Nem só de Jogos Paralímpicos vive o Movimento Paralímpico Internacional. Há algo muito poderoso e interessante acontecendo e quem comprovou isso foi o recente Campeonato Mundial de Atletismo Paralímpico, encerrado em Paris, na França, na última segunda-feira (17). E não me refiro apenas aos 35 recordes mundiais batidos ao longo dos 11 dias de competição no Estádio de Charléty ou à fantástica participação do Brasil, com recorde de medalhas (47), superando até mesmo a superpotência China no quadro geral.
Se não é de hoje que natação e atletismo são considerados dois dos carros-chefes dentre os 22 esportes do programa paralímpico de verão, ainda assim, com eventos pouco produzidos, com pequeno interesse da mídia e ativação limitada dos patrocinadores, mesmo os Mundiais dessas modalidades atraíam pouquíssimo interesse do público e das marcas.
Mas o Comitê Paralímpico Internacional (IPC, na sigla em inglês) e a Federação Francesa de Handisport parecem ter sabido aproveitar maravilhosamente bem o fato de o Mundial de Atletismo, pela primeira vez, ter sido realizado na cidade-sede dos Jogos Paralímpicos a um ano dos mesmos. Com cartazes espalhados por toda a região parisiense (estações de metrô, outdoor, ônibus…) e a acertada estratégia de envolver stakeholders governamentais, foram vendidos nada menos do que 120 mil ingressos e credenciados mais de 300 jornalistas, números recordes para o evento, à exceção de 2017, quando os Mundiais convencional e paralímpico foram realizados sob a batuta do mesmo comitê organizador na Inglaterra. Inovações de broadcasting (como a câmera “seguindo” os atletas cadeirantes na pista) tornaram ainda mais atraente o evento também na tela.
Pela primeira vez, transformou-se em show (com DJ e artistas franceses) a hora que antecedeu a abertura da sessão noturna da competição em um palco instalado na arquibancada do estádio. O pódio saiu do centro do campo e foi ao encontro do público, em uma simpática e engajadora “medal plaza” perto da área de ativação dos patrocinadores. Com o slogan “Performance, Plaisir, Partage” (“Performance, Prazer, Compartilhamento”, na sigla em inglês), o Mundial de Paris 2023 contou com uma estratégia esperta nas redes sociais (além de um aplicativo e um jornal digital diário, o simpático Whaou!) para entregar conteúdo em diversos canais, assim como uma parceria multiplataforma com o grupo L’Équipe e uma aproximação inteligente com patrocinadores oficiais de Paris 2024, como Allianz, Le Coq Sportif e EDF, em uma lista de 17 empresas parceiras.
“É clara não só a evolução dos resultados no Mundial Paralímpico, mas também do produto esportivo”, comemorou o presidente do IPC, o brasileiro Andrew Parsons, citando em especial as inúmeras ações de hospitalidade que os patrocinadores fizeram não apenas com clientes e fornecedores, mas também com funcionários, algo que costumava ser escasso nesse contexto.
Com público diverso e ancorado em pilares como inclusão, diversidade e alta performance, o Mundial de Paris 2023 mostrou todo o potencial do esporte paralímpico para muito além dos Jogos Paralímpicos que são disputados a cada quatro anos.
Manoela Penna é consultora de comunicação e marketing, e escreve mensalmente na Máquina do Esporte