Como será que no futuro as pessoas se lembrarão do dia 3 de maio de 2022? Como a data da fundação da liga nacional que organizaria o Campeonato Brasileiro totalmente gerido pelos clubes? O início de uma revolução no futebol nacional, que promoveria o crescimento exponencial da indústria do esporte no país? Mais uma tentativa frustrada de união entre as principais equipes? Ou nem será lembrada, porque afinal nada aconteceu naquele dia?
Por enquanto, a Libra, apelido da liga brasileira, está mais próxima das últimas alternativas. Apenas seis times da Série A assinaram o documento: Corinthians, Flamengo, Palmeiras, Red Bull Bragantino, Santos e São Paulo. Cruzeiro e Ponte Preta, também signatários da declaração, disputam atualmente a Série B.
Por enquanto, a Libra é um Paulistão de luxo com a participação do Flamengo. Outros 12 times da elite do Brasileirão participaram do encontro, mas decidiram não assinar. Apenas Juventude e Cuiabá não enviaram representantes. Guarani, Sport e Vasco, da segunda divisão, também estavam na conversa e não deram aval à iniciativa.
Entre dirigentes que estiveram no encontro houve reclamação de que era para ser uma conversa inicial. No entanto, apareceu um estatuto pronto para a nova entidade e não houve nem tempo de análise. O que falta para que haja entendimento em favor do bem comum que é o crescimento do futebol brasileiro? Quase tudo.
Não há união entre os clubes. É só olhar o noticiário: o São Paulo se recusou a jogar a final do Paulistão contra o Palmeiras no sábado de olho na possibilidade de prejudicar o rival. Palmeiras e Flamengo tiveram polêmica recente em relação a jogos com torcida única no Brasileirão. E por aí vai.
Para que haja unidade, é preciso empatia visando o crescimento do produto, no caso, o campeonato. É algo que não acontece. Durante muito tempo, a divisão das verbas de direitos de transmissão privilegiou em excesso poucos clubes do eixo Rio-São Paulo em detrimento da competitividade do campeonato.
Houve uma época em que se falou que haveria a espanholização do Campeonato Brasileiro. Ou seja, apenas Flamengo e Corinthians, privilegiados pelas cotas de TV, disputariam títulos. Tal fato não aconteceu. Mas é preciso seguir as boas práticas das grandes ligas europeias e americanas, se os clubes quiserem mesmo fortalecer o Brasileirão e não apenas o próprio caixa.
Até a próxima quinta-feira (12), data da próxima reunião, é possível que “arestas sejam acertadas”, para usar a expressão de Andrés Rueda, presidente do Santos. Mas será preciso muito mais do que a vontade de meia dúzia de times para que a liga de fato aconteça.
Adalberto Leister Filho é diretor de conteúdo da Máquina do Esporte