A população dos Estados Unidos é de pouco mais de 330 milhões de pessoas. Mais de um terço deles, precisamente 123,4 milhões, estiveram na audiência da grande final do futebol americano no último domingo (11). Com um aumento de 7% em relação ao ano passado, o Super Bowl LVIII tornou-se o programa mais assistido da história da TV americana com a medição atual. Apenas os primeiros passos de seres humanos na Lua, em 1969, podem ter sido vistos por mais gente, já que uma estimativa aponta para algo entre 125 e 150 milhões de espectadores. Mas a medição na época não era tão precisa.
O mesmo aumento já tinha sido observado durante os jogos da temporada regular, com o interesse impulsionado pela fraca oferta de entretenimento causada por uma longa greve de escritores e atores de Hollywood, já que a pausa impacta cinema, streaming e televisão, e até mesmo pelo relacionamento entre a cantora Taylor Swift, artista mais popular do momento nos EUA, e o tight end do Kansas City Chiefs, Travis Kelce. Swift, que esteve em muitos jogos dos Chiefs nessa temporada, incluindo o Super Bowl, aumentou em 9% o público feminino jovem nos jogos da liga.
Mas, se algumas coisas caíram no colo da NFL, outras fazem parte do planejamento de alguns dos executivos mais bem remunerados do esporte mundial.
Houve o aumento do número de jogos nos últimos anos na medida certa, com uma temporada regular maior e uma nova rodada dos playoffs. Além disso, a liga soube equilibrar a oferta de transmissões entre quatro canais de TV aberta (CBS, NBC, ABC e Fox), TV a cabo (ESPN) e streaming (Peacock e Amazon).
À medida que cresce na preferência do público, o streaming vai ganhando mais espaço nas transmissões da NFL. Além do bem-sucedido Thursday Night Football, da Amazon, a temporada teve um jogo de playoff exclusivo no Peacock e a migração do Sunday Ticket da Directv, pelo cabo, para o YouTube TV, que é streaming.
O Super Bowl teve a maior parte da sua audiência na CBS, uma das maiores emissoras do país, mas também pôde ser visto no streaming pelo Paramount+, em espanhol pela Univision e até em uma transmissão para crianças pelo canal a cabo Nickelodeon.
Para além do incrível sucesso entre os americanos, a NFL também avança com seu projeto de internacionalização, com o jogo no Brasil como a grande novidade da próxima temporada, junto à repetição do que tem dado certo na Inglaterra e na Alemanha. Apesar de ainda estar atrás de NBA (basquete) e MLB (beisebol) em exposição internacional, a NFL parece estar tirando a diferença. Até maio, os executivos se debruçarão sobre o calendário e as opções de transmissão.
O NFL+, serviço de streaming da liga, pode ganhar jogos exclusivos, em um teste para que, no futuro, a liga assuma todas as transmissões. Será interessante observar também como serão essas negociações com a expectativa para o supersserviço de streaming exclusivo para o esporte em uma parceria entre ESPN, Fox e Warner Bros. Discovery. A ideia é tentadora para quem tem feito tanto sucesso, porque acaba com o intermediário, mas também aumenta o risco da liga e reduz o potencial de promoção. Serão decisões estratégicas tão complexas quanto chamar uma jogada decisiva na prorrogação de um Super Bowl.
Sergio Patrick é especializado em comunicação corporativa e escreve mensalmente na Máquina do Esporte