Não vou negar que o dedo coçou. E por pouco não arrisquei dar lances em alguns itens bem interessantes, que apareceram em preços bem interessantes. Claro, com US$ 1 valendo mais de R$ 5, qualquer compra internacional precisa ser bem-calculada, até porque é preciso controlar os impulsos. Não dá para brincar em leilão. Mas, para quem gosta de memorabília e está sempre ligado em oportunidades, no “festival” promovido nesta terça-feira (28) pela Julien’s Auctions, casa de Beverly Hills, sobrou motivo para aumentar a coleção. Ou até começar uma.
O leilão, batizado de “Sports Legends”, não teve muita mídia, foi divulgado dias antes da data de abertura dos lances, o que aconteceu na manhã da terça-feira (28). Pelo acervo que se apresentava, não entendi a estratégia, não fez muito sentido, uma vez que estamos falando de quase 600 lotes, peças de nomes como Michael Jordan, Kobe Bryant, Diego Maradona, Pelé, Lionel Messi, Cristiano Ronaldo, Joe Montana, John McEnroe, Tiger Woods, Muhammad Ali (Cassius Clay também), Ayrton Senna e Michael Schumacher, entre outros.
Tudo leiloado em poucas horas.
Eram camisas, capacetes, bolas, bastões, luvas, troféus, medalhas, uma enorme variedade de itens históricos, autografados e/ou únicos, com vendas que começaram em US$ 50 e alcançaram o patamar de US$ 50 mil (cerca de R$ 265 mil), caso da camisa da Argentina usada na final da Copa do Mundo de 1986, autografada por Maradona. Sim, camisa da final do Mundial da “Mano de Dios”, com dedicatória a um radialista. E o curioso é pensar que a camisa do confronto contra a Inglaterra foi vendida há algumas semanas por quase R$ 45 milhões.
Os fãs de Maradona encontraram várias outras peças do “Pibe de Oro”, e outra que chamou a atenção foi a do Argentinos Juniors, arrematada por US$ 25 mil (mais de R$ 130 mil), com assinatura do craque.
Luvas de Muhammad Ali (ainda como Cassius Clay), uma bola oficial da primeira Copa do Mundo (1930), uma enorme variedade de troféus que foram de Alfredo Di Stéfano, medalhas (a de bronze de Pequim 2008 saiu por US$ 16 mil) e tochas olímpicas, uma bola de beisebol assinada por Babe Ruth (US$ 19,2 mil), bolas, tênis e camisas com autógrafos de Magic Johnson, Larry Bird e Michael Jordan (a camisa da temporada de rookie do astro do Chicago Bulls saiu por mais de US$ 25 mil, e o par de tênis da temporada 1995/1996 por quase US$ 45 mil. Tinha um pouco de tudo.
Mas o que me chamou mais atenção foi a quantidade de peças de atletas brasileiros. E não estou falando apenas de Pelé, com destaque para uma camisa usada em 1964, vendida por US$ 25 mil. Estou falando de itens raros de se encontrar por aqui e que são bastante valiosos, como uma camisa do Fluminense usada por Rivellino na época da “Máquina Tricolor” (década de 1970), outra de Ademir da Guia, na “Academia” do Palmeiras, uma “amarelinha” de Sócrates da Copa do Mundo de 1986, camisa do Flamengo e chuteiras autografadas por Zico, uma camisa de Romário no Barcelona, outra de Ronaldo Fenômeno no Cruzeiro. E muitas outras.
Toda vez que vejo um anúncio ou acompanho um leilão de memorabília, fico me perguntando por qual razão isso não acontece no Brasil. Aqui, temos a cultura do colecionismo, de colecionar “tudo e qualquer coisa”, ainda mais quando falamos em itens esportivos, mas subir o nível e colecionar itens mais premium é uma prática que poucos cultivam no nosso país. São raríssimas as iniciativas. É a história do nosso esporte que não é valorizada, que acaba se perdendo.
Samy Vaisman é jornalista, sócio-diretor da MPC Rio Comunicação (@mpcriocom), cofundador da Memorabília do Esporte (@memorabiliadoesporte) e escreve mensalmente na Máquina do Esporte