Quando Emerson Fittipaldi se aventurou nos ovais norte-americanos nos anos 1980, a Fórmula Indy caiu no gosto do público brasileiro na voz do saudoso Luciano do Valle.
Até então o torcedor brasileiro tinha sua cultura no esporte a motor orientada para as pistas europeias, onde, mesmo nos anos mais virtuosos e imprevisíveis da Fórmula 1, a categoria nunca teve mais que um punhado de postulantes a vitórias e menos ainda aos títulos de cada temporada.
Eis que surgem na TV, no meio da tarde, corridas muito movimentadas, com diversas trocas de posições.
É verdade que a profusão de bandeiras amarelas e entradas do “pace car” causavam algum estranhamento na época. Mas hoje tais intervenções já se tornaram há tempos corriqueiras também na Europa, e a F1 chegou até mesmo a recorrer ao “safety car virtual” em seus regulamentos mais recentes.
Depois do sucesso de Emerson e da Fórmula Indy na tela da Band, muitos outros brasileiros repetiram o caminho dos monopostos nos Estados Unidos. Foram trajetórias de muito sucesso, e as corridas eventualmente foram para o SBT, que investiu no produto com equipes in loco para inúmeras transmissões, da mesma forma como a Globo fazia com a F1.
Depois do bicampeonato do pioneiro Fittipaldi nas 500 Milhas de Indianápolis, Helio Castroneves e Tony Kanaan também conquistaram a maior corrida do mundo. Helio realizou o feito por quatro vezes.
Então, vieram algumas temporadas de menos visibilidade e interesse da Indycar no Brasil. Curiosamente, em um período em que o país não teve representação na F1.
Em 2025, com Gabriel Bortoleto, o automobilismo voltou a empolgar o torcedor local, sempre muito mais disposto a seguir uma modalidade quando há um compatriota com alguma chance de destaque.
E, em 2026, é considerável a chance de a bandeira verde e amarela voltar a ter representação nas duas maiores categorias do planeta. Na última quarta-feira (1º), Felipe Nasr testou novamente pela equipe Penske, a mesma que consagrou Emerson há décadas e que, no universo da Indycar, se assemelha ao papel que a Ferrari tem na F1. O brasiliense tem contrato com o programa da Porsche em corridas de endurance nos EUA e em Le Mans, de modo que é incerto se poderia vir a assumir em tempo integral um cockpit nos ovais dos EUA.
O segundo melhor tempo no teste em Mid-Ohio ficou com outro brasileiro: Caio Collet. Este, diferentemente de Nasr, colocou há dois anos todas as suas fichas em um plano de carreira visando a Indycar, realidade que parece estar próxima de se concretizar.
Após temporadas de monopostos na Europa em categorias como F-Renault, Fórmula 4 e Fórmula 3, Collet chegou a ter status de piloto da Academia Alpine e trilhava um caminho similar ao de seu amigo, o australiano Oscar Piastri, que estava um par de anos à sua frente na escalada rumo à F1.
No entanto, o caminho que se abriu para o hoje piloto da McLaren e favorito ao título mundial, acabou, por diversos motivos, se fechando para Collet.
O paulista, então, fez como Emerson já havia feito décadas atrás. Atravessou o Atlântico e conquistou vitória e terceiro lugar na classificação geral em seu ano de estreia na Indy NXT, principal categoria de desenvolvimento para a Indycar, culminando com o prêmio de estreante do ano em 2024. Em 2025, ganhou corrida novamente e chegou até o fim do calendário disputando o título. Ficou com o vice.
Mas a trajetória foi reconhecida. Veio o convite da equipe AJ Foyt Racing, e Collet acelerou o carro da Indycar pela primeira vez na semana passada.
Enzo Fittipaldi deve testar também ainda neste ano, bem como Mick Schumacher.
É uma bem-vinda perspectiva de renovação do grid, que já vai contar com o norueguês Dennis Hauger, outro que bateu na trave da F1, integrou o programa da Red Bull por anos e foi apadrinhado pela Andretti para ganhar o campeonato da Indy NXT e subir para a categoria principal.
No Brasil, são ventos bem-vindos, assim como a possibilidade de a categoria voltar para a Band em 2026.
Da mesma forma que a Indy fez bem para Emerson, faria bem para Collet, Enzo, Mick Schumacher e outros que ficaram órfãos da F1. Além disso, a emissora paulista teria novamente um produto premium para chamar de seu e dar o devido tratamento ao espectador que conseguiu cativar com os últimos anos de transmissão da F1, categoria que já tem data marcada para regressar à Globo na abertura da temporada 2026.
Luis Ferrari é sócio-fundador da Ferrari Promo, agência-boutique com ênfase no mercado do esporte a motor, e possui formações em Jornalismo e Direito, extensão universitária em Marketing e pós-graduação em Jornalismo Literário, além de ser empresário de relações públicas
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