Durante muito tempo, esporte profissional em Las Vegas era apenas mais um objeto de apostas em um dos muitos cassinos da cidade. Tudo mudou entre 2017 e 2018, quando a Suprema Corte derrubou uma proibição em quase todos os estados e a cidade anunciou a chegada do seu primeiro time profissional, o Las Vegas Golden Knights, que disputa a liga de hóquei no gelo (NHL). Contei tudo isso em uma coluna aqui, na Máquina do Esporte, em maio do ano passado.
A mudança na legislação do mercado de apostas veio junto de uma transformação da própria cidade, que deixava de focar nos jogos dos cassinos e nas apostas para ter no entretenimento e no turismo os principais atrativos. O casamento de Las Vegas com o esporte profissional americano parecia inevitável. Depois dos Golden Knights, vieram o basquete feminino (WNBA) com os Aces e o futebol americano (NFL) com os Raiders. O beisebol (MLB) está próximo de mudar os A’s de Oakland para Vegas, a Fórmula 1 terá corrida na cidade e a NBA está seriamente interessada.
Com toda essa força, como Las Vegas perdeu a disputa por uma franquia da Major League Soccer (MLS) para San Diego?
Há cerca de um ano, a disputa por um time parecia moleza. O comissário da MLS, Don Garber, chegou a dizer que Las Vegas era uma das favoritas para o futuro próximo. Um grupo de empresários que negociava pela cidade chegou a registrar o nome Las Vegas Villains para o projeto, os Vilões de Las Vegas. Além disso, a cidade se aproximava do futebol com a realização da final da Copa Ouro da Concacaf em 2021 e amistosos de grandes times europeus no Allegiant Stadium.
Mas quem vai colocar o time em campo como a trigésima franquia da MLS em 2025 é San Diego. A cidade do sul da Califórnia teve em uma grande perda recente um dos seus principais trunfos. Com a saída dos Chargers da NFL, San Diego ficou com apenas dois times profissionais nas grandes ligas: os Padres no beisebol e o Wave no futebol feminino. Alguns dos times de maior sucesso da MLS em patrocínio e cobertura de mídia estão em mercados menos saturados no cenário do esporte profissional: oito das dez melhores médias de público da MLS são de clubes de cidades que não têm ao menos um time em outras ligas como NFL, NBA, MLB e NHL.
Outro fator a favor de San Diego é a cultura do futebol. A cidade tem enorme influência mexicana, já que fica a aproximadamente meia hora de carro de Tijuana. Jogando na National Women’s Soccer League (NWSL), a liga feminina de futebol, o Wave tem média de 21 mil torcedores por jogo.
Além disso, San Diego está pagando alto pela franquia: US$ 500 milhões, muito mais do que os US$ 325 milhões pagos por Charlotte em 2019. Os times da MLS estão valorizados na comparação com outras ligas por causa do potencial do futebol para os próximos anos, em especial com a realização de boa parte da Copa do Mundo da Fifa de 2026 nos EUA.
O sucesso de Charlotte, Atlanta e Seattle em estádios de futebol americano fez a MLS diminuir a pressão por um estádio próprio e específico para o futebol, embora seja preferência para os times da liga por causa das receitas que pode proporcionar. No caso de San Diego, os jogos serão no Snapdragon Stadium, estádio da Universidade San Diego State, que foi inaugurado no ano passado e tem capacidade para 35 mil torcedores.
Especialistas acreditam que a MLS ainda tenha potencial para chegar a 32 equipes, o que daria a Las Vegas mais duas oportunidades de conseguir uma equipe nos próximos anos. As chances seguem boas, mas outras cidades interessadas, como Detroit, Phoenix, Sacramento e Tampa, agora têm o exemplo de San Diego para seguir.
Sergio Patrick é especializado em comunicação corporativa e escreve mensalmente na Máquina do Esporte