A Fórmula 1 chegou aonde pretendia, desde a aquisição da categoria pela Liberty Media. A ideia lá atrás era justamente se tornar um evento relevante também no maior mercado consumidor do mundo, os Estados Unidos. Naquele momento, o público americano já se satisfazia com as categorias locais como a Nascar, a Indy entre tantas outras que tem seus grandes ídolos locais e que atendem a todos os desejos dos americanos já que tem praticamente todas as suas etapas em território americano, enquanto a F1 tinha apenas uma corrida em Austin como parte do seu calendário global.
Não era apenas no mercado americano que a Fórmula 1 estava patinando. Em outros mercados, inclusive no Brasil, a categoria vinha perdendo audiência enfrentando problemas para renovação de seus acordos de televisão e patrocínio. A Liberty Media assumiu a categoria em 2017 com o objetivo de ampliar o público da categoria em mercados onde ainda não tinha uma penetração mais ampla e atrair um público mais jovem, uma vez que a audiência média global da F1 estava acima dos 50 anos. Tudo isso com o objetivo final de ampliar as receitas com a categoria recém adquirida, mas ciente de que este teria que ser um plano de longo prazo.
Um dos primeiros passos na busca pelo aumento do “awareness” e do interesse de um público que não assistia as corridas foi justamente a parceria com a Netflix na produção da série Dirigir para Viver (Drive to Survive). A produção de conteúdo além do ao vivo, com materiais exclusivos e acesso a ambientes e situações jamais vistas fora do circo da Fórmula 1 caiu no gosto do público, tanto o mais aficionado, como também aquela pessoa que sabia o que era a categoria mas nunca havia parado para assistir uma corrida. A F1 saiu do seu mundinho e foi buscar um público lá fora, no mundo do entretenimento, que nunca teria sido alcançado por melhores que fossem as transmissões das corridas ao vivo com todas as possíveis revoluções tecnológicas.
Além do sucesso em mercados onde a Fórmula 1 já tinha um público fiel, a série também despertou o interesse do americano para a categoria. E foi com base neste sucesso que a partir de 2019 que a Liberty Media conseguiu vender os direitos de transmissão nos Estados Unidos, por cerca de 5 milhões de dólares por temporada. Até então, as transmissões das corridas eram cedidas de forma gratuita para as emissoras.
O próximo passo então para o crescimento nos Estados Unidos seria fazer com que o americano se sentisse ainda mais próximo da categoria. E em 2022 tivemos a primeira corrida em Miami que teve uma expectativa enorme em todo o mercado esportivo global, pelo charme da cidade, pela facilidade de acesso de qualquer parte do mundo e pelo ineditismo de uma corrida por lá. O resultado foi positivo para a cidade já que o público visitante gastou mais de 350 milhões de dólares durante a semana do evento, além do investimento de mais de 100 milhões de dólares em salários para as mais de 3000 pessoas que trabalharam diretamente para o evento. E a corrida atingiu a maior audiência da história em solo americano com mais de 2,6 milhões de pessoas sintonizadas na rede ABC, parte do grupo Disney.
Em março deste ano, a Liberty Media anunciou o retorno da Fórmula 1, depois de 40 anos, para um símbolo do entretenimento global, Las Vegas e com isso os Estados Unidos passa a ter, a partir de 2023, 3 provas no calendário em momentos diferentes ao longo do ano, o que sem dúvida ajudará ainda mais no crescimento da audiência e dos investimentos na categoria.
Por conta de todo o boom da categoria nos Estados Unidos, o interesse dos mais jovens e o potencial de exposição no novo acordo de mídia, Zak Brown, diretor executivo da Mc Laren chegou a falar em um aumento de mais de 50% também nos valores de patrocínios às equipes. Isso só mostra que a estratégia da Liberty Media foi muito acertada.
E para coroar este trabalho, no início do mês saiu o resultado da licitação que vendeu os direitos das transmissões ao vivo para o território norte-americano. Empresas como Comcast, Amazon e Disney/ESPN fizeram propostas por estes direitos e a Liberty pode escolher como e com quem trabalhar.
A imprensa internacional afirma que a proposta da Amazon teria passado dos 100 milhões de dólares por temporada. Mas, que por conta de toda a exposição que o acordo com um grupo como a Disney daria, por ter as mais variadas plataformas (TV Aberta, TV paga, Streaming) o acordo foi fechado por uma média de 85 milhões de dólares por temporada. Mesmo assim, um aumento impressionante, fruto de todo o trabalho feito nos últimos anos. Com este acordo os Estados Unidos passam a ser o terceiro maior mercado da F1 quando se fala em receita de mídia, atrás apenas de Reino Unido e Alemanha.
A Fórmula 1 está começando a viver o seu America Dream!