Você algum dia imaginou que as redes sociais ou as plataformas de interação pudessem ditar não só as regras de consumo das pessoas, mas também o nosso comportamento?
Para se ter uma ideia, no Brasil, são 171,5 milhões de usuários ativos nas redes sociais, 79,9% da população brasileira. Isso quer dizer que tem muita gente conectada e sendo influenciada pela era da conexão e por novas tecnologias que invadem nossa vida quase sem pedir licença.
Poderíamos estar falando da famosa série de ficção científica Black Mirror, da Netflix, que vem antecipando uma série de novas aplicações, mas estamos diante de algo real e do assunto do momento nas últimas semanas, em que milhões de acessos foram realizados na plataforma de diálogo ChatGPT.
Para quem não sabe, o ChatGPT ultrapassou a marca dos 100 milhões de usuários no mundo, tornando-se rapidamente o aplicativo com o crescimento mais rápido da história. Para se ter noção do feito, o TikTok levou nove meses para atingir o mesmo número.
A ferramenta é capaz de produzir conteúdo e simular conversas a partir de um modelo de linguagem em inteligência artificial (IA). Desenvolvida pela OpenAI, startup de pesquisa de aprendizado de máquina fundada por Elon Musk, a ferramenta de IA se comporta como um mecanismo de buscas.
Especializada em conversação contínua, a tecnologia é capaz de receber perguntas dos usuários e respondê-las. Além disso, o chatbot gera rascunhos de e-mail, sugestões de códigos, poemas, textos acadêmicos e cria peças e posts com base na orientação descritiva do usuário.
Nesse sentido, é possível dizer que ainda estamos no início dessa revolução, mas já é possível afirmar que, em um curto espaço de tempo, poderemos aplicar o ChatGPT no marketing esportivo com o entendimento claro de que a ferramenta não substitui o trabalho humano, mas seguramente atuará como um grande facilitador dele.
A inteligência artificial pode gerar textos sobre praticamente qualquer assunto. Isso não quer dizer que desempenhe a mesma função de uma produção de conteúdo real, e poderá gerar confusão se não for bem ajustada ao propósito correto da tecnologia.
Sendo assim, três pontos me chamaram a atenção com as primeiras impressões de muitos usuários ao testá-la.
1) O conteúdo será similar ao de outras marcas, já que a resposta se baseia em páginas existentes. No futebol em especial, identidade e característica de cada clube são seguramente importantes, e usar indevidamente a palavra “Fiel”, por exemplo, para um clube que não use essa alcunha, certamente gerará um problema enorme se publicado indevidamente ou no clube errado.
2) Se o texto gerado não abordar as necessidades do seu público-alvo, poderá haver alguma fricção com o consumidor, sem a observação necessária dos diversos tipos de público que consomem esportes em geral. Nem sempre o torcedor que compra uma camisa nova do seu time do coração a cada ano é o mesmo que vai ao estádio na maioria dos jogos da temporada. Tratar esses torcedores de forma padronizada pode ser um erro e gerar como consequência a perda de engajamento e de receitas.
3) As informações podem estar erradas e isso fica claro com o teste feito pelo GE em uma matéria publicada no início do mês, em que o ChatGPT afirma que o Santos Futebol Clube é o time com mais títulos nacionais. Na verdade, o detentor dessa marca é a Sociedade Esportiva Palmeiras, que acabou de conquistar seu 11º campeonato nacional em 2022.
Na imprensa, o The New York Times classificou a aplicação como o “melhor chatbot de inteligência artificial já lançado para o público geral”. Além disso, o ChatGPT ganhou o título de “Breakthrough of the Year” (“Descoberta do Ano”) do The Atlantic. Já o The Guardian afirmou que a tecnologia impressiona pelo seu detalhamento e similaridade com a escrita humana.
E no mercado esportivo, como podemos usar o ChatGPT?
Com pesquisas de mercado que ajudem as marcas a entender o quão atrativo pode ser a ativação de produtos e serviços no universo esportivo. Isso possibilitará a criação de novas ideias para conteúdos e ações que conectem um público que não são “heavy user” de futebol. Dessa forma, serão criadas diferentes possibilidades de comunicação com novos tipos de consumidores e novas conexões com clubes de futebol, por exemplo.
Briefings mais completos para marketing de conteúdo esportivo e novas sugestões de tópicos a abordar. Conectado com o ponto acima, existe uma enorme oportunidade de conexão com o público jovem que não fica mais os 90 minutos vidrados em uma partida de futebol, mas seguramente são entusiastas de novas tecnologias. Aqui, há espaço para gerar informações em tempo real e em formato de bate-papo, como é a proposta do ChatGPT, podendo, assim, atrair novos adeptos ao esporte, estimulados pelo uso da tecnologia.
Um aspecto interessante é que a plataforma pode trazer inspiração para criar descrições para o e-commerce com base nas características dos produtos que deveriam ser comercializados por um clube de futebol.
Você já deve ter desejado comprar a bola do jogo ou a camisa do craque da partida, mas os clubes ou as marcas esportivas não possuem informações seguras se, de fato, isso fica de pé para que se torne uma forma de consumo constante. Entretanto, o uso adequado da inteligência artificial, conectada em tempo real com o torcedor, poderá trazer dados concretos sobre essas possiblidades de novas receitas.
Por outro lado, os buscadores na internet deverão implementar algoritmos cada vez mais rígidos contra conteúdos gerados por inteligência artificial, punindo empresas que recorrem a eles e que possam gerar desinformação de qualquer tipo e indução de consumo não sustentável ou sem respeito à Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD).
E você, já testou o ChatGPT e fez aquela pergunta marota só para testar se ela te responde qual clube brasileiro é campeão mundial?
Será que esse texto foi escrito pelo ChatGPT ou por mim mesmo?
Até a próxima!
Reginaldo Diniz é cofundador e CEO do Grupo End to End e escreve mensalmente na Máquina do Esporte