Pular para o conteúdo

Em novos tempos na CBF, seleção brasileira precisa jogar também no digital e nas redes

Atualmente, conteúdo é restrito a eventos esporádicos e não há uma comunicação multilíngue; é preciso entender que o relacionamento com o público não começa no apito inicial nem termina no apito final

Carlo Ancelotti caminha entre Fábio Seixas (novo diretor de comunicação da CBF) e Samir Xaud (novo presidente da CBF) - Rafael Ribeiro / CBF

A Confederação Brasileira de Futebol (CBF) vive um momento de reorganização institucional. Com uma nova presidência e mudanças em cargos estratégicos, como o de comunicação (com o craque Fábio Seixas), abre-se uma rara janela de oportunidade para que a entidade reconstrua sua relação com o público mais importante que existe: os torcedores. Não apenas os brasileiros espalhados pelo país, mas também os milhões de fãs internacionais que enxergam a seleção como um símbolo global do futebol. Até aqui, a CBF não ocupou esse espaço com a relevância e a consistência que a marca da seleção brasileira merece.

Hoje, a presença digital da CBF é limitada. O conteúdo sobre a seleção masculina principal se restringe, em geral, a convocações, treinos e jogos, ou seja, eventos esporádicos e concentrados. Entre uma Data Fifa e outra, o torcedor não encontra grandes razões para acompanhar os canais da entidade. Não há um esforço contínuo de “storytelling”, de humanização dos atletas, de resgate da memória ou de valorização dos talentos espalhados pelo Brasil e pelo mundo. Em tempos em que os algoritmos favorecem a frequência e o engajamento emocional, esse vácuo é um desperdício estratégico.

Outro ponto é a ausência de uma comunicação multilíngue. A seleção brasileira é uma potência internacional, uma das marcas esportivas mais prestigiadas do mundo, seguida por torcedores de todos os continentes. Ainda assim, a CBF se comunica exclusivamente em português, deixando de lado o potencial de relacionamento com uma audiência global. A seleção, com todo o seu peso cultural, precisa ter outra atuação nas redes, com equipes dedicadas à produção em diferentes idiomas, ativando fãs e expandindo o valor da marca.

Para felicidade da seleção brasileira, a nova gestão já pensa em priorizar o conteúdo.

“O digital está no centro da nossa estratégia de comunicação. É fundamental que a CBF e a seleção brasileira atinjam novos públicos, que a gente renove esse público, que a gente fale a língua de um público mais jovem. A gente vai apostar muito no digital, e acho que a gente já conseguiu mostrar muito disso na apresentação do Carlo Ancelotti, no vídeo que foi colocado hoje [terça-feira, 27 de maio, um dia após a apresentação, a primeira convocação e primeira coletiva do técnico italiano], em primeira mão nas redes da CBF, com o media day do Ancelotti, tanto em termos de linguagem quanto em termos de importância factual”, comentou Fábio Seixas, novo diretor de comunicação da CBF, que também confirmou a ideia da entidade de ter comunicação em inglês até a Copa do Mundo Fifa 2026.

“Acho que a gente tem tudo para fazer crescer a nossa comunicação. O nosso poder de comunicação e de relacionamento é enorme quando conseguimos juntar um conteúdo relevante com o factual, em uma linguagem digital, com nomes como Ancelotti, como a seleção brasileira, e com a capacidade que a CBF tem de produzir conteúdo de bastidores. Tudo isso, é claro, também vai estar à disposição das marcas que apoiam a CBF”, completou Fábio, que possui um extenso currículo, tendo longas passagens pelos mais variados meios e veículos de comunicação, entre eles Folha de S. Paulo, Sportv, Globo e LiveMode/CazéTV.

A nova gestão tem, portanto, a chance de liderar uma revolução digital na entidade. E parece entender isso para felicidade de uma das marcas mais importantes do futebol mundial, pois, além de tudo, essa mudança é uma necessidade competitiva.

A seleção precisa disputar a atenção das pessoas diariamente, como fazem clubes, influenciadores e marcas. Uma entidade moderna entende que o relacionamento com o público não começa no apito inicial nem termina no apito final. Começa no digital, todos os dias. A partir de agora, a CBF tem uma nova oportunidade de fazer história também fora das quatro linhas.

André Stepan é diretor de marketing do canal Goat e head de desenvolvimento de negócios da Horizm no Brasil e na América Latina