Pular para o conteúdo

O recado está dado: CBF terá mudanças à vista

Na primeira entrevista oficialmente como presidente da entidade, Samir Xaud já deixou recado para quem lhe fez oposição

Samir Xaud foi eleito como novo presidente da CBF neste domingo (25) - Rafael Ribeiro / CBF

Samir Xaud deu, finalmente, suas primeiras declarações como presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF). Ao que se pode perceber do “primeiro ato”, algumas mudanças significativas virão pela frente, e elas poderão mexer um pouco mais no tabuleiro de xadrez que se joga desde os desmandos de poder da Era Caboclo em diante.

LEIA MAIS: Eleição de Samir Xaud na CBF fortalece Sarney e Zveiter e enfraquece Paulistão

A decisão de reduzir para 11 datas os Estaduais é um golpe duro no campeonato que mais arrecada no país, o Paulistão. Único presidente de federação a não comparecer à eleição de Xaud, Reinaldo Carneiro Bastos tem no Paulistão com 16 datas o Estadual que mais dinheiro consegue arrecadar.

Caso a proposta da nova CBF vá adiante, ele terá de reinventar os contratos que foram fechados tendo como base 16 datas. Enquanto isso, nos outros Estaduais, a sensação é de alívio. Menos data representa menos dinheiro perdido e mais tempo para que os clubes joguem os regionais (Copa Verde e Copa do Nordeste, principalmente), que dão mais dinheiro e preparam melhor para competições nacionais.

É, no fim das contas, uma jogada dupla de maestria do novo presidente da CBF. Ele dá mais força aos clubes, melhora um pouco a vida das federações e, ainda, dá uma pequena pisada no calcanhar de quem se opôs a ele.

Da mesma forma, a proposta de dar força e apoio aos clubes para a criação da liga é a típica situação que transforma uma limonada a partir de poucos limões.

Qualquer um que trabalha no mercado sabe que a liga de clubes que comanda o Brasileirão só não existe porque a incompetência impera entre as cartolas furadas do nosso futebol. Desde junho de 2021, a CBF permite aos clubes organizarem a liga. E, desde então, o que vemos é um racha estúpido e contraproducente entre os dirigentes, que duelam por poder e dinheiro sem perceber que eles perdem as duas coisas ao se dividirem em dois blocos econômicos negociando separadamente suas propriedades.

A liga não vai sair. Se sair, terá poder apenas de organizar campeonato, sem qualquer unidade de negociação de direitos e outras propriedades. Com isso, mais uma vez, a maior fatia de dinheiro ficará na mesa, em um jogo de faz de conta que só evidencia a falta de preparo de quem tenta se mostrar vanguardista.

Xaud e a CBF ficarão, no fim das contas, como entusiastas da mudança, que só não acontece de fato porque não existe qualquer capacidade dos clubes de se organizarem.

Mas a grande mudança que virá dentro da CBF é a tal “descentralização” de poder que Xaud bate na tecla desde a primeira entrevista que concedeu, ainda pré-candidato, à Máquina do Esporte: ele estará presidente da CBF, mas as decisões serão tomadas por uma espécie de colegiado que reduzirá – e muito – a oposição ao que for decidido.

Em meio a esse cenário, caso Carlo Ancelotti consiga cumprir as expectativas e fazer o time masculino do Brasil jogar bola e ir bem na Copa do Mundo, os problemas de fora de campo ficarão ainda mais em segundo plano.

Fazia tempo que um presidente não chegava à CBF em meio a um quadro que aparenta ser de tempestade à vista. Mas nunca teve tanta chance de a bonança vir em tempo recorde. As mudanças estão colocadas. E elas vão tirar o peso das costas da CBF.

No fim das contas, existe uma grande possibilidade de, em 2027, após a Copa do Mundo Feminina, Samir Xaud ser aclamado como a modernidade que faltava ao futebol brasileiro. Ele já começou a fazer a primeira mudança. Deixou claro que não haverá espaço para oposição. Mas fará isso mostrando que está modernizando a CBF.

Erich Beting é fundador e CEO da Máquina do Esporte, além de consultor, professor e palestrante sobre marketing esportivo