Todos estamos cansados de escutar que o fã é o bem mais valioso de um clube ou marca esportiva. Em todo o mundo, inclusive e principalmente no Brasil, a paixão por times, atletas e diferentes modalidades tem o poder de impactar diretamente o mercado. Mas sabemos que, de paixão, nenhuma empresa sobrevive. O público apaixonado precisa ser traduzido em dados e receitas para sustentar o setor.
Por anos, o mercado confundiu visibilidade com valor. A indústria foi treinada para celebrar picos de audiência, e não o entendimento do público que os gerou. São milhões de seguidores nas redes sociais, estádios lotados que impressionam, números expressivos, mas que não refletem o real potencial dos fãs em se tornarem consumidores, e pouco dizem sobre a capacidade de um clube ou marca de gerar receita e valor.
É preciso ser objetivo: audiência sozinha não paga holerites. Um jogo de futebol pode ter milhares de pessoas nas arquibancadas, milhões assistindo pela televisão e ser trending topics nas redes sociais, mas, no fim, não gera relevância financeira suficiente para clubes e patrocinadores.
Então, qual é a solução para que a paixão se transforme em dados, e dados se tornem receitas? A pergunta central não pode ser apenas “quantos torcedores temos?”, mas sim “quem é esse público?”. Não de forma generalista, mas conhecendo os gostos, comportamentos, perfis e outras características de cada um dos que torcem, vibram e choram junto do time. O mercado esportivo precisa superar a tentação dos números fáceis e abraçar uma visão mais madura, baseada em conhecimento real do torcedor.
Esse amadurecimento exige transformar dados em estratégia. Curtidas, alcance e visualizações podem até ser um termômetro inicial, mas não sustentam a forma como o mercado esportivo está sendo conduzido para o futuro. O que gera valor é a capacidade de converter paixão em receita, engajamento em fidelidade e audiência em impacto real para clubes, marcas e patrocinadores.
O verdadeiro Retorno sobre o Investimento (ROI) no esporte não está no número de visualizações, mas na mudança de comportamento que uma ação gera: quem comprou, quem voltou ao estádio, quem passou a seguir uma marca ou recomendou o clube a um amigo. ROI, no novo contexto esportivo, é retorno de influência, envolvimento e intenção, não apenas investimento.
Na prática, com as tecnologias que estão presentes no mercado atualmente, conseguimos cruzar informações e traçar perfis completos e dinâmicos dos fãs. E, assim, clubes e marcas conseguem criar campanhas personalizadas, programas de fidelidade mais efetivos e ativações comerciais que realmente conversam com o público.
É possível, por exemplo, descobrir que 28% dos torcedores de um clube têm cachorro e preferem marcas como Adidas e Red Bull. Isso acaba revelando oportunidades de patrocínio e estilo de vida que nenhuma pesquisa tradicional mostraria.
Tal como é possível identificar que a comunidade feminina do clube tem o dobro de interação emocional com conteúdos sobre bastidores do que com os próprios gols. Isso muda toda a estratégia de comunicação.
Deixar de lado as métricas de vaidade não significa abrir mão de dados. Significa dar a eles um novo patamar de relevância, no qual a paixão pelo esporte e informações verdadeiramente úteis andam de mãos dadas. Além de construir negócios sólidos e marcas fortes, ser relevante é também atender expectativas e entregar ao torcedor o que ele espera de seus times, com propósito e experiência.
O artigo acima reflete a opinião do colunista e não necessariamente a da Máquina do Esporte
Ricardo Presa é diretor comercial da Hoopers e responsável pela liderança estratégica de expansão internacional e entrada da startup, nascida no basquete, em novas modalidades esportivas. Antes, atuou em empresas como MyCujoo, Eleven e DAZN
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