Na minha última coluna aqui na Máquina do Esporte, tratei da questão da escassez de autódromos no Brasil e a “síndrome do restaurante sem prato”. Agora, vou escrever sobre outra consequência ruim deste fato: a sinuca de bico em que os promotores dos eventos ficam com poucas praças disponíveis. A consequência deste problema é um calendário desequilibrado, já que as datas também ficam no “overbooking”.
Com isso, as categorias acabam se colocando em situações insólitas. Nesta sexta-feira (26), a Stock Car realizará um treino livre ao mesmo tempo em que ocorrerá a Cerimônia de Abertura de Paris 2024. Os conflitos também acontecerão no fim de semana. No sábado (27), a classificação bate com o primeiro dia de finais do judô e a estreia do basquete masculino do Brasil contra a França; e a corrida sprint será no mesmo horário das finais da natação; Já no domingo (28), a corrida principal terá a concorrência da primeira rodada do tênis e a estreia da dupla Evandro e Arthur no vôlei de praia.
Organizadora da principal categoria do Brasil, a Vicar não conseguiu fugir desses conflitos. Além do primeiro fim de semana das Olimpíadas, a data ainda bate com o GP da Bélgica de Fórmula 1. Aliás, das 12 datas programadas para 2024, 7 delas batem com corridas de F1. E essas datas compartilhadas dificultam muito para que os patrocinadores da categoria, dos pilotos e das equipes consigam retorno de mídia.
Pensando nisso, um bom exemplo vem dos Estados Unidos. Atendendo a um pedido da NBC, uma das quatro grandes redes de TV do país, a Nascar não realizará corridas por duas semanas, justamente para não conflitar com as Olimpíadas. A gigante da mídia dos EUA tem os direitos da reta final da categoria e também detém o principal contrato de televisão com o Comitê Olímpico Internacional (COI). Uma estratégia desenhada para que os eventos não se canibalizem no país.
De volta ao Brasil, tudo isso ocorre depois de uma semana vitoriosa para a Vicar na organização da etapa brasileira do FIA TCR World Tour, no Autódromo de Interlagos, em São Paulo (SP). Foi uma operação desafiadora, com o circuito sendo liberado apenas algumas horas depois do evento do Mundial de Endurance (WEC). E a organizadora conseguiu colocar de pé um evento que deixou os estrangeiros encantados.
Tudo isso mostra a vocação global do Autódromo de Interlagos. E tudo isso exemplificado pelo pódio da segunda corrida do FIA TCR World Tour: um húngaro em primeiro (Norbert Michelisz), um sueco em segundo (Thed Björk) e um chinês em terceiro (Ma Qing Hua). Um evento extremamente bem-sucedido.
Luis Ferrari é sócio-fundador da Ferrari Promo, agência-boutique com ênfase no mercado do esporte a motor, e possui formações em Jornalismo e Direito, extensão universitária em Marketing e pós-graduação em Jornalismo Literário, além de ser empresário de relações públicas e diretor de marketing e comunicação do Club Athletico Paulistano. Ele escreve mensalmente na Máquina do Esporte