O Flamengo costuma se orgulhar de ser o único clube verdadeiramente brasileiro do país. Dono da maior torcida no Brasil, o Rubro Negro gaba-se de, onde quer que jogue, arrebatar multidões.
Essa certeza pode ter guiado a estratégia de marketing do clube de fazer um giro pelo Nordeste nas primeiras rodadas do Campeonato Carioca, iniciado há uma semana. O Flamengo achou quem pagasse a conta de organizar essas partidas, cobrou um valor para não ter custos operacionais e lucrar. Assim, pensou que estaria livre de qualquer problema.
Até agora, porém, o que aconteceu em Aracaju (SE) e Campina Grande (PB) foi um retumbante fracasso. Nenhum dos dois jogos chegou a levar 4 mil torcedores ao estádio, e o que era para ser uma grande estratégia de marca do Flamengo tem se transformado num vexame de marketing.
Mas o que pode ter dado errado?
O ponto principal, que talvez não tenha sido pensado pelos organizadores do negócio, é que não é o Flamengo verdadeiro quem está jogando o Cariocão em capitais nordestinas. A mudança do calendário de 2025 imposta pela CBF no final do ano passado adiantou os Estaduais, e o Flamengo “de verdade” está em pré-temporada na FC Series, disputando amistosos – para 20 mil pessoas – em Orlando (EUA).
Por que, então, manter o time sub-20 representando oficialmente o Flamengo no Estadual, mas em estádios bem distantes da capital?
Caberia aos organizadores do tour postergarem a viagem, à espera do time principal. Mas, além disso, a própria diretoria de marketing do Rubro Negro teria de forçar essa mudança. Não é possível aceitar receber o dinheiro e maltratar o torcedor dessa forma.
A força da marca Flamengo
O Flamengo é gigante. Mas só é o Flamengo se estiver representado por seus principais ídolos.
Essa é uma máxima do esporte desde que ele se tornou um evento massificado. O fã só vai consumir o produto se a ele for entregue o que há de maior qualidade.
Com certeza o Flamengo principal, com suas estrelas, lotaria os estádios em Aracaju e Campina Grande. Mas empurrar o time sub-20 para essas partidas só serve para irritar o torcedor e não entregar o verdadeiro produto para o fã.
Não é por excesso de zelo que grandes times da Europa ou equipes de esportes americanos planejam com muita antecedência qualquer excursão no exterior e só a fazem se todas as condições ideais – ou próxima delas – estiverem atendidas. Eles sabem que, quem paga um preço alto, quer receber o produto original.
O fiasco de público e renda nos dois primeiros jogos do Mengão no Carioca made in Nordeste não significa que o clube não tenha força de marca no Nordeste. É só consequência de uma decisão errada de levar um produto diferente do original para essas partidas.
O Flamengo é gigante. Mas precisa de seus ídolos para ser o verdadeiro Flamengo, sem enganar o torcedor.
Resta saber o que o clube vai fazer para compensar os clientes que receberam uma cópia juvenil de seu time de coração em vez do time que é um bicho-papão de títulos nos últimos anos…