As eleições para presidência do Comitê Olímpico do Brasil (COB) realizadas na semana passada dominaram as conversas na imprensa e nas redes sociais. Discussões sobre um possível terceiro mandato e a vitória de Marco Antonio La Porta sobre Paulo Wanderley Teixeira foram os grandes temas. Mas o pleito marcou de forma ímpar a democracia olímpica do Brasil de outra forma, talvez até mais contundente: pela primeira vez, duas mulheres foram eleitas para cargos estratégicos da entidade máxima do esporte nacional.
“Acho que escrevi mais uma linhazinha na história do esporte brasileiro”, disse, com um sorriso tímido, Yane Marques, medalhista olímpica em Londres 2012 no pentatlo moderno, em sua participação no Redação Sportv no dia seguinte à votação.
Nunca, em seus quase 120 anos de história, uma mulher sequer havia concorrido a um posto na presidência do COB. Yane não apenas concorreu, mas foi eleita vice-presidente na chapa de La Porta. Na mesma quinta-feira (3 de outubro), Daniela Castro, diretora-executiva da ONG Pacto pelo Esporte, foi a mais votada para uma cadeira como membro independente do Conselho de Administração do COB. Outro feito tão inédito quanto valioso.
Em um mundo em que a pauta da equidade de gênero é incontornável, ter duas mulheres com voz ativa na tomada de decisão de grandes organizações não deixa de ser um sinal de maturidade em termos de governança corporativa. É também um ato (por que não?) de coragem de dirigentes acostumados com uma ordem que talvez não seja mais a ideal. No desconforto da mudança é que se abre espaço para a evolução.
Yane e Daniela desbravarão um caminho que, no médio prazo, certamente inspirará outras mulheres para fazerem o mesmo. Talvez tenham dificuldades. Talvez não. É certo, porém, que, bebendo dessa fonte de oportunidade, o movimento olímpico brasileiro dá sinais inconfundíveis de alinhamento não só com a Agenda 2020+5 do Comitê Olímpico Internacional (COI) como também com os anseios da sociedade.
Se nos Jogos Olímpicos de Paris 2024 as mulheres já provaram que estão mais do que prontas para vencer, liderar e jogar com o peso da responsabilidade nas costas, agora é na tomada de decisão que elas poderão continuar fazendo a diferença e mudando a cara (para melhor) do esporte brasileiro.
Deus me livre não ter uma mulher CEO (ou na presidência, ou no conselho).
Manoela Penna é consultora de comunicação e marketing, e escreve mensalmente na Máquina do Esporte