Se você leu o título e pensou no evento do Catar, deixa eu te contar uma história.
Trabalhar com esporte pode te dar a oportunidade de presenciar acontecimentos históricos. No último dia 8, em Trestles, na Califórnia, pude acompanhar de perto mais um capítulo sensacional da seleção brasileira de surfe, ali representada por Tati Weston-Webb, Ítalo Ferreira e pelo grande campeão Filipe Toledo.
Em um ano em que Gabriel Medina e Yago Dora quase não competiram, o Brasil terminou a temporada com cinco nomes entre os 10 melhores do mundo no masculino e com a Tati em 3º lugar no feminino.
O WSL Finals de 2022 era muito aguardado, um ano em que o corte após a quinta etapa foi implantado, tínhamos a expectativa de superar a audiência de 2021 que até então tinha sido o recorde histórico pra um evento de surfe, e, no Brasil, pela primeira vez em muitos anos, uma edição sem Gabriel Medina entre os cinco melhores do ano e sem chances de disputar o título.
No surfe, trabalhamos com janelas de espera para cada evento. Nesse caso, o WSL Finals tem duração de um dia e poderia ocorrer entre 8 e 16 de setembro. E nossa previsão dizia que o melhor dia do período seria o próprio dia 8.
Tudo ótimo e preparado até que, na noite do dia 6 para o dia 7, uma chuva tomou conta da região e fez a maré avançar. Avançou a tal ponto, aliás, que removeu parte da fixação da estrutura onde ficava a Red Bull Athlete Zone, nossa área de atletas.
Equipe de produção a postos, força-tarefa, muita torcida para a chuva não voltar e, um dia depois, na madrugada do dia 8, estava lá, aprovada pelos bombeiros, a fixação da estrutura de atletas recuperada e pronta pra receber nossas estrelas com segurança.
No oceano, vimos um espetáculo da australiana Stephanie Gilmore ganhando seu oitavo título mundial, as vitórias sensacionais de Ítalo Ferreira em cada uma de suas baterias até chegar na final e a histórica final brasileira entre Ítalo Ferreira e Filipe Toledo, que teve o paulista de Ubatuba como grande campeão. Parabéns mais uma vez ao Filipinho, que mereceu muito.
Fora da água, uma explosão de audiência e repercussão, estabelecendo um novo recorde e a consolidação do modelo WSL Finals.
Esta foi a sexta conquista do Brasil nas últimas oito temporadas e construída por quatro atletas diferentes: Gabriel Medina (três vezes), Adriano de Souza, Ítalo Ferreira e Filipe Toledo. Um feito dessa geração espetacular que nenhum outro esporte no nosso país conseguiu até aqui.
Se você leu o título do artigo e pensou no Filipe, em Trestles ou numa prancha, você já entendeu tudo.
Brasil, o país do surfe!
Ivan Martinho é CEO da World Surf League (WSL) na América Latina e escreve mensalmente na Máquina do Esporte