A notícia de que a Fifa permitirá às cidades-sedes da Copa de 2026 venderem patrocínios locais mostra que a entidade finalmente percebeu que o torneio depende, cada vez mais, de seu país-sede. Após quase 80 anos de jogo duro contra os anfitriões das Copas, a Fifa entendeu que precisa reduzir seu poder para ter ainda mais lucratividade.
Esqueça o absurdo que foi a Copa no Catar e suas intolerâncias às minorias. Nos países democráticos em que houve Mundial, a Fifa sempre fez questão de dizer que o torneio era dela. O país-sede era um mero local de realização da grande festa do futebol.
Os anos de opulência e soberania, enfatizados pelas eras Havelange e Blatter (de 1978 a 2014), parece que começam a ser deixados de lado para privilegiar os negócios. Gianni Infantino, que em praticamente nada se diferencia de seus antecessores, sabe que é preciso ser menos poderoso para ter mais força.
Desde 2018, a Fifa tem tentado ampliar ao máximo as receitas de patrocínio com a Copa. Ao mesmo tempo, a entidade sabe que o custo de receber o Mundial fica cada dia mais pesado para o país-sede e suas cidades. A manada de elefantes brancos que acompanha a Copa desde 2010 começa a fazer barulho para o dono da Copa.
Nova Fifa, velhas estratégias
Ao abrir o patrocínio para as cidades-sede, a Fifa dá mais poder aos governadores locais. E um certo alívio para eles em relação à opinião pública. Os gastos exorbitantes em construção e reforma de estádios podem ser recompensados, ou ao menos justificados, pela entrada de parceiros locais que também participem da farra de uma Copa.
Essa, aliás, tem sido a estratégia da Fifa de Infantino. Em 2018, pela primeira vez, vendeu-se cotas de patrocínio regionais de uma Copa. Em 2026, será a vez de as cidades terem o direito de buscar parceiros comerciais locais.
É a repetição, a grosso modo, de uma estratégia trazida nos anos 1970 por João Havelange. A Copa do Mundo de 2026 será a primeira com sede tripla. Além disso, será a primeira a contar com 48 seleções. Para ter tanta gente assim, será necessário ampliar as sedes e abrir mão de tanto poder.
A festa do futebol, afinal, precisa ter um dono. Mas, se não quiser ser destronada da festa, a Fifa precisa ter cada vez mais gente próxima a ela.
Erich Beting é fundador e CEO da Máquina do Esporte, além de consultor, professor e palestrante sobre marketing esportivo