Estádios cheios e impacto econômico positivo: O legado da Copa do Mundo de 2014

Arena Castelão, em Fortaleza (CE), recebeu grande público nesta segunda-feira (18) para Ceará x América-MG, jogo válido pela Série B do Brasileirão - Wilker Paz / João Pedro / Ceará

A Copa do Mundo Fifa de 2014 transformou a infraestrutura esportiva do Brasil, impulsionando a modernização dos estádios e elevando os padrões de conforto, segurança e acessibilidade. Além de preparar o país para receber grandes eventos como a Copa América (em 2019 e 2021), a Copa do Mundo Fifa Sub-17 (em 2019) e, principalmente, a Copa do Mundo Feminina (em 2027), essa renovação possibilitou estádios com maior capacidade e com uma configuração mais atrativa ao mercado. Com a inclusão de assentos numerados, camarotes incríveis, melhorias nas áreas de serviço, além do uso de “stewards” para substituir a presença ostensiva de policiamento armado, a experiência de assistir aos jogos se tornou mais agradável e acolhedora para os espectadores.

A capacitação de profissionais, iniciada com os Jogos Pan e Parapan-Americanos do Rio de Janeiro em 2007, além dos Jogos Mundiais Militares em 2011, foi intensamente aprimorada durante a realização da Copa das Confederações em 2013, da Copa do Mundo em 2014 e dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos do Rio de Janeiro em 2016, formando especialistas brasileiros que, hoje, atuam globalmente, disseminando o conhecimento adquirido em grandes eventos. Em 2022, por exemplo, o Brasil contou com mais de 300 profissionais trabalhando diretamente na organização da Copa do Mundo do Catar, demonstrando o impacto positivo e duradouro dessa formação em grandes eventos.

Este relatório apresenta uma análise comparativa da presença média de público nos estádios antes de 2014 e em 2024, ressaltando os efeitos do legado deixado pela Copa do Mundo na infraestrutura esportiva e no engajamento dos espectadores. Ao explorar o crescimento do público, o estudo busca não apenas evidenciar os impactos positivos, mas também identificar como a estruturação das áreas de serviços aos espectadores nos estádios e suas proximidades, a substituição de policiamento armado por “stewards”, o planejamento integrado das vias de transporte com a rede hoteleira e os aeroportos com os estádios contribuíram significativamente para o aumento dos espectadores nos estádios.

Esses fatores, somados ao conforto dos estádios, assentos marcados e outros serviços, contribuíram para um ambiente seguro e agradável para as famílias, tornando memorável a experiência de assistir aos jogos para os espectadores.

Os dados a seguir mostram o aumento do número de espectadores nos Estádios/Arenas, que já eram utilizados antes da realização da Copa do Mundo Fifa Brasil 2014, comparando as médias de público de então com as de 2024 (até o final do mês de outubro), após suas renovações e/ou novas instalações.

ESTÁDIO/ARENAMÉDIA DE PÚBLICO ANTES DE 2014MÉDIA DE PÚBLICO EM 2024
MARACANÃ (RJ)26.76844.507
MINEIRÃO (MG)26.00038.117
CASTELÃO (CE)20.00028.279
BEIRA-RIO (RS)20.00029.349
FONTE NOVA (BA)25.00036.218
Comparativo de cinco estádios que receberam jogos do Mundial de 2014 antes daquele ano e no ano atual

Podemos observar o crescimento significativo no público médio dos principais estádios brasileiros entre o período anterior a 2014 e o ano de 2024. A seguir, uma descrição detalhada desse aumento:

Assim, observa-se um aumento de 67% no público total, passando de 117.768 espectadores antes de 2014 para 176.470 em 2024 (até o mês de outubro), o que representa um crescimento de 58.702 espectadores.

Desde a Copa do Mundo de 2014, os estádios brasileiros passaram por uma transformação significativa, elevando os padrões de infraestrutura e proporcionando uma melhor experiência para os torcedores. Essas melhorias não só aumentaram o público médio nas arenas, mas também impulsionaram a economia local, gerando empregos temporários, maior ocupação hoteleira e movimentação do turismo nas regiões onde os eventos ocorrem.

A Arena BRB Mané Garrincha, em Brasília (DF), reformada para a Copa do Mundo, passou de uma capacidade de 45.200 para 72.788 lugares. Antes da reforma, recebeu públicos expressivos, como os 51.800 torcedores na final da Série B em 1988. Hoje, é palco de jogos de grandes clubes nacionais e shows de grande porte, impulsionando a economia local com maior ocupação hoteleira e geração de empregos temporários. A alta renda per capita da capital federal contribui para o sucesso desses eventos, consolidando o estádio como um importante centro de entretenimento.

A Arena Pernambuco (Estádio Governador Carlos Wilson Campos), em São Lourenço da Mata, na Região Metropolitana de Recife (PE), foi construída para a Copa das Confederações de 2013 e a Copa do Mundo de 2014. Com capacidade para 45.440 espectadores, a arena recebe jogos importantes dos clubes pernambucanos, enquanto partidas menores ocorrem em estádios locais. Além do futebol, sedia competições esportivas, feiras, convenções e shows, gerando impacto econômico na região, com aumento do turismo e da ocupação hoteleira durante grandes eventos. Contudo, sua localização distante do centro da capital pernambucana pode dificultar a atração de público em jogos de menor apelo.

