Mudanças no comportamento do consumidor, avanços tecnológicos e maior atenção à saúde e ao bem-estar deram origem ao termo da vez para empresários: wellness.
No discurso do wellness, o esporte deixa de ser apenas esporte. Ele faz parte de um setor amplo e multidimensional, que inclui atividade física, esportes, nutrição, suplementos, saúde preventiva, bem-estar mental e até beleza e cuidados pessoais.
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Segundo o Global Wellness Institute, o PIB desse setor deve chegar a US$ 9 trilhões até 2028, crescendo 7% ao ano desde 2023. Já a Precedence Research projeta US$ 11 trilhões até 2034. Um mercado gigantesco e em expansão.
E é tudo junto no mesmo barco.
Parte de nós foi, basicamente, “sequestrada” por um discurso mercadológico melhor aceito por ser gigante.
No mercado de running, por exemplo, devemos à cultura do bem-estar um crescimento sensível de volume de atletas amadores, chegando a 14 milhões de corredores no Brasil.
Com isso, novos negócios surgem.
Wellness e Badness
Colocar o esporte dentro do wellness tem uma vantagem: atrai investimentos. É mais fácil justificar capital para um mercado de trilhões do que para nichos menores. Esse ciclo (que deve ser secular) impulsiona empreendedorismo e novos negócios.
No Ticket Sports, só este ano, tivemos contato com centenas de novos organizadores de eventos esportivos. Fechamos contrato com mais de 350, a maioria que nem sabíamos da existência porque surgiram este ano.
Nada menos do que 90% desses eventos são de corridas de rua, mas também é relevante o crescimento do triatlo e das corridas de trilha (trail run). Só o ciclismo que não tem tanto evento novo, mas também é uma modalidade que passa por um bom momento de consolidação.
O lado ruim dessa história é a criação de mercados inundados, bolhas dentro de bolhas e a falsa sensação de baixas barreiras de entrada.
Conseguimos ver algumas bolhas e outras realidades
O esporte é, sem dúvida, o carro-chefe do mercado wellness, especialmente no que diz respeito à atividade física, ao fitness e ao bem-estar corporal.
Já disse em diversas ocasiões que o setor de eventos esportivos deve crescer no mínimo por um século. Mas é claro que isso não significa que crescerá no ritmo que os empreendedores gostariam.
Outros setores têm crescimento interessante e, por serem de vanguarda, devem se preocupar mais com bolhas: pickleball, inteligência artificial (IA) para treinamento esportivo e gummies de creatina. Lógico que muitas empresas ficam, mas, às vezes, o mercado fica parecendo maior do que é de verdade se colocado dentro da mesma caixa.
É fácil abrir uma loja on-line com programas pré-prontos.
É fácil construir três quadras de pickleball onde antes existia uma de tênis.
A percepção de crescimento rápido cria um oceano de modismos e ciclos perfeitos de entrantes, fracassos e sobreviventes. Os últimos prosperam.
O wellness encanta e atrai cifras gigantescas. Mas falando de esporte, precisamos de contexto, estudo e empreendedorismo. Afinal, o bem-estar é trabalho do esporte, não apenas dos hospitais.
Daniel Krutman é empreendedor e publicitário. Formado em Comunicação Social, pós-graduado em Ciências do Consumo e mestre em Marketing Digital, ocupa atualmente o cargo de CEO da plataforma de vendas de inscrições Ticket Sports, além de ser fundador da The Squad Academy, hub de conteúdo para o esporte
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