É fato que o surfe ganhou mais visibilidade com as recentes conquistas brasileiras e a chegada às Olimpíadas, ou seja, o público já entende melhor os princípios das competições e o formato das baterias. Além disso, sem dúvida, o visual do esporte é um grande atrativo.
Mas, ao controlar parte das transmissões, a WSL ganha um novo ativo: dados de audiência e uma crescente capacidade de personalização. Quanto mais a WSL investir na análise de dados, mais robustas se tornarão suas estratégias. No sinal aberto, a identificação do público ainda não é possível, mas, no aplicativo da WSL, a interação direta gera uma riqueza de dados e abre novas oportunidades.
Esse modelo de transmissão em português, narrado por Edinho Leite e Renan Rocha e com as entrevistas de Maíra Pabst, tornou-se um ativo de patrocínio que aproxima ainda mais o público brasileiro do esporte. É um exemplo que pode ser replicado por outras modalidades que ainda não encontram espaço nas transmissões tradicionais de TV aberta ou paga.
O desafio é colocar a operação no ar, dadas as estruturas e custos envolvidos. Mas, uma vez superada essa barreira, o conteúdo passa a agregar valor real aos pacotes de patrocínio. Um conselho importante: nunca trate esse conteúdo como bonificação. Minha experiência mostra que o que é oferecido gratuitamente acaba não sendo devidamente valorizado pelos patrocinadores.
Parabéns à WSL pelo brilhante trabalho em seus canais de transmissão. Como fã do surfe, devo dizer que passei a acompanhar as competições com mais frequência graças ao excelente conteúdo oferecido de forma gratuita.
Regi Andrade é um vendedor de ideias especializado na área comercial de veículos de comunicação, tendo trabalhado em TV aberta, TV fechada, internet, jornal, rádio, revistas e eventos. Hoje, como diretor comercial da Máquina do Esporte, orienta clientes a maximizarem seus investimentos em mídia e patrocínios por meio de projetos de comunicação, além de contribuir com artigos sobre publicidade e patrocínio