A Arena das Dunas, em Natal (RN), foi reformada para a Copa de 2014, substituindo o antigo Machadão, com capacidade para 50 mil espectadores. Inaugurada em janeiro de 2014, tem hoje capacidade para 31.375 lugares e recebe jogos de clubes locais, shows e eventos variados, impulsionando o turismo e gerando empregos temporários. Sua arquitetura, inspirada nas dunas da região, é um atrativo que reforça a identidade local e atrai visitantes.

A Arena Pantanal, anteriormente Estádio Governador José Frigelli, em Cuiabá (MT), foi reinaugurada em 2014 e atraiu 17 mil espectadores em seu jogo de estreia. Apesar de grandes públicos em jogos específicos, enfrenta desafios para ocupação regular, com média de 5.960 espectadores em 2024. A baixa ocupação pode ser explicada pela distância dos grandes centros e o apelo limitado dos times locais. Ainda assim, a arena é importante para a economia local em eventos de maior porte, que geram turismo e empregos temporários.

A Arena do Grêmio, inaugurada para substituir o antigo Estádio Olímpico Monumental, possui capacidade para 55.396 torcedores e registrou média de 19.490 espectadores em 2024 (número influenciado negativamente pelas enchentes que assolaram a capital gaúcha no primeiro semestre e que levaram ao fechamento do estádio por 134 dias). Com estrutura moderna, a arena contribui significativamente para a economia de Porto Alegre (RS), movimentando setores como hotelaria, transporte e alimentação, especialmente durante clássicos e shows.

A Arena da Amazônia, construída sobre o antigo Estádio Vivaldo Lima, tem capacidade para mais de 40 mil espectadores e continua a atrair grandes públicos em jogos e eventos. Em 2024, recebeu 44 mil torcedores para Flamengo x Audax, jogo válido pelo Cariocão, reforçando sua importância econômica para Manaus (AM) ao gerar turismo e empregos temporários. No entanto, a arena enfrenta o desafio de manter a ocupação fora dos grandes eventos, por conta da distância de outros centros e o menor apelo dos clubes locais.

A Ligga Arena, antiga Arena da Baixada, em Curitiba (PR), foi a primeira da América do Sul com teto retrátil e ganhou uma ampliação para 42 mil espectadores. Em 2024, recebeu uma média de 27.711 torcedores. Localizada em uma área central, a arena atrai tanto para jogos quanto para eventos, impulsionando a economia local com geração de empregos temporários e aumento da demanda por serviços de turismo e entretenimento.

A Neo Química Arena, do Corinthians, tem capacidade para 49.205 espectadores e média de 43.208 em 2024. Com instalações modernas e fácil acesso, a arena proporciona uma experiência de alto padrão aos torcedores, além de contribuir para a economia local com o aumento de ocupação hoteleira e a geração de empregos em dias de jogos e eventos, reforçando seu papel como um dos estádios mais modernos do país.

Por fim, os investimentos em infraestrutura realizados para a Copa de 2014 transformaram os estádios brasileiros em polos de entretenimento, elevando o público e gerando impacto econômico positivo nas regiões. Essas arenas continuam a beneficiar o esporte, o turismo e a economia local, consolidando o Brasil como um destino cada vez mais apto para grandes eventos.

Ricardo Trade possui mais de 30 anos de atuação no esporte, tendo sido Secretário Nacional de Alto Rendimento do Ministério do Esporte; diretor operacional dos Jogos Pan-Americanos e Parapan-Americanos do Rio de Janeiro 2007; diretor de serviços do Comitê de Candidatura dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro 2016; diretor de marketing da Confederação Brasileira de Futsal (CBFS); diretor de competições da Confederação Brasileira de Beach Soccer (CBBS); diretor de marketing da Confederação Brasileira de Handebol (CBHb); supervisor das seleções brasileiras e, depois, CEO na Confederação Brasileira de Vôlei (CBV); CEO do Comitê Organizador da Copa do Mundo Fifa Brasil 2014; diretor sênior de operações e CEO da Confederação Brasileira de Basquete (CBB); diretor de operações do Comitê Organizador da Copa do Mundo Fifa Sub-17 Brasil 2019; diretor-geral da Copa América 2021; presidente do Comitê Organizador dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos do Rio de Janeiro 2016; vice-presidente executivo da Copa do Mundo Fifa Catar 2022, em que liderou o processo de operação da Copa do Mundo durante dois anos; CEO da Copa América 2024, realizada nos EUA; e ainda um dos membros da candidatura vitoriosa do Brasil para sediar a Copa do Mundo Fifa Feminina de 2027

Luiz Augusto Brum tem mais de 10 anos de experiência com gestão de operações esportivas e eventos nacionais e internacionais, incluindo o papel de gerente de estádio da final única da Conmebol Libertadores 2021 e na Copa América 2019, além de liderar operações nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro 2016 e na Copa do Mundo do Brasil 2014. Atualmente, é gerente de planejamento e operações na Confederação Brasileira de Vôlei (CBV)

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